MPLA ACEITARÁ OS RESULTADOS (DA VITÓRIA, É CLARO!)

O líder do MPLA, João Lourenço, disse hoje que o seu partido vai “aceitar e respeitar” os resultados que a Comissão Nacional Eleitoral (CNE/MPLA) divulgar sobre as eleições de 24 de Agosto em Angola. Claro que vai aceitar porque quem já decidiu a percentagem da vitória foi o MPLA, e a vitória é certa.

O Presidente angolano e cabeça-de-lista às eleições gerais do MPLA, no poder desde 1975, considerou que os resultados “provisórios e depois os definitivos, quaisquer que sejam esses, devem ser respeitados pelos candidatos”. Claro que devem se forem verdadeiros.

Os partidos políticos que concorrem às eleições, “por este simples facto, assumem o compromisso da defesa da paz e da estabilidade, da Constituição e da lei e de aceitar os resultados eleitorais depois de anunciados pela entidade competente”.

A entidade competente é a Comissão Nacional Eleitoral (CNE, órgão sem credibilidade e dominado pelo MPLA), frisou, para anunciar os resultados provisórios e depois os definitivos e “quaisquer que sejam esses resultados devem ser respeitados pelos candidatos, quer sejam favoráveis a cada partido ou não”.

“Todos nós concorrentes, temos obrigação de aceitar os resultados eleitorais”, exortou João Lourenço, durante um acto político, no âmbito da campanha eleitoral, que decorreu na cidade de Ndalatando, província do Cuanza Norte.

O candidato recordou que foi implementado “em Angola um Estado democrático e de direito e isso significa que tudo se fundamenta com base na lei e esta tem de ser respeitada”.

“Esta é a posição do MPLA, não há necessidade de se inventar outros mecanismos para obrigar os cidadãos a lutar pela paz e estabilidade”, vincou.

Para o presidente do partido dos “camaradas”, igualmente Presidente da República, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, o regime democrático tem “mecanismos suficientes credíveis para garantir o respeito da paz e da estabilidade” no país “antes, durante e depois da realização das eleições”.

Alguém tem receio do anúncio dos resultados?, questionou João Lourenço, respondendo: “Ninguém. Nós, MPLA, vamos respeitá-los e estamos a convidar todos os partidos concorrentes a ter a mesma postura”. “Costuma dizer-se que quem não deve, não teme”, referiu João Lourenço, certo que está que os resultados eleitorais de 24 de Agosto, que o MPLA já ordenou à CNE para oficializar na devida altura, correspondem a uma segura maioria do MPLA.

Sobre a necessidade de haver estabilidade, neste período de campanha eleitoral, ideia que disse “é abraçada” pelo MPLA, defendeu que a estabilidade e a paz “devem existir em qualquer período havendo ou não eleições”.

“São bens (a paz e a estabilidade) que não têm necessariamente de estar colados apenas à realização das eleições. Pelo menos este é o compromisso do MPLA e esperamos que seja também o compromisso de todos os partidos políticos e que seja permanente”, reforçou.

Já sabe a percentagem da sua vitória

Em 2012, o secretário do Bureau Político do MPLA para a Informação, Rui Falcão Pinto de Andrade, disse ao jornalista Peter Wonacott (“The Wall Street Journal”) que “o fantasma da fraude, ou de qualquer outra coisa, advém daqueles que sabem, antecipadamente, que não têm capacidade para ganhar as eleições”.

Dez anos depois a receita é a mesma. No entanto, reconheça-se, Rui Falcão tinha e tem razão. E, sendo do MPLA, a razão é sua propriedade privada. E tem não porque a Oposição, nomeadamente a UNITA, não tenha capacidade para ganhar, mas porque o MPLA tem uma máquina capaz de impedir que ela ganhe.

Pouco preocupado com a força da razão (prerrogativa que UNITA tem), o MPLA joga – como sempre – tudo na razão da força e tem garantida a vitória. Do outro lado já não está Jonas Savimbi que, embora nem sempre da forma mais correcta, aliava a força da razão à razão da força. Parafraseando João Lourenço, se “haver” necessidade, é bem possível que o MPLA consiga chegar aos 110% de votos. Mas o líder do MPLA é mais modesto, até para dar um rebuçado à comunidade internacional. Vai, apenas, ganhar com uma maioria confortável.

Nesta altura muitos dos discursos de felicitações pela vitória do MPLA, paridos nos areópagos da política internacional, nomeadamente em Lisboa, já estão escritos. Algumas malas diplomáticas já transportaram para Luanda, para serem aprovados pelo MPLA, textos de felicitações aos quais só falta acrescentar o a percentagem da vitória.

Como disse o então vice-presidente da Assembleia Nacional, João Lourenço, no dia 11 de Fevereiro de 2012, a vitória eleitoral do MPLA permitiria dar continuidade à execução dos programas concebidos pelo partido, sobretudo na área social. Dez anos depois o resultado social (entre outros) está à vista.

Já na altura João Lourenço tinha toda a razão. Só assim seria possível dar continuidade ao programa que mantém perto de 70% de angolanos a viver na miséria; em que a taxa de mortalidade infantil é das mais alta do mundo; em que só 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico; em que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade; em que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.

“Se os eleitores nos derem essa oportunidade, poderemos concluir com o nosso trabalho e pensamos que esta é a posição mais justa”, disse o também ex-secretário-geral do MPLA, quando falava à imprensa no término da IV sessão ordinária do Comité Central do partido.

Tanta modéstia até era comovente. João Lourenço sabia, como continua a saber, que com extrema facilidade, o MPLA só não terá uma vitória superior a 100% se o não quiser. Aliás, nesta altura já o Presidente do MPLA terá informado o Titular do Poder Executivo e o Presidente da República sobre qual será o resultado final da votação do próximo dia 24.

Segundo João Lourenço, não havia muitos países do mundo que depois de uma guerra destruidora de cerca de 40 anos conseguiram, em pouco tempo, realizar as acções feitas em Angola, sobretudo na área social e na reparação de infra-estruturas.

Guerra de 40 anos? Sim, claro! Provavelmente 40 anos (ou até mais) em que nada se construiu e o pouco que havia foi destruído. Todos sabem, aliás, que quando o poder foi entregue por Portugal numa bandeja de corrupção (que continua a florescer) ao MPLA, Angola era um imenso deserto ou, aqui e acolá, um amontoado de escombros.

Todos sabem que, a 11 de Novembro de 1975, Angola não tinha estradas, hospitais, aeroportos, hotéis, fábricas, prédios, escolas etc.. Não tinha mesmo nada. Por isso, o que hoje existe é tudo obra do MPLA.

Na abertura dessa reunião, o então presidente José Eduardo dos Santos (o bestial “escolhido de deus” que, entretanto, João Lourenço – por ele escolhido e imposto – transformou em a besta “escolhida pelo diabo”) disse que o MPLA e a sua direcção não temiam expor-se à avaliação e ao veredicto em eleições periódicas, onde o confronto de ideias se faça de maneira aberta, plural, honesta e civilizada, podendo cada um expressar livremente as suas opiniões e anunciar os seus programas e ideais.

Eduardo dos Santos retirou estas frases dos programas eleitorais de países democráticos, coisa que Angola não era, não é e nunca será enquanto o MPLA for poder. Mas isso também não é relevante. Ou por outras palavras, Angola é nesta altura um raro paradigma de democraticidade, a ponto de que até os mortos votam.

“E é por estarmos conscientes de que o programa do nosso partido exprime a vontade do povo que partimos sempre para qualquer disputa política com a certeza da vitória”, disse o então presidente dono do país e “paizinho” de João Lourenço.

E disse muito bem. Aliás, mesmo antes da votação já Eduardo dos Santos definira a amplitude da vitória do MPLA. O resto era só para compor o ramalhete. E assim será sempre.

Vamos lá puxar um pouquinho pela memória. No dia 30 de Abril de 2008, uma viatura de marca Land Rover, foi entregue ao rei Ekuikui IV “Katehiotololo” do Bailundo, na sede comunal do Alto Hama, município do Lunduimbali, província do Huambo.

O carro foi entregue pelo coordenador adjunto para a campanha eleitoral do MPLA, João Lourenço, “à margem de um acto político de massas, na sequência do realizado no dia anterior na cidade do Huambo, ao qual o soberano fez questão de assistir”, segundo escreveu na altura a Angop.

“O rei Ekuikui IV do Bailundo, acompanhado por uma das suas esposas, agradeceu o gesto de José Eduardo dos Santos, ao mesmo tempo expressou a sua satisfação pela reabilitação das estradas e progressiva melhoria das condições de vida das populações do Bailundo”, salientou então a agência oficial do regime, ou seja, do MPLA e do seu então presidente, José Eduardo dos Santos.

O soberano anunciou então, em declarações à imprensa, que em Setembro desse ano, por ocasião das eleições legislativas, diria algo importante aos angolanos.

Nessa altura, no artigo “Um Land Rover para um rei a cinco meses das… eleições”, escrevemos que desconhecíamos se o rei iria ao volante do seu Land Rover fazer as anunciadas importantes declarações, acrescentando, contudo, que de uma coisa se podia já ter a certeza: o rei não iria cuspir no prato de quem lhe ofereceu a viatura.

Em cheio. O rei, também conhecido pelo soba dos sobas, manifestou o seu apoio ao MPLA. Tal como hoje, todos os sipaios, chefes de posto e similares têm preço, embora não tenham valor.

De acordo com o comunicado do bureau político do MPLA, “o partido que serviu durante vários anos reconhecia nele (o soba dos sobas) um exemplo de resistência tenaz contra o colonialismo português, de amor à pátria, de trabalho e de muita devoção à causa da paz, da unidade e reconciliação nacional, da liberdade e desenvolvimento do país”.

Com tantas qualidades só poderia ser do MPLA. Aliás, Ekuikui IV só passou de besta a bestial quando, para além do Land Rover, aceitou filiar-se no partido que governa Angola desde 1975.

Ainda em termos de memória, com a morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, em 2002, e o fim da guerra, Ekuikui IV passou a ser o dono do trono. E foi depois de 2002 que o até então poderoso, respeitado e honorável reino do Bailundo entrou na sua fase mais descendente com uma inaudita vassalagem ao rei do MPLA, José Eduardo dos Santos.

Vassalagem que, de acordo com a estratégia o MPLA e até à sua morte com a colaboração activa de Ekuikui IV, levou em 2008 à eliminação física do rei Utondossi II.

Folha 8 com Lusa

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