A UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que existe em Angola, entregou uma providência cautelar no Tribunal Constitucional (TC) por alegadas “irregularidades” no processo eleitoral, anunciou a força política num comunicado.
Segundo o Secretariado da Comunicação e Marketing da UNITA, a providência cautelar deu entrada no TC (órgão que funciona como sucursal do MPLA) em 6 de Maio, “depois de esgotadas as vias graciosas com o Ministério da Administração do Território (MAT)”, entidade responsável pelo processo “que não admite a existência de irregularidades”.
“Não admite a existência de irregularidades” é, claramente, uma força de expressão que visa dar a entender que Angola é aquilo que não é – um Estado de Direito Democrático.
O porta-voz da UNITA, Marcial Dachala, disse que a via judicial visa obrigar ao cumprimento da lei, depois de falharem um entendimento no último encontro entre os partidos políticos e os ministros de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, e da Administração do Território, Marcy Lopes.
“Não houve, infelizmente, um esclarecimento sobre as questões colocadas. Tendo consciência de que as irregularidades detectadas constituem violações dos direitos dos cidadãos, só tivemos esta hipótese, dar entrada com uma providência cautelar, para que o Tribunal Constitucional se pronuncie”, afirmou.
Em causa estão várias supostas irregularidades como a afixação da lista de eleitores, que os partidos da oposição angolana reclamam, enquanto o Governo argumenta que está a ser cumprida a lei eleitoral, já que a anterior exigência foi revogada.
As próximas eleições gerais em Angola, as quintas da história política do país, estão previstas para a segunda quinzena de Agosto próximo.
Catorze milhões de eleitores estão registados para votar, segundo o ficheiro informático provisório dos cidadãos maiores entregue, na passada semana, pelo Governo à CNE – Comissão Nacional Eleitoral (outra sucursal do MPLA), mas que pode ainda sofrer alterações.
MINTAM, MINTAM SEMPRE, ACONSELHA MARCY LOPES
Recorde-se, a propósito da credibilidade do Governo do MPLA, que ministro da Administração do Território (MAT), Marcy Lopes, provavelmente no âmbito do cumprimento das ordens superiores de João Lourenço, pede (quem exige é o patrão dele) aos angolanos de primeira residentes em Portugal para mentir, não mostrando “o lado mau” do país sob pena de afugentarem os investidores estrangeiros.
Para o ministro, não se deve mostrar ao mundo que Angola vive problemas de desemprego, que tem 20 milhões de pobres, que vê morrer muita gente (sobretudo crianças) com fome e com malária, em que a Casa Militar (ex-Casa de Segurança) do Presidente foi roubada pelos seus próprios membros, em que o vice-Presidente gasta milhares de euros num vestido de noiva para a filha, em que o Governo (do MPLA há 46 anos) trabalha para que os seus dirigentes tenham milhões e para que milhões passem fome, etc. etc..
“Nós não podemos mostrar o lado mau ou mostrar ao mundo que o nosso País tem problemas ou que há desemprego. Temos é que mostrar apenas o lado bom porque precisamos de investidores. Precisamos é de divulgar o país com aquilo que é bom. O que é mau guardamos para nós”, disse Marcy Lopes, durante o encontro com os angolanas (do MPLA) residentes em Lisboa, onde esclareceu questões ligadas ao registo eleitoral no exterior.
Segundo o ministro, os angolanos “devem todos adoptar uma postura de divulgar o País para que os empresários estrangeiros invistam”. Mintam, aconselha o ministro Marcy Lopes. Ou seja, façam como o MPLA.
“Se falarmos do desemprego, logo afugentamos os investidores do País. Necessitamos é de investimentos, porque quem dá emprego são os investidores privados e nunca o Estado”, afirmou o ministro. E acrescentou: “Temos de vender uma boa imagem e não podemos mostrar o lado mau das coisas em Angola”.
Marcy Lopes salientou durante o encontro em Lisboa que os angolanos insatisfeitos devem é reclamar junto das instituições por escrito e nunca verbalmente. Ou seja, os cidadãos não devem fazê-lo em voz alta, mas sim expor as suas indignações num livro de reclamações.
“Críticas mal feitas não resolvem os problemas, críticas feitas fora do tom em nada resolvem, devemos é fazer as críticas em tom certo”, afirmou o ministro.
Folha 8 com Lusa
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