Metade das crianças em Angola, no meio rural, nunca foi vacinada, diz a Unicef. É caso para dar os parabéns às três “entidades” responsáveis por este “êxito”. A saber, Presidente do MPLA (João Lourenço), Presidente da República (João Lourenço) e Titular do Poder Executivo (João Lourenço).
A baixa cobertura de saúde primária e as limitações para armazenar imunizantes são alguns dos desafios para a expansão da vacinação em Angola. Não é fácil, reconheça-se. Angola é um país “pobre” que, ao fim de 48 anos de independência, só tem conseguido trabalhar para que poucos tenham milhões (de dólares) e milhões tenham pouco ou… nada.
O país/reino do MPLA está na lista das 20 nações com maior quantidade de crianças que não receberam nenhuma dose de vacina. No meio rural, 50% dos menores nunca foram imunizados. É obra! Alguém conseguiria fazer melhor? “Não”, responderá com certeza o dono disto tudo, o general João Lourenço.
A ONU News conversou com o chefe de Saúde e Nutrição do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, em Angola, Frederico Brito que falou de iniciativas e oportunidades para fortalecer a vacinação desde os níveis institucionais até o nível comunitário.
“Nas zonas urbanas está a crescer o sector privado de atendimento na área de saúde. Então é preciso que haja uma negociação com as entidades que providenciam serviços privados para que possam ter um pacote completo de cuidados de saúde primários, que incluam a vacinação. Portanto isso pode ser feito através de convénios com o governo, para que, de facto, esse direito básico das crianças angolanas, e também das mulheres, seja realizado através de toda rede sanitária que está disponível,” refere Frederico Brito.
Frederico Brito lembra que Angola viveu um conflito de longa duração que destruiu a infra-estrutura (mas que, recordamos nós, já terminou há mais de 20 anos) sanitária no nível periférico. Como resultado, a parcela da população coberta por serviços de saúde não passa de 60%.
Por outro lado, o especialista do Unicef aponta a oportunidade de alcançar mais crianças por meio da oferta de vacinação em toda a rede sanitária disponível, inclusive no sector privado.
Outro problema a ser enfrentado é a capacidade de armazenamento dos imunizantes. Apenas 60% das unidades de saúde dispõem de equipamento adequado de resfriamento para conservação das vacinas em baixa temperatura. Isso prejudica a oferta eficaz quando as crianças precisam. Compreende-se. O MPLA reconhece debilidades na distribuição de electricidade… potável.
Frederico Brito afirma que há o compromisso do governo em aumentar, gradativamente, o percentagem do Orçamento Geral do Estado dedica à saúde de 7% para 15%. Se acreditarmos na propaganda do MPLA, não tardará muito que – como promete João Lourenço – Angola seja um paraíso.
“Antes mesmo da Semana de Imunização, houve a necessidade de fazer um engajamento mais alto, a nível do governo, no sentido de assegurar que haja um esforço concertado de financiamento a nível da imunização e cuidados de saúde primários. Através de uma iniciativa, de um evento, que decorreu no ano passado, chamado o primeiro Fórum de Cuidados de Saúde Primária e Imunização. Portanto neste Fórum, houve oito compromissos que foram assumidos pelo governo a nível central, ministerial, sendo que o Ministério das Finanças, Ministério da Saúde, e Ministério da Administração Territorial e também a nível das províncias e municípios no sentido de colocar em marcha acções que visam colmatar essa situação que Angola vive de elevado número de crianças zero dose e baixas coberturas vacinais,” recorda Frederico Brito.
O especialista do Unicef explica que os serviços a nível da comunidade ainda estão em processo de fortalecimento e que a rede de agentes comunitários é limitada, considerando fundamental a discussão com as pessoas que recebem os serviços sobre barreiras que encontram para a vacinação, para criar serviços resilientes e adaptados às necessidades da população.
Como exemplo positivo, Frederico Brito mencionou a colaboração com líderes comunitários nas periferias para identificar crianças que não foram vacinadas.
O objectivo das acções da Unicef, junto com os parceiros é reorganizar os locais de vacinação para que nenhuma criança fique descoberta.
Em Angola, 43% da população infantil não recebeu nenhuma dose de vacina em 2021. Antes da pandemia de Covid-19, as taxas de vacinação já se encontravam abaixo de 80%.
Em 2018, cerca de 18% das crianças angolanas entre os 12 e os 23 meses ficaram sem tomar as vacinas recomendadas internacionalmente em Angola, indicou na altura a directora adjunta do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Ana Paula Machado, que falava no “workshop” realizado pela 6.ª Comissão dos Deputados da Assembleia Nacional sobre “Os Indicadores Múltiplos e de Saúde 2015/2016”, realçou que, depois da primeira e segunda vacinas (primeira dose), as mães deixam de levar os bebés para dar continuidade à vacinação.
A responsável do INE apresentou os dados do Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2015/2016 e deu conta de que apenas 31% das crianças tomaram todas as vacinas.
Segundo os dados, 68% das crianças foram vacinadas contra a pólio, 1,56% contra o pólio 2 e apenas 42% contra o pólio 3, o que representa uma percentagem decrescente.
No inquérito, a percentagem de criança entre os 12 e os 23 meses que tomaram todas as vacinas básicas diminuiu em função da ordem de nascimento, sendo que a cobertura de todas as vacinas varia por províncias, sendo a maior em Luanda, com 50%, e a menor no Cuando Cubango, com apenas 8%.
Segundo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Programa Nacional de Vacinação (PAV), considera-se que uma criança está completamente vacinada quando lhe é administrada a vacina BCG, a poliomielite 0 à nascença, e três doses de vacina contra a poliomielite e pentavalente (difteria, tétano, tosse convulsa) aos dois, quatro e seis meses.
Relembre-se que em Novembro de 2016 o Ministério da Saúde admitiu que o país ainda tinha falta de vacinas BCG. De acordo com o director nacional de saúde pública, Miguel de Oliveira, o país chegou a receber em quantidades mínimas a vacina BCG, que foram distribuídas para unidades hospitalares de todo o país, que se dedicam à vacinação.
“A vacina BCG está disponível em pequenas quantidades, há de facto alguma insuficiência da vacina, que vai ser superada dentro de 30 a 40 dias”, informou na altura Miguel de Oliveira.
Em Abril desse ano o então governador da província de Luanda, general Higino Carneiro, informou que havia verbas específicas, desbloqueadas pelo Governo, para a aquisição da vacina BCG, depois de queixas da falta da mesma há já três meses.
Recorde-se, por exemplo, que Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou no dia 6 de Maio de 2016 que o surto de febre-amarela em Angola “continuava a ser de elevada preocupação”, depois de, na mesma altura, as autoridades angolanas terem dado a epidemia como controlada. Ou seja, o regime faz, como sempre fez, da mentira um modo de vida.
“O surto em Angola continua com elevada preocupação devido à transmissão local persistente em Luanda apesar de quase seis milhões de pessoas terem sido vacinadas; há registo de transmissão local em seis províncias (zonas urbanas e portos principais) e há um alto risco de propagação aos países vizinhos”, escreveu a OMS num relatório sobre a situação da febre-amarela.
A posição da OMS surgiu logo depois de a directora provincial da Saúde de Luanda, Rosa Bessa, ter anunciado – reproduzindo as ordens superiores – que a epidemia de febre-amarela estava controlada.
Segundo a responsável, os casos e óbitos por febre-amarela tinham registado uma redução considerável, resultado da campanha de vacinação que decorria então na província de Luanda, o epicentro da epidemia, onde estavam ainda por vacinar 500 mil pessoas.
Segundo os dados transmitidos à OMS pelo Ministério da Saúde de Angola, e que pecam por manifesta ocultação dos números reias – entre 5 de Dezembro de 2015 e 4 de Maio de 2016, o Ministério da Saúde registara um total de 2.149 casos suspeitos com 277 mortos e 661 casos confirmados em laboratório, 70% dos quais na província de Luanda.
Na altura havia casos confirmados em 13 das 18 províncias e outros suspeitos em todas as províncias, havendo registo de transmissão local em seis províncias, em 14 distritos, incluindo Luanda.
A vacina contra a febre-amarela que seria grátis para imunização de todos os citadinos, de acordo a narrativa oficial, estava em Fevereiro de 2016 a ser depositada nas farmácias, de onde eram comercializadas por 500 kwanzas cada ampola, conforme denunciou na altura o Folha 8.