A Frente para a Libertação do Estado de Cabinda – Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC) reivindica a morte de 16 pessoas, nomeadamente 12 soldados das Forças Armadas Angolanas (FAA) e quatro civis durante “violentos combates” na manhã de hoje.
Segundo esta FLEC (há várias), os confrontos, entre soldados das FAA e das FAC, ocorreram na manhã desta segunda-feira, nas aldeias de Kisungo e Tando Masele, na região do Maiombe, município do Belize, norte de Angola.
Num “comunicado de guerra”, a FLEC diz que os seus soldados recuperaram armamentos deixados pelos militares das FAA e salienta que oito soldados das Forças Armadas Angolanas ficaram igualmente feridos.
“A intensificação dos combates feitas em operações de grande envergadura lançadas esta segunda-feira pelas FAC visam recuperar as zonas conquistadas pelos invasores angolanos”, lê-se no comunicado assinado hoje pelo comandante da Região Militar de Belize, tenente-general Gelson Fernandes N´Kasu.
A FLEC adianta também que “neste período de operações militares de grande envergadura em todo o território de Cabinda contra a invasão militar angolana, o Alto Comandante Militar das FAC aconselha todas as empresas estrangeiras a suspenderem todas as suas actividades e a deixar o território de Cabinda”.
A província angolana de Cabinda, onde se concentra a maior parte das reservas petrolíferas do país, não é contígua ao restante território e desde há anos que líderes locais defendem a independência, alegando – o que é verdade – uma história colonial autónoma de Luanda.
A FLEC, através do seu “braço armado”, as FAC, luta pela independência daquela província, alegando – mais uma vez correctamente – que o enclave era um protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.
Recorde-se que ontem, dia 10, uma outra Frente para a Libertação do Enclave (às vezes falam de Estado) de Cabinda-Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC) apelou ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e à União Europeia para intensificarem esforços no apoio à autodeterminação e independência do território.
O apelo foi feito num comunicado em que a FLEC-FAC exorta a comunidade internacional a “assumir as suas responsabilidades na descolonização da última colónia em África”, e acusa Portugal de ser “responsável pela ocupação de Cabinda por Angola”.
“Angola não poderia ter invadido Cabinda militarmente sem o apoio de Portugal”, pode ler-se no comunicado em que a FLEC-FAC culpa este país pelo “impasse político” no diferendo em relação ao qual lamenta a “frouxidão” e o “silêncio do Governo português”.
Esta FLEC-FAC insta ainda Portugal a assumir “uma posição firme contra a brutalidade e a repressão diária infligida pelas forças de ocupação angolanas aos civis de Cabinda no território ocupado”, insistindo na “importância de acabar com a injustiça de que os cabindenses são vítimas”.
A Frente para a Libertação do Enclave (ou Estado) assegura que tentará mobilizar o máximo de apoios entre os parlamentares e instituições da União Europeia (UE), assim como jornalistas, para pôr fim “à tragédia actual e conseguir uma solução pacífica”.
O povo de Cabinda “vai continuar a sua luta para impor a justiça e libertar o território da presença angolana”, vinca a FLEC-FAC, reafirmando “total empenho em encontrar uma solução pacífica e duradoura” para o conflito em que a população do enclave não desiste do “direito inalienável à autodeterminação, independência”, pelas quais continuará a lutar, usando “todas as vias legais”.
Em Abril de 2021, a FLEC-FAC (no caso na versão Frente de Libertação do Estado de Cabinda) pediu à Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) “atenção particular” para o conflito em Cabinda, denunciando a política de militarização de Angola naquela região. Como sempre foi chover no molhado. Desde logo porque a estratégia do MPLA (também) passa por fomentar a existência de várias… FLEC.
“Constatando a incapacidade e indisponibilidade de Angola, a FLEC-FAC apela para uma atenção particular ao conflito em Cabinda” e para “o contributo para a resolução deste conflito” da SADC, dizia, em comunicado (coisa que nem sabem fazer bem), a direcção político-militar da FLEC-FAC.
O apelo foi dirigido especialmente ao presidente do órgão de Política, Defesa e Segurança da SADC, Mokgweetsi Eric Keabetswe Masisi, e numa altura em que a organização esteve reunida, em Maputo, para analisar a crise na província moçambicana de Cabo Delgado.
“Esquecer o conflito em Cabinda é contribuir para o agravamento do ambiente de defesa e segurança na região e um meio de permitir ao estado angolano prosseguir com a sua política de regressão e militarização de Cabinda e dos estados vizinhos”, acrescentava a FLEC no comunicado.
Os independentistas de Cabinda defendem (e bem) que o território era uma colónia independente de Portugal e deveria ter sido tratada enquanto tal no processo de independência de Angola.
Foto de arquivo
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