CARRADAS DE MERCENÁRIOS WAGNER REGRESSAM A ÁFRICA

Várias centenas de “experientes” combatentes do grupo de mercenários russo Wagner chegaram à República Centro-Africana para “garantir a segurança” antes do referendo de 30 de Julho, anunciou hoje um grupo ligado àquela formação de mercenários.

A Comunidade de Oficiais para a Segurança Internacional (COSI) divulgou hoje na rede social Telegram: “Um outro avião chegou a Bangui com instrutores para trabalhar na República Centro-Africana (RCA). A rotação prevista prossegue. Várias centenas de profissionais experientes da companhia Wagner juntam-se à equipa que trabalha no país”.

“Os instrutores russos continuarão a ajudar os militares das Forças Armadas Centro-Africanas e as forças da ordem da RCA a garantir a segurança durante a preparação do referendo constitucional previsto para 30 de Julho”, lê-se no comunicado.

Juntamente com o comunicado, a COSI publicou uma fotografia que mostra pelo menos trinta pessoas mascaradas e com uniforme militar em fila, no que parece ser uma pista de aterragem de um aeroporto.

Segundo os Estados Unidos da América, a COSI é uma empresa de fachada do grupo Wagner na República Centro-Africana. É dirigida por um russo, Alexandre Ivanov, que se encontra sob sanções americanas desde Janeiro.

Em comunicado, a COSI declarou que os seus instrutores estavam a treinar as forças de segurança centro-africanas há “mais de cinco anos” e que tinham assim ajudado a “melhorar o nível geral de segurança” no país.

No início de Julho, várias fontes estrangeiras afirmaram que um número desconhecido de mercenários da Wagner estava a deixar a República Centro-Africana, uma afirmação firmemente negada pelo governo deste país.

O estatuto da empresa paramilitar privada e a continuação das suas operações são incertos desde o seu motim abortado na Rússia, a 23 e 24 de Junho. Mas as suas intervenções no estrangeiro, nomeadamente na Síria e em vários países africanos (Sudão, República Centro-Africana, Mali), não foram até agora publicamente postas em causa.

Logo que foi anunciado o fim do motim, Bangui declarou que as actividades da Wagner “continuariam”.

O Grupo Wagner, liderado pelo oligarca russo Yevgeny Viktorovich Prigozhin, é uma organização paramilitar e também uma empresa privada que presta serviços de segurança, trabalha para quem pagar melhor e presta-se a todos serviços. Tem um gosto especial em negociar milionariamente com dirigentes negros e em matar… negros.

Com o fim das suas operações militares na Ucrânia os mercenários da Wagner voltam a apostar no aprofundamento da presença em África. Pelos vistos, repita-se, é mais rentável e seguro negociar com dirigentes africanos e matar negros do que matar brancos.

Num anúncio público divulgado em Abril, a Wagner abria vagas para mercenários para contratos de nove a 14 meses em África, havendo relatos não confirmados da presença dos seus mercenários também no Burkina Faso e em Moçambique.

A Bloomberg, por exemplo, escreve que, de acordo com relatórios dos serviços de inteligência italianos, o aumento da presença do grupo no Norte de África e na África Ocidental pode fazer aumentar o fluxo de migrantes para a Europa.

Nas palavras do Presidente da França, Emmanuel Macron, ditas em África em Fevereiro, a Wagner é “o seguro de vida dos regimes falhados” e é “um grupo de mercenários criminosos”.

O grupo é acusado de inúmeras violações dos direitos humanos por várias organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas e a União Europeia.

Segundo a Administração norte-americana, “o grupo Wagner explora a insegurança em todo o mundo, cometendo atrocidades e actos criminosos que ameaçam a segurança, a boa governança, a prosperidade e os direitos humanos das nações, além de explorar os seus recursos naturais”.

Ao envolver-se nesses conflitos em momentos em que os países ricos em recursos estão a atravessar uma instabilidade significativa, conseguem criar fluxos de capital para eles próprios e participar no comércio e transporte de mercadorias. Acredita-se que há muitas empresas a integrar uma rede de criação de estruturas de financiamento para o grupo Wagner através do comércio ilegal de diamantes e ouro, entre outras coisas.

“As entidades visadas na República Centro-Africana (RCA), Emirados Árabes Unidos (EAU) e Rússia envolveram-se em negociações ilícitas de ouro para financiar o grupo Wagner na manutenção e extensão das suas forças armadas”, afirmam os EUA.

No Dubai, os EUA sancionaram uma empresa por envolvimento na importação de ouro da República Centro Africana e pelo pagamento ao grupo Wagner em dinheiro enviado directamente para a Rússia. Uma empresa russa também foi sancionada por essa razão.

“Os EUA continuarão a visar os fluxos de receita do grupo Wagner para limitar a sua expansão e a violência em África e em qualquer outro lugar”, sublinham.

O grupo Wagner foi crucial para a invasão militar da Rússia na Ucrânia, e também foi crítico para outras medidas disruptivas do governo russo no passado.

A Agência de Investigação da Internet da Rússia ou IRA, que se tornou famosa por causa do papel nas eleições presidenciais de 2016 que levaram à vitória de Donald Trump e que é amplamente citada como uma fonte importante de desinformação russa e de campanhas de influência maligna, foi financiada pelo próprio Prigozhin.

O grupo Wagner continua a desempenhar um papel colossal na guerra em curso no Mali, um país da África Ocidental que vive uma grande instabilidade desde o golpe militar de 2012, quando as regiões do norte tentaram declarar a independência.

Andrey Ivanov, um executivo do grupo Wagner, foi acusado de contrabandear armas, minerais e outras coisas para o governo do Mali.

Prigozhin criou um ramo separado do grupo Wagner focado exclusivamente na ingerência em África, chamado Africa Politology (Politologia em África).

Composto por uma equipa do que dizem ser especialistas em África e criado em 2018 ou 2019, o grupo contrata especialistas em relações públicas para exercer influência a favor do grupo Wagner no continente.

O jornal russo Kommersant descreveu as actividades da Africa Politology como consistindo numa “pesquisa social no continente, incluindo Madagáscar, África do Sul, Quénia e muitos outros países africanos”, com o objectivo de influenciar as eleições. A organização é particularmente activa antes das eleições em países africanos.

Embora muitos se refiram ao grupo Wagner como uma entidade única, na verdade é uma extensa rede de empresas ligadas ou que colaboram com o Concord Group de Prigozhin.

Folha 8 com Lusa

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