A história de Angola é muitas vezes confundida com a sua história política o que leva em certas vezes e medidas a exageros para o bem ou para o mal a omissão de factos que se julgarão amanhã de uma extrema relevância para o nosso acervo cultural, pois, Angola enquanto território ou espaço geográfico não começa aos 11 de Novembro de 1975, não.
Por Délcio Faray Muntu Jah Bless
(Mano Consciência)
É importante, que os cultores das mais variadas áreas do saber desde filosofia as artes, de consciência pura se comprometam de forma sacral em redigir com verdade e honestidade o que as gerações do amanhã não cruzem somente uma linha de dívidas legadas como património a herdar.
A par do que acima foi dito, Angola caminha divididamente entre a quarta e quinta república, isto porque, os autores políticos que movem as peças deste xadrez não sentaram ainda para sacudir a areia que se encontra no tabuleiro em que se correm os peões, cavalos, bispos, torres, reis e rainhas (dama). Setembro de 1991/1992 vive marcado na memória de modo indelével de qualquer cidadão que na altura contava já os seus 18 anos, idade limite para o exercício de sua capacidade eleitoral, se acredita ter havido capacidade de logística suficiente e necessária para a realização de um acto tão singular e peculiar quanto ao que é a participação dos cidadãos na vida política, social e quiçá económica. Invocando J. Rousseau, a sociedade politicamente organizada (Estado, poder político) é o resultado da manifesta vontade de cada membro da sociedade ou cidadão confiar parte da sua soberania a um ente capaz de realizar suas necessidades ´´colectivas´´ , ora, os cidadão angolanos maiores de 18 anos estavam completamente repletos de anseio em confiar parte da sua soberania alcançada em 1975 agora a um ente para que pudesse então por meio do voto e sã consciência gerir os bens públicos com o fito de proporcionar bem estar a todos (bem-comum), tudo isto, deu origem a famosa primeira República. Uma questão que muito se coloca nos bastidores a par da capacidade de logística, é a de saber se os homens livres daquela altura tinham consciência plena do acto que teriam materializado, realizado.
O que era a realização do acto de votar!?
Pois, uma certa corrente contesta se tratar de uma verdadeira proclamação da primeira república pelo facto de não se terem logrados com êxitos o preconizado, dado mesmo já na época a bicefalia do sistema político angolano.
Corridos longos 16 anos, Setembro de 2008, o país por ordem de várias forças se confrontava com um criado fantasma sempre muito bem arrumado chamado ano eleitoral, muitos jovens de 90 respiravam ansiedade em exercer o seu direito de voto pela primeira vez num Estado que se vociferava de Direito, pois, o Democrático era e é muito discutido e contestado. Essa juventude que movimentaria a máquina toda para a elevação da segunda república (primeira para os contestário da posição acima referenciada), novamente, nunca se demonstrou insuficiência em matéria de logística quer financeira quer material. Mas, a questão fundamental volta à baila, 1991/2, se respirava pólvora em tudo quanto é canto e o clima de insegurança ou instabilidade por medo nas pessoas era ainda muito visível por razões ligadas aos autores políticos e belicistas na época que por razões muito partidas vão chegando ao conhecimento de todos, não souberam de forma humanística ultrapassar as quezílias ideológicas a fim de proporcionarem o bem-comum aos seus concidadãos a serem governados.
Ora, 16 anos depois, em Setembro de 2008, como estavam os angolanos a nível de maturidade, consciência e entendimento de bem comum para que pudessem confiar por meio do voto parte de sua soberania a entes que os levaria possivelmente a bom porto? Esses jovens, como reza a sabedoria africana, tiveram o tempo suficiente para não verem os dentes podres dos mais velhos mas ouvir e acatar a conversa nunca podre dos mesmos? O ente que compunha o poder político / Estado (governo) ao longo dos 16 anos se tinha preocupado em investir nas artes e ciências humanísticas para certamente sarar males? Que repertório cultural traziam esses jovens de 1990 para votarem, quando as escolas nada debatiam sobre eleições e cidadania? Quantos destes jovens sabiam ler e interpretar um manifesto eleitoral, uma promessa política, uma agenda ou programa de governação? O que poderiam então legar como exemplo de voto consciente aos meninos (jovens) que iriam exercer o seu direito de voto em 2008? Chegados novamente as velhas histórias, em Setembro, lá estava mais uma pomposa proclamação da segunda república.
Assim, o país foi sedimentando um ritmo de normalidade a nível de pleitos eleitorais e dúvidas não restavam que se traduzia em um novo normal para o palco político e social angolano a periodicidade eleitoral.
Em Agosto de 2012 com uma erosão vulcânica no que respeita ao acesso a internet e redes sociais em Angola, se criou a geração “virtualista” ou virtual, uma geração tingida para se alegrar com os avanços das tecnologias mas com uma certa fobia, pouca ousadia e certo sentido de letargia para gladiar e deflagrar de forma feroz assuntos assentes ao poder político, social e económico. Os poucos que a essa aventura se lançavam acabavam escorregando, certamente alguns, a dores musculares múltiplas.
As pessoas eram alegres mas não felizes, eram simpáticas e sorridentes mas não livres. Viviam divididos entre o real e as emoções do virtual. Chegou pela primeira vez o agosto com suas velhas histórias, havia como de costume superávit de logística mas a nível de recursos conditio sine qua non pendia sobre o mesmo um imposto muito alto a pagar, já se podia falar em alguns, uns e outros que demonstravam saber o fim de mais um ano eleitoral, os canais televisivos exageravam vezes sem contas na repetição dos fazedores de opinião entre as áreas da sociologia, direito e analistas políticos, como que se essas fossem o paraíso do saber e do humanismo. Assim, era a proclamação da terceira república.
Já o mais recente pleito eleitoral ocorreu em agosto de 2017, com comentários de transições, rupturas e alternância. Todos falavam e comentavam mas a questão fundamental das artes e humanismo passava sempre a margem do ser e dever ser, pois, se diz entre o real e o ideal permeia o possível. E assim, em agosto deste ano assistimos o nascer da quarta república onde apesar de alguns fantasmas cobrarem certas dívidas e resoluções, ainda assim, vimos já um certo número daqueles que desejam confiar parte da sua soberania, a um ente, um pouco mais esclarecida.
Chegados a 2022 com as eleições convocadas para 24 de Agosto, a questão de base continua, porque a outra razão já sabemos continuar em superávit. Pois, todos têm bilhetes, cartão de eleitor, cartão do munícipe, passaporte, todos conhecem aviões, helicópteros, avionetas e certas vias é possível afinal dar a elas o ar da sua graça. Mas, e a consciência do homem – cidadão, já está formada e abastecida? Já se investiu no humanismo e nas artes? Os tempos de antenas serão reservados para reavivar fantasmas, medos e ilusões do passado ou para demonstração de projectos viáveis e exequíveis? Os debates televisivos serão para acusações e insultos ou para demonstrações de caminhos para o bem-comum? Já se construiu o homem novo tal como invocado no hino nacional ou assistiremos uma guerra de comadres em busca do mesmo homem somente para publicidades de grandezas?
MINHA CONSCIÊNCIA
Sem corrermos muito profundamente sobre a etimologia, definição e sentido da expressão Consciência, ficamos com a de fácil compreensão ao leitor, consciência quer dizer: com conhecimento, através do conhecimento ou por meio do conhecimento.
Partindo desta ideia geral, nasce a questão, temos conhecimento de quê sobre esse ano, pleito eleitoral? O que se sabe dos programas políticos de governação? Percebemos de política, economia, desenvolvimento, bem – estar e bem comum? Temos noção do que iremos realizar em Agosto?
Se essas questões e outras forem bem estudadas e respondidas, acreditamos que o nosso voto terá o peso de nossa consciência. Uma consciência pura e sã, longe da errónea e corrupta por alguma razão qualquer que seja, sobretudo, a corrupção da necessidade que sustenta a velha luta entre a moral e a necessidade.
Educar nada mais é do que humanizar, mas essa humanização deve ser acima de tudo integral, isto é, uma educação ou humanização que diga respeito a todo homem e ao homem todo a fim de gerar valores, princípios e desenvolvimento que catapultam quer o próprio homem quer a sociedade (Estado, Nação, País) em que se vê inserido para patamares de um forte desenvolvimento sustentável.
Mas, como se faz a consciência ou se constrói?
O alicerce ou alfobre é certamente a família, seguida pelo Estado e depois surgem as demais instituições sociais. O modelo de gestão dessas instituições ditam em muito o estado de consciência de um cidadão, me diz que definição de cesta básica tens e dir-te-ei que cidadão tens ou me diz o que pensam as tuas instituições e dir-te-ei que sociedade (homens) tens. Esse jogo de aldeia global de consciência em formato de teia de aranha demonstra irrefutavelmente como anda tudo tão intimamente interligado.
É necessário que a adesão a qualquer pleito eleitoral seja do lado activo como passivo munido de uma consciência longe da carência e do conflito intransigente entre moral e necessidade, pois, dúvidas não restam que para o tecido social vigente a necessidade suplanta a moral (conhecimento) em quantidade e qualidade, tudo porque falhamos enquanto projecto invocado no hino nacional ««construir no trabalho o homem novo»» a construção do homem novo resulta de uma aposta ateniense-espartana na construção de valores (consciência) a partir do investimento em artes, perspectiva de uma verdadeira liberdade de consciência.
Diz-me que consciência têm os teus cidadãos e dir-te-ei que Estado, País, Nação tens!
MEU VOTO
Dita a Constituição da República de Angola que o cidadão angolano atinge a maioridade aos 18 anos de idade, isto é, se julga que com esse número de idade o cidadão, não se confunde com a pessoa, é suficientemente capaz para responder e conduzir por si a sua vida, entretanto, lhe é confiado ainda por meio do instrumento legal invocado a capacidade eleitoral activa e passiva como meio de participação na vida pública, tudo isto se depreende à luz dos artigos 24º, 52º, 54º todos da Constituição da República de Angola.
Votar é confiar a determinado sujeito poderes para que em meu interesse aja dentro dos limites e marcos que o é confiado, porém, há um sentido inverso desta confiança, ou seja, essa confiança não é verdadeiramente natural, é resultado de um processo de enamoração ou conquista por parte daquele que deseja a minha confiança (voto), essa conquista surge por meio de um manifesto, programa de governo devidamente discutido e exequível no período previsto. Os jovens de 2004 e toda franja social com capacidade eleitoral activa e passiva, já leu os respectivos programas dos eventuais actores políticos? Ou estão em casa sentados com o controlo remoto em mão esperando um comentário de acusações abusivos de duas horas de quem melhor emprega o verbo?
O meu voto, seja ele o primeiro ou o quinto, deve ser diferente. Deve realmente incidir há um projecto com sentido real de exequibilidade, segurança, certeza, confiança e já mais ser doado a meros aventureiros vendedores de pátria e autênticos combatentes da fortuna. Pois, meu voto, minha consciência e dignidade, será proporcional a minha liberdade de consciência.
BEM–COMUM
Somos apologistas da tese segundo a qual o novo nome de paz é desenvolvimento, mas, um desenvolvimento sustentável e integral, que diz respeito ao homem todo e a todo homem. A nossa matriz constitucional do seu ponto de vista formal assegura bases sólidas de bem-comum a partir de uma justiça social, que tem muito que se lhe diga, pois basta abrirmos as nossas portas de casa e olharmos para as ruas de nossa mãe pátria e questionarmo-nos que justiça social e bem-comum temos?
Ora, alinhamos nosso entendimento de bem-comum, o mesmo que ensina a doutrina social da igreja católica na voz da carta – encíclica Pacem in Terris (1963), do Papa João XXIII: “O bem comum consiste no conjunto de todas as condições de vida social que favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana e sua sociedade.”
O bem-comum nasce efectivamente da nossa noção de consciência, uma vertente muito mais antropo-ontológica e axiológica, uma consciência sã longe da errónea, uma consciência com noção clara de moral e necessidade, essa consciência no âmbito de um dos exercícios do seu dever de cidadania, isto é, o seu exercício de voto (votar) não se deixa corromper tendo em conta o interesse colectivo, esse interesse colectivo revela a felicidade comunitária a partir de sua matriz de justiça social colocando o homem no centro e vértice de toda a esfera social e salvaguardando sempre a sua dignidade.
Portanto, muito já não nos resta dizer, se não: MINHA CONSCIÊNCIA e MEU VOTO, ESSÊNCIA DE BEM-COMUM!
Nota. Todos os artigos de opinião (mesmo em termos de ortografia) responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.
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