O general Francisco Furtado, ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente João Lourenço, destacou hoje o papel do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos, na conquista da paz, lamentando a disputa judicial após a sua morte e considerou que as filhas mais velhas perderam “a última e melhor oportunidade” para homenagear o pai.
Francisco Furtado, expressou grande consternação pelo momento em que uma parte do povo angolano rende a última homenagem ao seu líder José Eduardo dos Santos, “aquele que durante 38 anos conduziu o destino” do país, na Praça da República, em Luanda, onde se iniciaram as cerimónias fúnebres.
“Com sabedoria, empenho e muita mestria, conseguiu trazer-nos a paz definitiva, infelizmente após a sua morte vivemos dias de enorme esforço do ponto de vista judicial para podermos ter a posse dos seus restos mortais”, afirmou, a propósito da disputa judicial travada em Barcelona por duas facções da família, uma liderada por Tchizé dos Santos, outra pela viúva Ana Paula dos Santos, apoiada jurídica, financeira, política e até militarmente pelo regime angolano.
“Hoje estamos aqui para testemunhar aquilo que foi o esforço em que venceu a justiça, venceu a família e o Estado cumpriu o seu dever e a sua obrigação”, sublinhou o general Francisco Furtado, considerando que o povo angolano (do MPLA) “renderá a merecida homenagem” ao ex-presidente e comandante-em-chefe das Forças Armadas.
Sobre o facto de não estarem presentes os filhos mais velhos, designadamente Isabel dos Santos, a braços com a justiça angolana, e Tchizé dos Santos, crítica do Presidente João Lourenço e que apoiou o candidato da UNITA à presidência angolana, Adalberto da Costa Júnior, Francisco Furtado disse que perderam a “última e melhor oportunidade” para render homenagem ao seu pai.
“Oportunidade que lhes foi dada quando estivemos com eles no dia 9 de Julho (a seguir à morte de José Eduardo dos Santos, que aconteceu a 8 de Julho em Barcelona). Não houve bom senso da parte delas e do outro filho, apenas três [de oito filhos] na altura demonstraram possibilidade de, no dia seguinte, voltarem a conversar connosco e não o fizeram”, frisou o general, assumindo mais uma vez a arrogância do regime em achar que é dono dos angolanos.
“A justiça conduziu o processo e ganhou a razão, ganhou a família e o Estado cumpriu o seu dever”, acrescentou.
Também o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, outro dos membros do executivo presentes esta manhã nas cerimónias, destacou a importância do “líder que, após a independência, substituiu, num momento difícil e ainda jovem, o Presidente António Agostinho Neto”, primeiro chefe de Estado de Angola, após a independência em 1975 e que, como afirma o mesmo MPLA, é o único herói nacional mau grado ser o genocida responsável pelo assassinato de milhares de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977.
“Nos seus 38 anos de poder foi sempre incansável, uniu Angola e os seus filhos, fez um grande movimento de reconciliação nacional numa altura muito difícil de guerra contra a UNITA. Ele conseguiu, na forma como era, paciente, sereno, unir todos os angolanos”, elogiou Eugénio Laborinho, considerando que “é uma perda irreparável”.
O ministro escusou-se a comentar a desunião familiar que se seguiu à morte do antigo chefe de Estado, alegando que tem estado “dedicado” ao acompanhamento das eleições no que diz respeito à ordem e segurança pública.
Fora, no enorme recinto com muitas cadeiras vazias, ficaram algumas centenas de populares que vieram despedir-se do homem que governou o país com mão de ferro durante 38 anos, nunca nominalmente eleito, e que foi o único responsável pela escolha do seu sucessor, João Lourenço, que pouco depois de tomar o poder o apunhalou pelas costas.
Ao contrário do que acontecia em vida, quando no dia do aniversário de José Eduardo dos Santos, em 28 de Agosto, todos queriam estar presentes, tornando-se um dia de festa em que muitos populares se juntavam à celebração, hoje as cerimónias estão a ser marcadas por alguma falta de adesão e emoção popular.
As exéquias acontecem também no rescaldo pós eleitoral em que os cidadãos aguardam ainda a saída dos resultados definitivos das eleições gerais de quarta-feira, com os dados preliminares a apontar para mais uma vitória fraudulenta do MPLA e que já contestada pela UNITA.
Em Angola, o MPLA é governo há 47 anos e João Lourenço Presidente (do MPLA e da República) e Titular do Poder Executivo há cinco.
Ao fim de 13 meses de governo, já João Lourenço afirmou com todo o desplante que conseguiu o milagre de ter feito muito. Era verdade. Em tão curto espaço de tempo já conseguira pôr os rios a correr para o… mar. Pena foi que, certamente por distracção ou pressões dos marimbondos, o Comité Nobel norueguês não tenha considerado relevante esse feito.
“Eu exerço este cargo há exactamente 13 meses, portanto, exigir do meu Executivo muito mais do que temos vindo a fazer, não parece justo nem realista sequer”, disse João Lourenço, acrescentando que “não há milagres, mas mesmo assim já conseguimos o ‘milagre’ de termos feito muito em pouco tempo”. Recordam-se?
De facto, o conceito de milagre não era recente no MPLA: “Não há milagres para inverter o actual quadro económico e social de Angola. Há trabalho reservado para todos angolanos e para os estrangeiros que escolheram o nosso país para viver ou para investir e trabalhar”.
Quem disse isto? Nada mais, nada menos, do que Luísa Damião, vice-presidente do MPLA, no Congresso do Partido Comunista Português, a 4 de Dezembro de… 2016, em Almada, e que então representava o MPLA, na versão (hoje ostracizada) José Eduardo dos Santos.
Seja como for, mantendo a mesma linha do seu antecessor, desde logo porque como José Eduardo dos Santos não foi nominalmente eleito, João Lourenço bate e baterá aos pontos qualquer adversário, seja angolano ou semi-angolano (como é o caso de Adalberto da Costa Júnior, segundo o MPLA). Está a revelar-se um verdadeiro messias, um autêntico D. Sebastião africano e negro e potencial vencedor do próximo Nobel da Economia (por não conseguir diversificar a economia), ou da Paz (por continuar a enaltecer o papel de um genocida – Agostinho Neto – na história mundial), ou das Finanças (por ter visto roubar, ter participados nos roubos, ter beneficiado dos roubos mas – é claro – não ser ladrão).
De facto, ao fim destes cinco anos é possível afirmar com toda a certeza e segurança, que João Lourenço “soube liderar com bastante perspicácia” a luta pela libertação, registando já como legado a independência do país do jugo colonial português. Isto para já não falar da libertação de África, do fim da escravatura no mundo e da democratização da Coreia do Norte.
Ao fim destes cinco anos o mundo já reconheceu (basta perguntar, por exemplo, a Marcelo Rebelo de Sousa) o papel único de João Lourenço, tanto em Angola como em África e até nos restantes continentes. Por isso todos esperávamos que, em 2022, a Academia Nobel não se esquecesse de lhe atribuir um Prémio Nobel. Qual? Tanto fazia. Modesto como é, aceitaria com certeza qualquer um. Infelizmente esqueceu-se!
Acresce que excluindo-o, ou esquecendo-o, a revolta vai instalar-se no regime e as repercussões mundiais serão graves. Todos sabemos que quando João Lourenço espirra, o mundo apanha uma grave pneumonia.
De facto, não se compreende que já tenha atribuído o Prémio Nobel a, por exemplo, Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa que alertou o mundo para o direito à educação, em particular das raparigas, juntamente com o activista indiano pelos direitos das crianças, Kailash Satyarthi, e não reconheça o desempenho de João Lourenço.
Todos sabemos que um Prémio Nobel para o presidente seria o mais elementar reconhecimento de que João Lourenço é “o líder de um ambicioso programa de Reconstrução Nacional”, que a “sua acção conduziu à destruição do regime de “apartheid”, tem “um papel de primeiro plano na SADC e na CDEAO”, que “a sua influência na região do Golfo da Guiné permite equilíbrios políticos”.
A Academia Nobel esquece-se de pontos fundamentais: O Presidente João Lourenço não governa. Ele é o líder de um povo que teve de enfrentar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeiros e os seus aliados internos; ele foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionado e só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democráticos; foi graças a João Lourenço que Portugal adoptou a democracia, que a escravatura foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar.
Na realidade, o divino carisma de João Lourenço tornou-o o mais popular político mundial, pelo menos desde que Diogo Cão por cá andou. Tão popular que bate aos pontos Nelson Mandela e Martin Luther King e Abiy Ahmed Ali.
E, é claro, João Lourenço nada tem a ver com o facto de Angola ser – entre muitas outras realidades – um dos países mais corruptos do mundo, de ser um dos países com piores práticas democráticas, por ser um país com enormes assimetrias sociais, por ser um dos países com um dos maiores índices de mortalidade infantil do mundo.
Folha 8 com Lusa