MEMÓRIA NÃO DEIXA A VERDADE PRESCREVER

Este texto foi publicado em 10 de Novembro de 2005 pela Agência Lusa, sob o título “Cravinho deve pedir desculpas por insultos à UNITA ou ser demitido-CDS/PP”. Trata-se de João Gomes Cravinho, ex-ministro da Defesa de Portugal e hoje ministro dos Negócios Estrangeiros. A memória não deixa a verdade prescrever.

O CDS-PP condenou hoje as “inaceitáveis declarações” do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação sobre o líder histórico da UNITA, considerando que João Gomes Cravinho deve ser demitido se não pedir desculpas ao partido. Em comunicado do gabinete do presidente do partido, o CDS/PP manifesta o seu “protesto e indignação” pelas declarações de Cravinho, sábado, ao Jornal Expresso, em que descreve Jonas Savimbi, líder histórico da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) como “um monstro” e um “Hitler africano”.

“O CDS/PP considera que a UNITA e os angolanos são credores de explicações e de um pedido de desculpa, e, se assim não for, recomenda a demissão do senhor secretário de Estado”, refere o comunicado.

Os democratas-cristãos afirmam ainda que, “no quadro da política externa e de cooperação e, em particular, no contexto importantíssimo das relações privilegiadas com Angola, o governo português tem que assegurar que quem chefia a diplomacia da cooperação não se exprime como um carroceiro e não actua como um agente provocador convocando lastimáveis incidentes”.

Neste sentido, o partido português considera que as declarações de Cravinho “revelam ignorância e sectarismo”, e “evocam tristemente, pelo seu tom provocador e incendiário, as piores ingerências de responsáveis portugueses na História recente de Angola”.

O CDS/PP defende que Angola, “após anos de trágica guerra civil” deve poder contar “com o apoio solidário e imparcial da comunidade internacional, da União Europeia e, em particular, de países-irmãos como Portugal”.

Na reacção, quarta-feira, às declarações de Cravinho, o Comité Permanente da UNITA considerou tratar-se de um “insulto intolerável” e de uma “grotesca ingerência” nas relações com Angola. Jonas Savimbi, morto em combate na província angolana do Moxico em Fevereiro de 2002, foi o fundador e líder histórico da UNITA.

A direcção da UNITA decidiu enviar ao primeiro-ministro português, José Sócrates, uma carta manifestando o seu “veemente protesto” pelo que entende ser uma “grotesca e infantil ingerência do seu principal porta- voz em matéria de relacionamento com Angola”.

“Quanto a João Cravinho, convirá dizer, para refrescar a sua seca memória, que quem tem hitlerismos consigo e cometeu monstruosidades indescritíveis foi uma parte dos colonizadores, de que ele é indefectivelmente uma continuação biológica”, disse a UNITA.

O maior partido da oposição angolana referiu, no entanto, acreditar que “os dirigentes portugueses responsáveis, sem miopia política nem servilismos mercantilistas, saberão respeitar e trabalhar com os angolanos para criar o quadro psicológico necessário ao bom desenvolvimento das relações entre os dois povos”.

Por outro lado, destaca a “clarividência do povo português, que, ao contrário de certos membros do seu governo, sempre soube posicionar-se ao lado de todos os angolanos”.

O governo português recusou quarta-feira comentar esta reacção da UNITA.

Em declarações à Agência Lusa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, António Carneiro Jacinto, afirmou que o governo português “não comenta” a reacção da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) às declarações de João Gomes Cravinho.

Artigos Relacionados

Leave a Comment