O presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, diz que deputados vão tomar posse, apesar de apelos em contrário. O partido contestou os resultados das eleições, mas promete “continuar a resistência” nas instituições do Estado. É, afinal, a versão Samakuva II, mas com sapos de outra geração…
Jonas Savimbi dizia que a UNITA ia de derrota em derrota até à vitória final. Adalberto da Costa Júnior actualizou a mensagem e, assim, a UNITA vai de vitória (moral) em vitória (permitida pelo MPLA) até à derrota final.
Em 2016, o então líder da UNITA, Isaías Samakuva, afirmou que estava a “engolir muitos sapos” para preservar a paz no país, face às constantes provocações que disse visarem o partido. E o Folha 8 perguntou na altura: Finalmente? Ou apenas fogo-de-vista?
O então líder da UNITA foi um dos convidados da conferência nacional sobre Paz, Democracia e Direitos Humanos em Angola, organizada pela Associação Mãos Livres, o Fórum das Mulheres Jornalistas e a Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD).
No painel sobre a visão dos partidos políticos na manutenção da paz e consolidação da democracia e dos direitos humanos em Angola, Isaías Samakuva defendeu que a promoção da paz tem muito a ver com os discursos.
“E nós notamos com insistência que há um discurso que dá a impressão que as pessoas têm saudades do conflito, da guerra, querem voltar à guerra”, disse Isaías Samakuva, sem citar nomes.
Segundo o político, sem querer fugir às responsabilidades ou culpas, considerou que diante de “um balanço justo verão que a UNITA até tem estado a engolir muitos sapos”.
“Temos sofrido provocações, humilhações e é a responsabilidade da manutenção da paz que nos faz calar e nos faz engolir esses sapos”, afirmou, salientando que os discursos da principal força política da oposição eram de apelo ao diálogo, à justiça e à manutenção da paz. O político disse ainda que era várias vezes criticado por não agir em muitos casos, mas preferia ficar calado e engolir os ditos sapos.
“Eu estou a ter receio quanto a isso, é que a situação tende a evoluir para um ponto em que nós que estamos a tentar fazer uma contenção enorme, podemos ser ultrapassados por aqueles que acham que nós somos moles e que não estamos a fazer nada e um dia aparece um aventureiro aí e depois tem seguidores e a situação fica muito complicada”, alertou.
O então presidente da UNITA considerou que a sociedade civil angolana devia conquistar e ocupar o seu próprio espaço, para ser digna de se afirmar como parceiro institucional do Estado, na garantia dos direitos humanos e em especial dos direitos económicos e sociais dos angolanos.
Samakuva defendeu também que a sociedade civil deve mesmo inventar novos estudos, projectos e campos de intervenção social para a afirmação da cidadania económica, social e cultural angolana.
Recordemos – porque é preciso não ter medo da memória – quais eram (e, embora maquilhadas, continuam a ser) as teses do regime, no caso pela pata de Artur Queiroz, um dos mercenários de eleição do Jornal de Angola, numa espécie de artigo publicado em 2015 sob o título: “O apito de guerra de Isaías Samakuva”.
Segundo o mercenário-sipaio para todos os serviços do MPLA, “Samakuva proporcionou aos “quadros” da UNITA uma formação para se actualizarem no “Guia Prático” e nunca esquecerem que “é preciso bater onde dói mais ao Povo Angolano”.
“Aos “quadros” da UNITA foi prometido que iam marchar triunfalmente entre Muangai e Luanda. Depois a rota mudou para a Jamba. Mais tarde, era do Triângulo do Tumpo até à capital, levados ao colo pelos racistas de Pretória”, reproduziu o rapazola com, é claro, todo o rigor na transcrição das “ordens superiores” do MPLA.
“Na guerra que se seguiu às primeiras eleições multipartidárias, Savimbi prometeu que a rota vitoriosa ia do Bailundo a Luanda. Uns meses depois corrigiu a bússola e a via triunfal ia do Andulo à capital “dominada pelos crioulos””, conta o energúmeno, assumindo a paternidade de um texto encomendado e ditado.
Continua: “Sempre que os bandos armados da UNITA tomavam uma capital provincial, a UNITA dizia que a rota triunfal ia dessas cidades a Luanda. Estava Samakuva a tratar dos negócios alimentados pelo roubo dos diamantes e todas as traficâncias da Jamba, quando a rota triunfal, traçada pelo chefe entre o Lucusse e Luanda, ficou deserta. O chefe ficou com o semieixo partido, Sakala estava moribundo, os outros todos também não se sentiam nada bem e ali acabou a aventura do criminoso de guerra Jonas Savimbi”.
Estes são os sapos que a UNITA tem engolido e que, tanto quanto parece, ainda não lhe causaram a indigestão necessária para os vomitar e então assumir o que dizia, por exemplo, o primeiro presidente do MPLA e de Angola, Agostinho Neto: O importante é resolver o problema do Povo. E são 20 milhões de pobres.
Continuemos com as teses do regime, na circunstância reproduzidas pelo mercenário Queiroz: “Entre eles, é justo destacar, pela coerência na ameaça e no ódio à democracia, Samakuva. Ainda há poucos meses, foi ao Huambo, andou pelas montanhas entre a Caála e o Longonjo, e quando falou aos seguidores, anunciou que a rota vitoriosa estava para breve, começava no Huambo e acabava em Luanda. Na altura ninguém deu importância à sua bravata. Mas hoje temos dados que permitem concluir que o líder da UNITA estava a ameaçar seriamente a paz, a estabilidade e, por isso mesmo, o regime democrático”.
Ou seja, a UNITA é “presa” por ter cão e também por não ter cão. Tem a fama mas não tem o proveito. Não estará, de facto, na altura (e já foi muito o tempo perdido) de ter algum proveito, de honrar o sofrimento de um Povo que o único “crime” que cometeu foi ser angolano, embora de terceira categoria? Pelos vistos não. Adalberto da Costa Júnior está a assunir o papel de coveiro.