A UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola, entende que a libertação da África Austral “foi obra dos seus filhos e não dos russos e cubanos”. Mais uma lição aos auto-intitulados donos da verdade do MPLA? Isso foi antes da invasão da Ucrânia. Hoje, numa original frente/coligação liderada pelo MPLA, os soldados de Vladimir Putin são os bons e os outros os maus…
A posição foi expressa, em 2020, por Abílio Kamalata Numa, a propósito do dia 23 de Março, comemorado em Angola (por imposição do MPLA) como o Dia da Libertação da África Austral. E, ao que espera agora o MPLA, será com certeza comemorado também como o mês da libertação da Ucrânia pelos libertadores russos.
Abílio Kamalata Numa disse que o objectivo da conferência foi “continuar a repor verdades sobre a dita Batalha do Cuito Cuanavale”, que ocorreu em Angola entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988, opondo os exércitos das (FAPLA/MPLA), do Governo angolano, apoiado por Cuba e pela então União Soviética, e das FALA, da UNITA, com apoio da África do Sul.
Segundo o dirigente da UNITA, a Batalha do Cuito Cuanavale “é uma ficção, porque a verdadeira batalha de 1987/88 foi a Batalha Saudemos o Segundo Congresso da parte do Governo de Angola e Lomba 87 da parte da UNITA”, tendo esta sido “uma entre as várias batalhas que se produziram naquele teatro de guerra”.
“A grandeza dessa batalha residiu nas consequências políticas que produziu ao ter permitido desbloquear a aplicação da resolução 435 de 1978, com o Acordo de Nova Iorque assinado a 22 de Dezembro de 1988 na sede da ONU pelos Governos de Angola, Cuba e África do Sul”, referiu Abílio Kamalata Numa.
De acordo com Abílio Kamalata Numa, “foi a Batalha Lomba 87 que desencorajou a aventura da Rússia e Cuba de expandir o comunismo na África Austral e não a dita Batalha do Cuito Cuanavale, que serve para mascarar a vergonha da derrota infringida pelas FALA ao imperialismo russo-cubano”.
Abílio Kamalata Numa explicou que a Batalha Lomba 87 iniciou-se a 12 de Julho de 1987 e culminou com a destruição da 47ª brigada no dia 11 de Outubro de 1987 “e com profundo desgaste de outras brigadas”, tendo no dia a seguir as FALA iniciado “uma perseguição feroz às brigadas e forças cubanas moralmente abatidas, empurrando-as até às proximidades do Cuito Cuanavale”.
Abílio Kamalata Numa frisou que foi com a derrota das FAPLA, dos cubanos e dos russos em Mavinga, em 1987/88, que se acelerou a assinatura dos Acordos de Nova Iorque e que “se quebrou a vontade de se impor regimes comunistas na África Austral”, levando “os russos a impor ao MPLA a estratégia de saída airosa deste teatro de guerra em África, com a arquitectura da dita Batalha do Cuito Cuanavale”.
Para Abílio Kamalata Numa, se não fosse a invasão de Angola pelos russos e cubanos em 1975, e se os acordos de Alvor tivessem sido implementados como previsto, “a independência da Namíbia teria acontecido muito mais cedo”.
“Este foi também outro logro da intervenção russo-cubana, com ajuda de Portugal a Angola, com consequência de os angolanos estarem a pagar dívidas da guerra que não encomendaram aos russos, cubanos e portugueses, acrescendo a transformação de Portugal como domicílio da maior parte dos dinheiros roubados ao erário público de Angola”, disse.
O 23 de Março foi institucionalizado (pelo MPLA) feriado em Angola em 2018 pelo Governo de Angola, que propôs também no mesmo ano, na qualidade de presidente da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que a data fosse feriado regional, para comemoração do Dia da Libertação da África Austral.
O Governo do MPLA justifica que o fim da Batalha do Cuito Cuanavale levou à paz do país e abriu portas ao fim do regime segregacionista racial (‘apartheid’) que vigorava na África do Sul.
O Governo do MPLA, que está no poder desde 1975, continua a fazer de todos nós uns matumbos e, por isso, teima em mandar enxurradas de mentiras contra a nossa chipala. Em 2017, num país com 20 milhões de pobres, aprovou uma dotação de 2.240 milhões de kwanzas (12,3 milhões de euros) para pagar a conclusão do memorial sobre a histórica batalha do Cuito Cuanavale.
A rapaziada dirigente do MPLA (na sua maioria generais de alto gabarito – se o diapasão for Bento Kangamba) continua a não tomar a medicação correcta para a sua crónica megalomania fantasista, ou anda a fumar coisas estranhas. Indiferentes aos 20 milhões de pobres, prepararam a fanfarra, os palhaços e os restantes bobos da corte para inaugurar o que chamam de “Memorial sobre a Vitória da Batalha do Cuito Cuanavale, província do Cuando Cubango”, em homenagem – dizem – à bravura dos heróis de 1988.
Este Memorial, tal como foi concebido e idolatrado pelos mercenários do MPLA, mais não é do que uma (mais uma) enorme mentira do regime e restantes malandros que, assim, continuam a tentar reescrever a história.
Não se sabe, embora eles saibam, onde é que o regime do MPLA (por sinal no poder há 46 anos) quis e quer chegar ao construir monumentos que enaltecem o contributo dos angolanos que consideram de primeira (todos os que são do MPLA) e, é claro, amesquinham todos os outros.
Importa, contudo, desmistificar as teses oficiais que não têm suporte histórico, militar, social ou qualquer outro, por muito letrados que sejam os mercenários contratados para vender lussengue por jacaré. Apenas têm um objectivo: idolatrar uma mentira na esperança de que ela, um dia, seja vista como verdade.
Disse o Pravda que a batalha do Cuito Cuanavale terminou “com uma retumbante vitória das FAPLA e das FARC (Forças Armadas Revolucionárias de Cuba)”.
Importa por isso, ontem como hoje e amanhã, perceber o que leva o MPLA a comemorar esta batalha.
Visivelmente, o regime continua a ter medo da verdade e aposta na criação de focos de tensão na sociedade angolana, eventualmente com o objectivo de levar acabo uma das suas especialidades: massacres gerais (tipo 27 de Maio de 1977) ou selectivos como em Junho de 1994, quando a aviação do regime destruiu a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores, ou quando entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, bombardeou indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.
Sabendo que a UNITA considera ter vencido essa batalha, comemorá-la como se fosse uma vitória das forças do MPLA, russas e cubanas visa provocar a UNITA, para além de ser um atentado contra a verdade dos factos.
Além disso, é hábito do MPLA tentar adaptar a História às suas necessidades. Se alterar a História resultou parcialmente no passado, com a globalização e os trabalhos científicos que vão surgindo, não funciona. O regime ainda não aprendeu. Continua a seguir a máxima nazi de que se insistir mil vezes numa mentira ela pode ser vista como uma verdade. Mas não funciona.
A batalha do Cuito Cuanavale começou em Setembro de 1987, com uma ofensiva das forças coligadas FAPLA/russos/cubanos tentando chegar à Jamba. Um exército poderosamente armado, com centenas de blindados e tanques pesados, artilharia auto-transportada e outra, apoiado por helicópteros e aviões avançaram a partir de Menongue.
Depois da batalha, o General França Ndalu, veio dizer a um jornalista que o objectivo não era esse, mas sim cortar o apoio logístico à UNITA. O que é visivelmente uma fraca desculpa, porque o apoio logístico era feito de sul e do leste para a Jamba e nunca entre o Cuito Canavale e o rio Lomba.
Pela frente a coligação comunista encontrou a artilharia e a infantaria da UNITA (FALA), organizada em batalhões regulares e de guerrilha, apoiados por artilharia pesada das forças sul-africanas. Com o avolumar da ofensiva, a África do Sul colocou na batalha mais infantaria, blindados e helicópteros.
A batalha durou mais ou menos seis meses. As forças FAPLA/russos/cubanos, com dezenas de milhares de homens na ofensiva, não conseguiram passar do Cuito Cuanavale.
As consequências foram diversas. O exército cubano aceita retirar-se de Angola. A África do Sul aceita que a Namíbia ascenda à independência, desde que os seus interesses económicos não sejam tocados, que a Namíbia continue dentro da união aduaneira que tem com a RAS e que o porto de Walbis Bay (o único da Namíbia) continue a ser administrado pela RAS.
O MPLA aceita finalmente entrar em negociações com a UNITA (o que viria a acontecer em Portugal), aceita o pluripartidarismo, aceita as eleições.
E a UNITA, o que teve de ceder? Nada. Os seus bastiões continuaram intocados, nenhuma linha logística foi tocada, o seu exército não teve perdas, em homens e material, significativas.
Mais ou menos um ano mais tarde, e já na mesa das negociações, o MPLA tentará uma segunda ofensiva, de novo com milhares de homens, tanques, veículos, helicópteros e aviões. Foi a chamada operação “Ultimo Assalto”, e mais uma vez foi derrotado, desta vez sem os sul-africanos estarem presentes.
Em resumo, se houve vencedores, não foram as forças do MPLA e os seus aliados. Então o que comemora o MPLA? Nada a não ser o que a sua propaganda inventa.
Enquanto ministro angolano da Defesa, João Lourenço, homenageou o povo cubano no Triângulo de Tumpo, província de Cuando Cubango, pela sua permanente solidariedade e contribuição na vitória de Cuito Cuanavale.
“Agradeço em nome de todo o povo angolano ao povo cubano, pois nos momentos mais difíceis esteve sempre, ombro a ombro, com o povo angolano”, disse João Lourenço.
João Lourenço, hoje presidente nomeado, destaca a participação dos internacionalistas cubanos nas principais batalhas travadas no país, acrescentando que o povo cubano esteve na luta pela independência e defesa da soberania nacional, que lhe conferiu o direito natural de ser parte do diálogo quadripartido até os acordos de Nova Iorque. Ou seja, o Presidente da República pode mudar, mas a filosofia da mentira continua a ser a grande máxima do regime. É caso para dizer que podem mudar as moscas mas que tudo o resto ficará na mesma.