TAMBÉM HÁ SIPAIOS DIPLOMADOS

Quem nasce minhoca mas julga ser jibóia tem de se ir maneando para dar nas vistas. De há muito que essa é a estratégia de David Mendes. Nada a fazer. Ele não só vai orneando nos palcos onde se exibe como, quando se apercebe que não tem protagonismo, vai corneando.

Por Orlando Castro

Em Dezembro de 2018, durante o debate que antecedeu a aprovação sobre a Lei de Repatriamento de Capitais, David Mendes, então deputado independente eleito nas listas da UNITA, resolveu fazer um bombástico e selectivo ataque aos portugueses. Agora foi aos habitantes do Cunene (“indígenas e incivilizadas”), antes foi aos portugueses. Não foi a alguns portugueses, não foi a alguns empresários portugueses, foi aos portugueses (“estou farto dos portugueses em Angola”).

Todas as declarações de David Mendes devem ser bem analisadas, porque desde logo não é um pé-descalço. É advogado e foi deputado. As suas declarações são iguais às proferidas por políticos europeus de extrema-direita, xenófobos e racistas que escolhem os seus alvos pela cor ou nacionalidade. Um deputado, pelas responsabilidades que tem, devia ser mais prudente no que diz. Para além de ter errado, insultou não só o Povo português como também o Povo angolano.

Também a reacção da UNITA foi igualmente execrável. A Direcção da UNITA, pela voz do seu líder parlamentar, Adalberto da Costa Júnior, limitou-se a dizer que se demarcava das declarações, classificando-as como um (sic) “deslize”. Deslize? Ou será, antes, que a UNITA – lá bem no seu íntimo – concorda com estas declarações?

Perante este comportamento que, pelo menos em Portugal, fez mais pela destruição do que resta da UNITA do que todas as acções do MPLA ao longo dos últimos 20 anos, o Folha 8 procurou perceber o que terá levado David Mendes a tão radical posição.

Será que, como Hitler antes de chegar ao Poder, já há muitos anos o deputado vive obcecado por questões raciais? Será que, bem lá no fundo, advoga a “pureza” racial e a superioridade da sua “raça”?

Será que foi uma estratégia de David Mendes para amaciar as investigações do Governo (que, pelos vistos, estavam na altura muito perto do xeque-mate) sobre o seu património imobiliário – directo ou indirecto – que se diz ter exactamente em… Portugal?

No nosso Facebook colocámos a seguinte questão: “Estou farto dos portugueses em Angola”, afirmou o advogado David Mendes. Terá este atómico ataque aos portugueses alguma coisa a ver com o facto de ter oferecido os seus préstimos, enquanto causídico, a uma grande empresa portuguesa que quer estabelecer-se em Angola, e esta ter recusado alegando “falta de credibilidade profissional” de David Mendes?

Poucas horas depois, David Mendes respondeu de forma antológica e inequivocamente demonstrativa do seu carácter. Eis a transcrição “ipsis verbs”:

“Lamento que o nosso filha seja infeliz na sua análise. Nunca aceitaria qualquer parceria com escritórios portugueses. O director geral do Folha 8, meu amigo é companheiro de luta, o mano William Tonet sabe que eu fui um dos poucos que se opôs a entrada de escritórios portugueses e brasileiros em Angola. Por isso, não acredito de William Tonet tenha subscrito esta barbaridade. Sei que muitos portugueses exercem advocacia ilegal em Angola e sabemos quais são os escritórios de advogados que recorrem aos portugueses”.

Para além de não responder à questão principal e única (ter sido rejeitado por uma empresa portuguesa por “falta de credibilidade profissional”), David Mendes misturou a Maria José com o José Maria, a beira da estrada com a estrada da Beira, dizendo a despropósito, que “nunca aceitaria qualquer parceria com escritórios portugueses”, falando da sua oposição à “entrada de escritórios portugueses e brasileiros em Angola” e dos “escritórios de advogados que recorrem aos portugueses”.

Mas se estas não-respostas revelam que o então deputado da UNITA e advogado pode apenas pretender ser uma espécie de João Pinto, seu colega do MPLA no Parlamento, ao trazer à colação o Director do Folha 8, William Tonet, revelou estar mais próximo de Salazar do que na altura (queremos acreditar) de Isaías Samakuva, mais perto do despotismo e da tirania do que da democracia, do que da liberdade.

No tempo em que os portugueses dominavam Angola, havia na zona do Bailundo um sipaio a quem, por mera coincidência, as autoridades administrativas de Portugal chamavam de “David – o comandante”. Ele, quando queria impor a sua suposta autoridade, dizia sempre que o chefe do posto era seu amigo.

“Não acredito de William Tonet tenha subscrito esta barbaridade”, escreveu David Mendes, não se esquecendo de referir (não fossem os jornalistas do F8 estarem distraídos) que William Tonet é o Director Geral do Folha 8.

A afirmação de David Mendes, para além de tudo, não é uma tentativa de intimidação. Não é uma tentativa. É mesmo uma intimidação. Mas bateu na porta errada e o tiro saiu-lhe pela culatra.

Acredite senhor Advogado David Mendes. Acredite senhor deputado David Mendes. Mais do que um Jornal, o Folha 8 é a Liberdade. E, parafraseando Manuel Freire (por sinal português), não há machado que corte a raiz à Liberdade.

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