ENTRE A PÓLVORA E O CAMINHO MARÍTIMO PARA O HUAMBO

O Presidente da República, do MPLA e Titular do Poder Executivo defendeu, este sábado, o aumento da produção interna de bens e serviços e, consequentemente, a redução das importações. Finalmente João Lourenço descobriu a pólvora. Obrigado senhor general. Só falta o caminho marítimo para o Huambo. Agora já cheira a… paraíso.

Ao discursar na cerimónia de posse dos membros do instrumento decorativo do MPLA que dá pelo nome Conselho Económico e Social (CES), João Lourenço referiu que para o cumprimento destes objectivos é necessário contar com o sector privado. Quem tem um presidente capaz de fazer tais descobertas não precisa de outro líder. Cada vez mais ele não é o representante de “deus” em Angola. É o próprio “deus”.

“É o sector privado que tem que produzir, embora o Estado não possa exonerar-se das suas responsabilidades”, afirmou o Presidente, que orientou os membros do CES a ajudarem o Executivo a encontrar melhores soluções para o cumprimento desta missão, bastando para isso seguir o programa que o MPLA tem implantado nos últimos 47 anos.

O CES é, supostamente e apenas de forma decorativa, um órgão autónomo de reflexão de questões de especialidade macroeconómica empresarial e social à disposição do Presidente da República (como se ele precisasse disso), para efeitos de consulta de matérias do interesse do Executivo e, é claro, quando quiser vender a ideia de que Angola é aquilo que não é – uma democracia e um Estado de Direito.

O general João Lourenço defendeu ainda um “casamento prefeito”, segundo escreve a Angop (se calhar queria dizer “perfeito”), entre o Executivo e o sector privado, para que cada um cumpra com a parte que lhe compete.

“Só assim, conseguiremos aumentar a produção interna de bens e serviços e aumentar o nível das exportações do país, de forma mais diversificada”, sustentou.

Para o Titular do Poder Executivo, o país não pode limitar-se a exportar matérias em bruto, como o petróleo e os diamantes, mas diversificar a qualidade dos produtos exportados. Hum! Mas exportar o quê? O que mais o MPLA diversificou foi a pobreza, a miséria, a fome, as desigualdades sociais e os exemplos de que os seus dirigentes têm o cérebro ligado aos intestinos. Será que isso tem cotação nos mercados externos?

O general João Lourenço lembrou que o Executivo aprovou alguns programas, com realce para o do aumento da produção de grãos, de fomento da pecuária e a transformação da carne para consumo, o que vai reduzir a importação destes bens. Claro. Claro. Ainda não foi desta que criou o PPCRB (Programa de Plantação das Couves com a Raiz para Baixo), mas com a ajuda deste CES (como de outros) lá chegará nos próximos 53 anos.

Neste sentido, defendeu um maior investimento na construção de mais matadouros no país, para garantir que a carne chegue à mesa dos consumidores em perfeitas condições de consumo. Digam lá que não é de mestre? Só mesmo um génio poderia chegar a esta conclusão. Todos os angolanos (os do MPLA, é claro) devem estar em delírio e a gritar, de joelhos, “que o nosso rei nunca nos abandone”!

O Chefe de Estado solicitou igualmente aos membros do CES para ajudarem o Executivo (como se isso fosse preciso) a pensar nas melhores soluções para colocar a indústria da madeira ao serviço do país, não só com vista a proteger melhor as florestas, como também criar mais emprego.

“A indústria de móveis deve ser desenvolvida. Actualmente, tirando a produção de carteiras escolares, pouco mais se faz”, observou. E que tal recordar o que, também nesta matéria, os portugueses faziam antes de o MPLA comprar o país ao preço da uva mijona?

No capítulo social, o Presidente continuou a mostrar toda a sua intelectualidade e falou da necessidade de melhores soluções para se expandir a educação, o ensino, a saúde, o desporto e a cultura a todos os cantos do país, com a construção de mais infra-estruturas.

Integram o CES 54 membros, entre especialistas reconhecidos nas áreas das ciências económicas e sociais, empresários e gestores com experiência notável a nível nacional e internacional.

O CES permite que o Titular do Poder Executivo possa receber contribuições da comunidade científica, académica, empresarial, das cooperativas e associações que se ocupam do desenvolvimento socioeconómico do país.

MAIS DO MESMO… PARA MATUMBOS!

Em 29 de Setembro de 2020, João Lourenço considerou que perante o “mar de dificuldades” decorrentes do baixo preço do petróleo e, na altura, da Covid-19, a “única saída” que restava a Angola é “produzir internamente tudo o que as potencialidades do país permitirem”.

Se, na altura, o “querido líder” demorou 45 anos a descobrir a saída, é verosímil que hoje demore mais 53 anos a concretizar-se.

“Estimular a produção interna de bens e de serviços, contando com o investimento privado nacional e estrangeiros na agricultura, nas pescas, na indústria, no turismo, na imobiliária e outros ramos da economia nacional”, afirma João Lourenço. Há 47 anos que o MPLA sabe o que é preciso fazer (antes de 1975 já os portugueses estavam a fazer), mas continua no dilema do “sim, não, talvez, antes pelo contrário, todavia, não obstante, antes pelo contrário”…

Em Setembro de 2020, o Presidente, que falava no Palácio Presidencial, em Luanda, na cerimónia de posse dos membros do CES de então, sublinhou que o estímulo da produção interna deve concorrer para o “aumento da oferta de emprego”, sobretudo para os jovens.

Pelo menos 46 pessoas, entre economistas, académicos, ambientalistas, analistas, bajuladores e demais actores da sociedade civil angolana compunham o Conselho Económico e Social de então, criado na altura graças à visão messiânica de João Lourenço e que, na tomada de posse dos seus membros, disse contar com o saber e a experiência das personalidades que integraram o CES.

“Para juntos encontrarmos as melhores saídas desta situação difícil em que nos encontramos”, afirmou o general João Lourenço, sublinhando: “Mas que será ultrapassada se trabalharmos unidos e com optimismo e esperança em dias melhores”.

“A tempestade passará, mas a bonança só vem com o trabalho organizado e abnegado dos melhores filhos da pátria, daqueles que procuram fazer bem o que sabem fazer, colocando esse saber em prol do desenvolvimento económico e social do país”, notou João Lourenço com uma perspicácia quase… divina. E se for possível que os “melhores filhos da pátria” sejam do MPLA, então a salvação e o paraíso estarão aí mesmo ao dobrar da esquina.

O Presidente manifestou também confiança aos membros do Conselho Económico e Social, referindo: “Juntos descobriremos as oportunidades que se escondem por detrás do que aparenta só serem dificuldades”. “Descobriremos juntos as formas de criar riqueza e acabar com a pobreza”, observou.

Por modéstia, uma das suas muitas características, o Presidente não falou na possibilidade de, juntos, se descobrir o caminho marítimo para o Huambo. Será desta?

Num olhar às dificuldades mundiais, agravadas pela queda do petróleo e pela Covid-19, com reflexos negativos igualmente para a condição socioeconómica de Angola, referiu que a situação “obriga a ser cada mais engenhosos e criativos”.

Salientando que todos pretendem “o melhor” para Angola, “independentemente de quem tenha o mandato do povo para governar”, realçou que ao longo dos três anos de mandato (estávamos em 2020) à frente do poder em Angola, o executivo tem procurado “sempre trabalhar com a sociedade civil organizada”. Ou seja, a sociedade civil organizada opina mas quem decide é João Lourenço.

“Com as ONG, igrejas, associações profissionais e empresariais que nos têm ajudado a encontrar os melhores caminhos na solução dos problemas económicos e sociais que enfrentamos”, apontou.

Na altura os economistas Alves da Rocha, Carlos Rosado de Carvalho, José Severino e Precioso Domingos, o ambientalista Vladimir Russo e a activista e defensora dos direitos da mulher Delma Monteiro foram algumas das personalidades escolhidas para integrar o CES.

Mostrando ao que iam, os membros do Conselho Económico e Social enalteceram a criação do órgão considerando que o mesmo seria um “espaço privilegiado de influência de políticas públicas” e onde João Lourenço teria “melhor informação para decidir”. Pois! Viu-se. Já estamos no paraíso, segundo João Lourenço.

“Isso pode ser considerado um passo, num bom caminho, este Conselho tem um conjunto de pessoas que pensam pela própria cabeça e que dizem aquilo que pensam, e é isso que espero que os conselheiros façam e que eu pessoalmente vou fazer junto do Presidente”, afirmou o economista Carlos Rosado de Carvalho. E como não é pecado… esperar é uma qualidade. Aliás, em Angola não se aplica o adágio popular português que nos diz que “quem espera desespera”. Por cá só vale o que afirma que “quem espera sempre alcança” (se for do MPLA)… nem que seja na santa paz da eternidade.

Para o também jornalista, um dos 46 membros que compunham o CES, o chefe de Estado angolano não vai ter de fazer aquilo que os conselheiros disserem. “Não vamos dizer aquilo que o Presidente quer ouvir, mas vamos dizer aquilo que pensamos e dar um contributo e, no caso de economistas, tenho a certeza de que o Presidente da República vai ter melhor informação para decidir”, acrescentou.

Já Delma Monteiro, directora executiva da Associação Observatório de Políticas Públicas da Perspectiva do Género (Assoge) angolana, também empossada, considerou o conselho como um “espaço privilegiado de influência de políticas públicas”.

“Queremos acreditar que poderemos dar um contributo real para que as políticas públicas tragam melhorias palpáveis na vida das mulheres economicamente vulneráveis do país”, adiantou. A defensora dos direitos da mulher “zungueira”, afirmou também que a Assoge, que defende maior inclusão social, constata que “vários programas aprovados ao longo do tempo acabaram sendo excludentes à mulher ‘zungueira’”.

Por seu lado, a economista e docente universitária Laurinda Hoyggard assinalou igualmente a importância do Conselho Económico e Social, composto por várias sensibilidades da sociedade civil angolana, para o país.

“Trata-se da intenção de enriquecer os contributos para que cada vez tenhamos uma vida melhor para o nosso país e todas as pessoas”, disse.

Os membros do Conselho Económico e Social deveriam, aliás, fazer o que João Lourenço recomendou ao Conselho da República, ou seja que conjuguem bem o verbo reflectir… e estejam calados.

Para reflectir está cá quem pode e manda: o querido líder, general João Lourenço.

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