MANDELA, EDUARDO DOS SANTOS E… O TAL

O antigo Presidente da República sul-africano, Nelson Mandela, que nasceu a 18 de Julho de 1918, exortou vezes sem conta a Humanidade a criar um mundo melhor, com mais justiça e liberdade para todos. Pois. Seria bom. Seria sim senhor… João Lourenço.

O ex-presidente e Nobel da Paz, que passou 27 anos nas cadeias sul-africanas por ousar resistir ao regime de minoria branca, afirmou também por inúmeras vezes que “está nas nossas mãos criar um mundo melhor para todos os que nele vivem”.

Recordam-se que José Eduardo dos Santos enfrentou, isto é como quem diz, críticas por não ter decretado um dia de luto e não ter ido às exéquias de Nelson Mandela? Tudo sem razão. Afinal quem era, é e será sempre, Madiba para que o então Presidente angolano (paladino das liberdades e da reconciliação) se sentisse na obrigação de estar presente?

Sim, num continente onde Eduardo dos Santos foi o maior até entregar o Poder ao seu carrasco (João Lourenço), não fazia sentido a sua presença. Reconheça-se também que mandar o Vice-Presidente foi um acto magnânimo que os sul-africanos nunca esquecerão…

A ausência de Eduardo dos Santos, em boa verdade, não espantou. O seu espírito de reconciliação sempre foi bem visível. A partir do momento em que Nelson Mandela recebeu esse temível terrorista, e inimigo público mundial, que dava pelo nome de Jonas Malheiro Savimbi, foi riscado da lista dos grandes estadistas, que foi – obviamente – liderada pelo próprio José Eduardo dos Santos e agora tem em João Lourenço o seu expoente máximo.

Diz-se, sem razão porque ele pertenceu a uma classe divina que não podia ser julgada pelos simples mortais, que o José Eduardo dos Santos foi criticado até no seio do seu próprio partido. Nada mais injusto. O MPLA deveu-lhe tudo que é e o que será, ou não tivesse ele a visão (turva) de João Lourenço seria o melhor substituto. Deveria, inclusive, reconhecer e louvar o facto de o seu então Presidente não se misturar com a escumalha mundial. Excluindo o Presidente e líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e talvez Teodoro Obiang, não se vislumbrava quem chegaria aos calcanhares de Dos Santos. Ledo engano. Aí está João Lourenço.

O mundo sabe, e por inerência também o MPLA, que Nelson Mandela não foi o ícone da luta contra o “apartheid” na África do Sul, nem o paradigma das liberdades e da reconciliação. Esse foi um atributo, entre muitos outros, exclusivo de Eduardo dos Santos… devidamente apoiado em… (João Lourenço, claro!).

Espantaram-se os observadores que José Eduardo dos Santos nada tivesse dito sobre o legado deixado por Madiba. Santa ignorância. A ter de falar de legado falaria do seu, ou não fosse ele durante 38 anos o líder histórico que, para além de um ambicioso programa de reconstrução nacional”, sendo que (citemos o Jornal de Angola) a “sua acção ter conduzido à destruição do regime de “apartheid”, teve “um papel de primeiro plano na SADC e na CDEAO”, e “a sua influência na região do Golfo da Guiné permitiu equilíbrios políticos, tal como permitiu avanços significativos na crise de Madagáscar”.

Na verdade, sejamos francos, Eduardo dos Santos nada tinha a aprender com Mandela. O contrário é que teria feito sentido. A reconciliação encetada por Madiba é algo de arcaico que nunca fez sentido. Modernamente, reconciliar significa prender, torturar e assassinar. Significa estar no poder dezenas de anos sem nunca ter sido eleito, significa ter pelo menos duas espécies de cidadãos, os de primeira (afectos ao regime) e os outros, escravos ao serviço de sua majestade.

Para Eduardo dos Santos existiam valores muito mais relevantes. Comparar Nelson Mandela a Eduardo dos Santos era o mesmo que dizer que os rios nascem no mar. Todos, ou quase, sabemos que não é assim. Mas se, um dia, o “escolhido de Deus” assim quisesse, um dia isso iria acontecer.

Ao contrário de Mandela, como dirão as páginas da biografia do ex-Presidente, “José Eduardo dos Santos não governou trinta e tal anos. Ele foi o líder de um povo que teve de enfrentar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeiros e os seus aliados internos”.

“José Eduardo dos Santos foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionado. José Eduardo dos Santos só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democráticos”, recordará (recuperando o que escreveu centenas de vezes) também o Pravda.

Não foi graças a Mandela que Portugal adoptou a democracia, que a escravatura foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar. Foi, isso sim, graças a José Eduardo dos Santos.

Nelson Rolihlahla Mandela (nascido a 18 de Julho de 1918 e falecido a 5 de Dezembro de 2013) foi um activista revolucionário sul-africano contra o apartheid, e um político que foi Presidente da África do Sul entre 1994 e 1999. Mandela foi o primeiro negro sul-africano a desempenhar essa função, e o primeiro eleito numa eleição multirracial e totalmente representativa.

O seu governo concentrou-se em desmantelar o legado do “apartheid”, combatendo o racismo institucionalizado, a pobreza e a desigualdade, e promovendo a reconciliação racial. Ao longo de 67 anos, Nelson Mandela dedicou a sua vida ao serviço da humanidade – enquanto advogado de direitos humanos, prisioneiro de consciência, mediador internacional para a paz, e como primeiro presidente eleito democraticamente numa África do Sul livre.

Nascido em Xhosa na família real Thembu, Mandela frequentou a Universidade de Fort Hare e a Universidade de Witwatersrand, onde estudou direito.

Como Presidente, estabeleceu uma nova Constituição e iniciou uma Comissão de Verdade e Reconciliação para investigar violações passadas de direitos humanos. Continuando a política económica liberal do anterior governo, a sua administração introduziu medidas para encorajar a reforma agrária, combater a pobreza e expandir os serviços de saúde.

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