Em Angola, 2017 foi um ano de esperança. João Lourenço tomava posse. Sucedia na presidência a Eduardo dos Santos, prometia refrescar a sociedade angolana e combater militantemente a corrupção. Volvidos cinco anos, a decepção é total e absoluta!
Por Paulo de Morais
Presidente da Frente Cívica
O combate de João Lourenço à corrupção foi um combate fingido. O Presidente deu sinais de abertura no início de mandato, nomeadamente até parecendo tolerar alguns opositores políticos, como Rafael Marques ou Luaty Beirão. Chamou à esfera da Administração personalidades respeitadas, como Lopo do Nascimento ou Marcolino Moco. Mas estas aproximações mais não eram, afinal, do que operações de charme, puro fingimento.
Nesses anos já longínquos de 2017 e 2018, João Lourenço prometia recuperar os activos públicos, bens extorquidos pela corrupção; e gerar emprego e riqueza, com os recursos provenientes desses arrestos e confiscos.
Mas, volvido o tempo de todo o mandato, de combate à corrupção, de facto, nada vimos. Houve o anúncio de confisco de bens e empresas aos familiares de Eduardo dos Santos, nomeadamente da sua filha Isabel. E só! Toda a restante oligarquia do MPLA manteve os seus hábitos de sempre, enriquecendo à custa das riquezas de Angola e provocando mais pobreza aos angolanos.
Nos dirigentes próximos de João Lourenço – políticos e empresários – ninguém tocou. O Presidente defendeu os seus amigos, dentro e fora de portas. O ex-vice-presidente, Manuel Vicente, estava acusado pela Justiça, aqui em Portugal, no âmbito do “Processo Fizz”, por ter subornado um procurador, Orlando Figueira. A pedido de Vicente, Figueira teria arquivado um processo judicial anterior de Vicente, num caso de branqueamento de capitais. Em vez de exigir justiça, Lourenço defendeu acriticamente Vicente. O Presidente enviou o Procurador-Geral de Angola a Lisboa, conseguindo a transferência do processo para Angola, onde Vicente jamais será julgado, pois goza de imunidade. Combate à corrupção? Não, protecção de apoiantes!
Também no caso do Banco Espírito Santo (Angola) – presidido por Álvaro Sobrinho, próximo de João Lourenço – de onde desapareceram cerca de cinco mil milhões de dólares, a Justiça de Angola se absteve de intervir. O prejuízo resultava de empréstimos que o BES(A) tinha feito a dignitários do MPLA, sem que estes tenham devolvido o que deviam. Esta é uma história aliás bem amarga para milhares de portugueses, pois foi o BES de Portugal que assumiu esse prejuízo, a troco de uma garantia soberana de Angola que nunca foi accionada, por falta de vontade das autoridades de Luanda e com total cumplicidade dos governos de Portugal.
A atitude de João Lourenço, de protecção a muitos esquemas de corrupção – como os que acima dou nota, entre muitos outros – trouxe-nos à situação actual. Não se conhecem quaisquer bens arrestados a favor do povo angolano, não se quantifica a massa financeira que foi confiscada. E, sobretudo, Lourenço não consegue evidenciar que riqueza se gerou, que postos de trabalho foram criados na sequência da sua hipotética política de combate à corrupção. Um logro, um embuste.
Foram cinco anos perdidos. A nomenclatura do MPLA, que se assume como dono de Angola, continua a enriquecer. O povo, esse, deveria ser o verdadeiro detentor das riquezas do país, mas continua a viver na pobreza, a auferir salários de miséria, sem um sistema de Educação que o desvie do seu destino de pobreza, sem um sistema de Saúde que o proteja na doença. Os dirigentes do MPLA continuam milionários, o povo sem dignidade. O “combate à corrupção”, prometido por Lourenço, não chegou. João Lourenço não soube, ou não quis, proporcionar melhores condições de vida aos seus concidadãos.
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