Um avião que a África do Sul diz ter sido fretado pela companhia aérea angolana TAAG, mas que esta diz não ter ligação (contrariando a informação da Embaixada angolana), foi arrestado no Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo, depois de ali ter aterrado sem a autorização.
O arresto foi feito depois de o avião ter pousado, na sexta-feira, no aeroporto sem autorização obrigatória de operador estrangeiro (FOP), referiu o Ministério dos Transportes sul-africano, citado pelo jornal online Eyewitness. De acordo com a mesma fonte, o avião levava a bordo apenas a tripulação.
O ministério explicou ainda ao jornal que a TAAG Angola Airlines tem um alvará de operador estrangeiro para todos os seus aviões regulares, mas que a companhia aérea fretou este aparelho e este avião não consta da sua FOP.
“A Autoridade de Aviação Civil da África do Sul descobriu que a tripulação não podia produzir um FOP, emitido pela África do Sul e, portanto, violava a Convenção de Chicago”, é referido.
“A Lei de Serviços Aéreos Internacionais de 1993 exige que um portador de um FOP deve solicitar a alteração de sua licença se houver alguma mudança na categoria ou tipo de avião, entre outros. Neste caso, isso não foi feito, disse o porta-voz do ministério, Lwazi Khoza, citado pelo Eyewitness.
Embora o jornal indique que a embaixada angolana pediu, entretanto, desculpas pelo incidente, a própria TAAG divulgou hoje um comunicado no qual nega qualquer relação com o avião retido na África do Sul.
“A TAAG, Linhas Aéreas de Angola nega qualquer relação com a aeronave que se encontra retida no Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo sob custódia das autoridades da África do Sul”, afirma.
O avião “não pertence à frota da TAAG, não foi contratado pela TAAG para a realização de nenhum voo fretado, e nem tão pouco está registado no certificado de operador aéreo (Air Operator Certificate) da TAAG junto da Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), o regulador do sector em Angola”, sublinha.
A companhia aérea Angola adianta ainda, no mesmo comunicado, que o ecossistema da aviação civil nacional e internacional possui procedimentos e regulamentos rigorosos “cuja necessidade de conformidade operacional é do conhecimento de todas as partes interessadas”.
A TAAG continua a ser notícia, quase sempre por maus motivos para os angolanos mas bons para os estrangeiros que negoceiam com os donos do país, o MPLA.
Em 2016, Peter Hill, presidente da TAAG, dizia que reduziu em 70 milhões de dólares as despesas da companhia. Era uma, mais uma, mentira. O que ele fez foi tirar aos angolanos para dar aos estrangeiros.
Na altura (como hoje) a direcção da TAAG está toda povoada de estrangeiros, que ganham em divisas, daí a acusação de que Peter Hill não gosta de pretos.
Esse sentimento crescente aliado à não promoção de muitos pilotos angolanos bem como o abandono de outros, estava na altura na base de uma crescente contestação.
O então ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás, foi acusado de cumplicidade pois sabia das falcatruas e dos prejuízos reais, admitindo-se que a estratégia visava sacar e desviar avultadas verbas levando a que, perante a catástrofe, a companhia fosse privatizada a preço de saldo.
Como é que Peter Hill podia dizer que reduziu as despesas da TAAG se seu carro custou 250 mil dólares e dos seus pares, todos estrangeiros, 150 mil dólares sem que ninguém saiba onde foram comprar viaturas tão caras, perguntava o Folha 8 em artigo publicado em 3 de Novembro de 2016.
As direcções da companhia eram todas chefiadas por estrangeiros, ingleses ou portugueses, que estavam desempregados nos seus países. Mesmo assim, a TAAG foi buscá-los, quase parecendo uma agência de empregos. Qualquer semelhança com a actualidade (não) é mera coincidência.
Os angolanos existentes só lá estavam para colorir, para dar uma ténue imagem local, já que são figuras decorativas, sem qualquer tipo de poder real. Esse poder está nas mãos de um qualquer assessor estrangeiro que despacha com Peter Hill.
Não espanta pois que, numa entrevista da época, Peter Hill tenha dito que as empresas angolanas deveriam ser geridas por estrangeiros, uma autêntica ofensa aos complicados dirigentes angolanos (sempre do MPLA) mais interessados em roubar do que no país.
Peter Hill mandou muitos angolanos para a reforma devido, alegava, à idade. No entanto, esse não era um factor impeditivo à contratação de estrangeiros com mais de 65 anos.
Em Setembro de 2015, o ministro dos Transportes traçou o objectivo de a TAAG ultrapassar os 3,3 milhões de passageiros transportados anualmente a partir de 2019, com o reforço das ligações internacionais, nomeadamente para a Europa, com a gestão da Emirates.
“Ao longo dos anos, a TAAG tem registado resultados negativos ao nível da sua exploração, de modo que prevê-se com este quadro a viragem de uma nova página”, disse o ministro, após a discussão do plano para a companhia, que previa chegar a uma frota de 21 aeronaves em 2019.
A formação de quadros angolanos no Dubai, na academia da Emirates, e a introdução de uma “gestão profissional de nível internacional” eram objectivos deste contrato, que assentava na reestruturação financeira da TAAG, com a meta da facturação anual a passar de 700 milhões de dólares em 2014 para 2,3 mil milhões de dólares dentro de cinco anos.
“Pretende-se que a TAAG seja saneada do ponto de vista económico e financeiro, através da optimização dos seus postos [de trabalho] e de economias de escala”, defendia o governante angolano.
Dizia a própria TAAG que “o futuro não se antecipa, prepara-se”, acrescentando que “para mantermos a nossa posição de liderança, para identificarmos e definirmos novos padrões que permitam atrair e reter clientes no nosso mercado, é importante que a monitorização do ambiente de negócio seja contínua e sistemática e que a informação proveniente dessa monitorização seja utilizada para estabelecer, implementar, rever e melhorar políticas, estratégias, objectivos, metas, indicadores e planos de curto, médio e longo prazo. Ao aprendermos com os nossos erros ou ao sabermos explicar as tendências dos resultados, estamos a criar condições para elevarmos os nossos padrões para os níveis mais exigentes”.
Por isso, afirmava, “procuramos que em todos os momentos a Companhia projecte uma imagem afável, simpática e profissional e desenvolvemos todos os esforços no sentido de minimizar o impacto ambiental das nossas operações e proporcionar um ambiente saudável e seguro aos nossos clientes e colaboradores”.
Folha 8 com Lusa