A TÁTICA É DESPEDIR

São os péssimos patrões que fazem com que os maus patrões não pareçam tão maus. Na comunicação social portuguesa, o problema é que não há bons patrões que sirvam de bitola para a qualidade na gestão de jornais, rádios, canais de televisão e sites informativos.

Por Carlos Narciso (*)

O que se está a passar na TSF e no jornal A Bola é paradigma do que estamos a falar. Quando Marco Galinha apareceu, parecia cheio de certezas. Com o tempo, percebemos que as “certezas” eram meras tentativas de rentabilizar um mau negócio que, paulatinamente, se revelavam atos falhados.

O que este tipo de gestor sabe melhor fazer é despedir trabalhadores. Um método que o tempo já mostrou não resultar sequer em fábricas de panelas, menos ainda em empresas de comunicação social.

Sempre foi assim. Já em 2002, na 1ª vaga de crise na comunicação social, os delegados sindicais dos jornalistas da SIC atreveram-se a publicar no jornal Público uma carta aberta aos acionistas da empresa, na tentativa de fazer parar o primeiro despedimento coletivo então em marcha.

Dizia essa carta que “aquilo que constituiu sempre a primeira razão do sucesso da SIC – os trabalhadores da empresa – começa a desaparecer na voragem desta gestão” e adivinhavam um futuro repleto de incertezas e de prejuízos. O que os delegados sindicais dos jornalistas disseram aos acionistas da SIC foi que eles “pelo menos, podiam ajudar a empresa a voltar a um clima sereno onde se gerem soluções bem pensadas para retomar os caminhos do sucesso, do lucro” e do prazer de trabalhar (que era o grande trunfo da SIC). Não foram escutados, foram despedidos juntamente com muitos outros trabalhadores. A SIC demorou duas décadas até voltar a liderar o prime-time.

É um exemplo que poderia iluminar o pensamento dos atuais acionistas e gestores de outros órgãos de comunicação social. Infelizmente, não acreditamos que sejam capazes de despir a tradicional arrogância que costumam ostentar.

Hoje, no site do Sindicato dos Jornalistas, lemos que a administração da Global Media ameaça todos os trabalhadores com uma espécie de solução final, “última e decisiva tentativa de salvar um projeto que se encontra insustentável”. Ao ler isto, percebemos que não pode haver ninguém na redação da TSF capaz de ir trabalhar com serenidade, sem angústias e incertezas.

No mesmo site, o que se passa no jornal A Bola: “o grupo suíço (Ringier ) optou por uma estratégia agressiva para tentar ver-se livre de dezenas de jornalistas, procedimento que o Sindicato dos Jornalistas (SJ) condena e lamenta. É uma ação de uma dimensão poucas vezes vista em Portugal.”

Adivinhamos a tática dos suíços: despedir 100 para contratar 50 com salário mínimo. É dinheiro em caixa e para o público que existe, sucedâneo de bacalhau basta (adaptação de um velho ditado popular às atuais circunstâncias).

A Bola vai ser mais um sítio com um chorrilho de títulos extravagantes, com conteúdos alavancados em parcerias comerciais com sites da Microsoft, como já se está a ver, de resto.

O que vai resultar é o desastre completo de um jornal histórico português, coisa desprezível para um suíço, apostamos.

(*) Texto publicado em https://duaslinhas.pt

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