AMPLIAR UMA RELAÇÃO (EXTRA)ORDINÁRIA

O órgão oficial do MPLA (Jornal de Angola) revela que, no dizer do embaixador luso, Francisco Alegre Duarte, Angola e Portugal continuam a manter uma relação de amizade e respeito com resultados extraordinários no plano económico e financeiro, materializada com avanços decisivos sobre questões da segurança social, educação e o reforço da presença consular portuguesa no país.

Francisco Alegre Duarte, que falava por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, mostrou-se orgulhoso com o alcance histórico do convite endereçado, conjuntamente, pelo (ainda) primeiro-ministro António Costa e pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, ao Chefe de Estado angolano, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, general João Lourenço, para participar nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.

De acordo com Francisco Alegre Duarte, o convite, a par do restauro da Fortaleza de São Francisco do Penedo, na zona costeira da Baixa da cidade capital do país, que albergará o futuro Museu da Luta de Libertação Nacional, simboliza a “maturidade das relações entre os dois Estados, baseada na igualdade e respeito mútuo”.

O embaixador disse que os portugueses pretendem partilhar esses resultados com os parceiros angolanos, a quem agradecem “toda a abertura, disponibilidade e empenho do Governo angolano”.

Desde que assumiu o cargo em Angola, o diplomata referiu que tem procurado ser mais presente, visível e próximo das comunidades portuguesas residentes em Angola, o que certamente lhe retira tempo para conhecer a vida dos angolanos reais, caso dos 20 milhões de pobres ou dos cinco milhões de crianças que estão fora do sistema de ensino.

Francisco Alegre Duarte, filho do político socialista, velho e querido amigo do MPLA, Manuel Alegre, ressaltou que as realizações alcançadas com a estabilização e o alargamento da linha de crédito, compromisso sobre a Segurança Social, lançamento das obras do novo Consulado de Portugal em Benguela e da Escola Portuguesa no Lubango, resulta de muitas dezenas de encontros e visitas, em especial às empresas lusas.

Por sua vez, a ministra da Coesão Territorial de Portugal, Ana Abrunhosa, disse que foi com muita emoção que regressou ao país que a viu nascer. Angola e Portugal, afirmou, continuam a manter sólidas as relações que se observam nos mais variados domínios, no espírito de um intercâmbio saudável e de cooperação alinhada nos princípios e objectivos de uma relação de cooperação permanente e fraterna.

Os portugueses, lembrou, estão a celebrar as boas relações económicas existentes entre os dois povos, tendo em conta o imenso potencial angolano ainda por ser explorado em outros sectores importantes para o desenvolvimento económico do país.

Ana Abrunhosa disse que Portugal continuará a transmitir a sua experiência, fundamental nas áreas reconhecidas, nomeadamente agrícola, têxtil, calçado, farmacêutica, turismo, energias renováveis e tecnologias de informação e comunicação.

Quando tomou posse, 9 de Março de 2022, Francisco Alegre Duarte destacou a relação económica “densa” entre os dois países, sublinhando que Angola pode contar com Portugal para apoiar a diversificação económica, algo que o MPLA tenta fazer há 48 anos sem sucesso…

“Sabemos que a diversificação económica de Angola é uma prioridade e disse ao senhor Presidente que podem contar connosco, podem contar com Portugal. O que nós queremos é criar, em conjunto com Angola, um espaço de prosperidade partilhada em que as nossas empresas, a nossa comunidade, a comunidade luso-angolana, ajudem a criar riqueza e emprego”, disse Francisco Alegre Duarte, após receber as cartas credenciais do Presidente, general João Lourenço.

O embaixador assinalou que a diversificação económica “é ampla” e oferece oportunidades às empresas portuguesas, em vários campos, desde a construção à distribuição, bem como a indústria e o sector agro-florestal.

“Temos uma ligação económica densa que nos une e é estruturante para ambas as partes e resulta da profunda empatia que há entre nós, em termos humanos, afectivos, históricos e culturais”, reforçou.

Francisco Alegre Duarte mostrou-se (quem diria, não é?) “muito feliz” por estar de novo em Angola onde já tinha estado colocado como diplomata.

“Ninguém esquece a cor desta terra, para mim é uma grande responsabilidade e, graças aos meus amigos angolanos, sinto que tenho aqui uma casa, tal como acontece para os angolanos em Portugal”, disse aos jornalistas.

O diplomata sublinhou, por outro lado, que “há muito para fazer” na “relação especial entre Angola e Portugal” que abrange várias dimensões da cooperação governativa, incluindo educação, justiça, defesa, saúde, cultura e promoção da língua, bem como a concertação político-diplomática no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Nações Unidas e União Europeia.

Francisco Alegre Duarte transmitiu igualmente a João Lourenço saudações do seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, como também do seu homólogo primeiro-ministro, António Costa, de quem foi conselheiro diplomático nos últimos dois anos.

Para os portugueses que vivem e trabalham em Angola, o embaixador destacou a “força e a solidez da relação” entre os dois países como um resultado da soma dos contributos de todos, nos mais variados sectores.

Quem sai, ou não, aos seus…

No dia 30 de Maio de 2010, o então secretário-geral do PS, José Sócrates, propôs, formalmente, o apoio dos socialistas portugueses à candidatura presidencial de Manuel Alegre. “O PS é um partido de responsabilidade” e “não se abstém” perante as principais decisões, afirmou José Sócrates, citado por um dos presentes na reunião da Comissão Nacional do PS.

A digestão poderia não ser fácil, mas não há nada que uns tantos “enos” não resolvam. E, de facto, para digerir tantos sapos, bem foi preciso uma dose industrial. Quer para o secretário-geral do PS, quer para o próprio candidato.

Em tempos, no auge da poética frase “a mim ninguém me cala”, Manuel Alegre escreveu num artigo de opinião publicado no jornal Público, intitulado “Contra o medo”, que era contra “a confusão entre lealdade e subserviência” que, segundo ele, se verificava no Governo de… José Sócrates.

Como diria outro poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. É, e continua a ser, a política “made in Portugal”.

“Há um clima propício a comportamentos com raízes profundas na nossa História, desde os esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE”, escreveu Manuel Alegre, acusando o Partido Socialista de “auto-amordaçar-se”.

Pois foi assim. A partir da sua escolha para candidato presidencial, Manuel Alegre deixou de falar dos “esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE”, passando a elogiar a democracia e o sentido patriótico de José Sócrates e companhia… embora limitada.

Tão limitada que, por exemplo, o presidente da Federação Socialista de Setúbal considerou, na altura, que o PS deveria dar “liberdade de voto” aos militantes. Acontece que, para a direcção de então, Vítor Ramalho e muitos outros militantes que fazem do silêncio a melhor arma, nada valem. Bem disse o presidente do PS, Almeida Santos: “Se não votamos em Manuel Alegre, votamos em quem?”

Manuel Alegre bem foi perguntando ao longo do tempo à “gente que passa, por que vai de olhos no chão. Silêncio — é tudo o que tem, quem vive na servidão”. E na servidão vivem muitos socialistas.

É claro que quando a servidão é relativa aos outros é um defeito abominável, no entanto, quando é a favor dos nossos é uma das mais nobres qualidade.

Um ano antes, Abril de 2009, o presidente do PS, Almeida Santos, considerou que a direcção do partido não devia a Manuel Alegre o pedido de desculpa público exigido pelo deputado socialista.

“Ele tem direito às suas opiniões, eu tenho direito às minhas”, declarou Almeida Santos à agência Lusa. Entre o PS talvez seja assim. Quem não tem direito a opiniões diferentes são os portugueses de segunda (todos aqueles que não são do PS). Tal como, aliás, em Angola.

No programa “Quadratura do Círculo” da SIC Notícias, transmitido a 23 de Abril de 2009, Manuel Alegre disse estar à espera de um pedido de desculpas público do primeiro-ministro, José Sócrates, bem como da direcção do PS.

Mesmo sendo do PS, Manuel Alegre teve de esperar sentado. É que com Sócrates não havia pedidos de desculpa a ninguém.

O dirigente socialista relembrou as declarações de José Lello, que o acusou de “falta de carácter” e “falta de solidariedade”, em reacção à vontade expressa por Manuel Alegre de ser candidato independente a deputado, se tal fosse possível.

É de espantar, aliás, que Manuel Alegre acreditasse que o PS tinha capacidade para pedir desculpa. Alegre deveria saber que, sendo dono da verdade, o cidadão José Sócrates só poderia pedir desculpa ao secretário-geral do PS, José Sócrates, e este só pode pedir desculpa ao primeiro-ministro, José Sócrates. Tal como hoje acontece com António Costa.

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