O chefe de Estado do MPLA (seria de Angola se tivesse ganho as eleições), João Lourenço, prometeu hoje “ser o Presidente de todos os angolanos” (do MPLA) e promover o desenvolvimento económico e o bem-estar da população, indo mesmo ao ponto de prometer defender os macacos e os chimpanzés, ao discursar na cerimónia da sua posse.
“Ao assumir, por mandato do povo soberano, as funções de Presidente da República de Angola, declaro por minha honra respeitar a Constituição e a Lei, ser o Presidente de todos os angolanos e governar em prol do desenvolvimento económico e social do país e do bem-estar de todos os angolanos”, disse o chefe de Estado, em Luanda.
Supostamente reeleito com 51,17% dos votos, numa eleição contestada judicialmente pela oposição, mas entretanto validada pela sucursal do MPLA, o Tribunal Constitucional, João Lourenço felicitou o povo angolano, que considerou “o real e verdadeiro grande vencedor” das eleições de 24 de Agosto, que lembrou já serem consideradas “as mais disputadas eleições gerais da história da jovem democracia angolana”. Quem diria, não é?
João Lourenço elogiou os angolanos por fazerem “as melhores opções” e escolherem “com muita responsabilidade o futuro do seu país”.
“Ao elegerem o MPLA e o seu candidato, apostaram na continuidade como forma segura de garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento económico e social do país”, afirmou, felicitando também todos os partidos e coligações pela sua participação nas eleições, “o que contribuiu para o fortalecimento da nossa democracia”.
Na verdade, quando ganha quem perdeu, nunca a democracia sai fortalecida. Mas como João Lourenço tem do seu lado, para além das conhecidas sucursais do MPLA (TC e CNE), também as Forças Armadas (supostamente apartidárias), tudo é possível. Aliás, pouco antes da tomada de posse, o ministro de Estado e chefe da Casa Militar, general Francisco Furtado, disse que o exército (fortemente armado) nas ruas de Luanda servia para proteger o povo e acusou a oposição de ter apostado numa estratégia de subversão para derrubar o governo.
Sobre o seu segundo mandato, trocando os seis prometidos em 2017 por meia dúzia em 2022, o Presidente prometeu mais do mesmo, e dedicar todas as suas forças e atenção à “busca permanente das melhores soluções para os principais problemas do país, a começar pelo sector social e pelo bem-estar da população. Na altura, os 20 milhões de pobres que Angola tem nas suas “fileiras” estavam mais preocupados em cumprir com a ordem superior para aprenderem a viver sem… comer.
“Continuaremos a investir no ser humano como principal agente do desenvolvimento, na sua educação e formação, nos cuidados de saúde, na habitação condigna, no acesso à água potável e energia eléctrica, no saneamento básico”, disse. Ou seja, repete 2017 e daqui a cinco anos estará a dizer o mesmo. O MPLA é mesmo assim. Há 47 anos que mente às segundas, quartas e sextas, aldrabando às terças, quintas e sábados. Aos domingos descansa.
João Lourenço prometeu também incentivar e promover o sector privado da economia, “para aumentar a oferta de bens e serviços de produção nacional, aumentar as exportações e criar cada vez mais postos de trabalho para os angolanos, sobretudo para os mais jovens”.
“O cidadão em geral, o trabalhador e o jovem em particular, continuam no centro das nossas atenções”, disse João Lourenço, prometendo trabalhar para que a economia angolana “possa garantir ao trabalhador um salário condigno e um poder de compra que seja compatível com a capacidade de aquisição dos bens essenciais de consumo da cesta básica”.
Prometeu igualmente “dar continuidade e concluir” infra-estruturas como o porto de águas profundas do Caio em Cabinda, os aeroportos de Cabinda, de Mbanza Congo e o Internacional António Agostinho Neto em Luanda, as refinarias de petróleo de Cabinda, do Soyo e do Lobito, entre outros, e comprometeu-se a construir sistemas de captação, tratamento e distribuição de água do BITA e da Quilonga para solucionar o défice de água de Luanda, assim como os canais e barragens no âmbito da luta contra os efeitos da seca no sul de Angola.
A igualdade do género foi outro tema abordado no discurso do chefe de Estado do MPLA, que defendeu a igualdade de oportunidades e promoção da mulher nos mais altos cargos do Estado do MPLA, nos cargos públicos e de liderança em diferentes sectores da sociedade angolana. E insistiu na questão da prevenção e combate contra a corrupção e a impunidade, “que ainda prevalece”.
“Vamos todos trabalhar na educação das pessoas para a necessidade da mudança de paradigma, de vícios, más práticas e maus comportamentos instalados e enraizados há anos”, afirmou.
João Lourenço disse ainda contar com “a participação e o escrutínio de todos”, desde os deputados eleitos, às organizações não-governamentais, classes profissionais, sindicatos, do sector empresarial, académicos, igrejas e ‘media’.
Prometeu também que Angola continuará a trabalhar para proteger o planeta das alterações climáticas, nomeadamente com programas de educação ambiental com vista a desencorajar a desflorestação e as queimadas, com acções concretas de redução do consumo dos derivados do petróleo e da utilização da lenha para consumo doméstico ou industrial e com investimento em fontes limpas de produção de energia como barragens, parques fotovoltaicos e projectos de hidrogénio verde.
Satisfeitos ficam os macacos e os chimpanzés que, talvez pela primeira vez, tenham tido direito de antena no discurso de posse de um presidente que, apesar de não eleito, continua no poder.
E O AVISO AOS OUTROS… “MACACOS”
Falando hoje à margem da cerimónia de investidura de João Lourenço, o general Francisco Furtado afirmou que “houve uma estratégia montada pela oposição”, procurando alegar fraude eleitoral, e considerou que há lideranças políticas que não estão preparadas para “a sã convivência em paz e segurança”.
“Quando se tem duas agendas, uma política e uma subversiva, tem de se compreender o que se quer”, disse, acusando a oposição de ter uma estratégia subversiva financiada a partir do exterior “para derrubar o governo”.
“Funcionou muito a cadeia das redes sociais para que as pessoas não fossem ao voto com receio de insegurança, não é porque o MPLA ou o executivo tenham falhado”, considerou o general, comentando a elevada abstenção nas eleições de 24 de Agosto.
Disse, no entanto, que o MPLA “aprendeu a lição” e quer “inverter o quadro e criar estratégias para contrapor a estas iniciativas que surgiram desde 2020”. Desde logo, presume-se, não permitindo que os macacos e os chimpanzés tenham acesso às redes sociais…
Quanto ao estado de prontidão combativa e presença de forças policiais nas ruas nos últimos dias, o militar disse que é normal nestes casos: “Notamos desde há dois anos que havia uma estratégia de subversão da ordem e daquilo que é a soberania e é por estes aspectos que as forças têm de estar em prontidão. Qualquer nação só vale aquilo que for capaz de defender-se”.
No seu entender, estas situações podem ocorrer e que a população não tem de ter receio por o Estado estar a garantir a segurança das populações. Sobre a manifestação anunciada pela UNITA (partido que venceu mas perdeu as eleições) para 24 de Setembro declarou que o executivo autoriza as manifestações.
“O que não está concebido é que aproveitem as manifestações para fazer subversão. Não imagina a quantidade de pneus que nos últimos dois dias foram retirados e já estavam preparados para criar incêndios nas vias públicas”, frisou o general Francisco Furtado.
“Os cidadãos tem de ter confiança no Estado, nas suas forças de segurança e a polícia tem demonstrado isto numa colaboração estreita com as populações e as forças armadas não intervêm em questões de segurança pública”, prosseguiu.
Por isso, “as forças armadas estarão em prontidão para qualquer eventualidade de auxílio em caso de haver alguma situação de subversão armada, não para intimidar o povo, estão para defender o povo, estão para defender a soberania, estão para defender a nação e o Estado. A nossa missão é a segurança da população”, explicou. Desde, é claro, que nação e Estado sejam, continuem a ser, sinónimo de MPLA.
Quanto à nova legislatura, o general Francisco Furtado espera que o executivo consiga implementar os programas que tem, já que não concluiu “nem metade” do que iniciou no primeiro mandato.
“Temos de continuar a garantir que o país esteja seguro, haverá investimentos significativos s na componente da Marinha de guerra, Força Aérea e Exército, temos de manter o país em segurança para que haja incentivo aos investimentos”, disse, sublinhando que está “tudo programado” e que o sector social não será prejudicado.
Quanto à possibilidade de ser de novo convidado para o governo, afirmou estar “sempre preparado” para as missões de que for incumbido, nem que seja – recorde-se – dizer que quem disser mal do MPLA “leva no focinho”.
Legenda: O líder da comunidade de chimpanzés e similares de África, general Cesar Augustine, agradece com certeza ao Presidente do MPLA as referências e promessas feitas.
Folha 8 com Lusa