JÚ, O COVEIRO DE SERVIÇO

Hoje, mais do que ontem, percebo as razões pelas quais nos mataram, prenderam e denegaram justiça, ao longo de 47 anos, principalmente, no 27 de Maio de 1977, onde o MPLA e Agostinho Neto se convenceram ser os donos de Angola e dos angolanos, ao cometerem um dos maiores crimes de genocídio do mundo, com o fuzilamento.

Por William Tonet

O membro do bureau político e secretário para os Assuntos Políticos e Eleitorais do MPLA, João Almeida Martins, mais conhecido por Jú Martins extravasou os limites do bom senso, ao adornar o boçalismo político, ao afirmar, que “o mandato não se negoceia conquista-se”. Mentira! Retrocesso!

No contexto da roda da política interna dos Estados civilizados, onde a independência dos órgãos são uma realidade impenetrável e a interdependência um veio de água, os agentes partidários, têm de respeitar e ajustar as regras mutáveis, inspiradoras da estabilidade, que precisa de ser escrutinada em ambientes de tensão ou crispação.

A rejeição do diálogo e de negociação para serenar o ambiente político, tem maternidade nos países párias, fascistas, ditatoriais onde os seus dirigentes navegam nas ondas do império, da arrogância, miopia, falta de humildade, corrupção, apego as mordomias ilícitas e analfabetismo intelectual, que os torna incapazes de ver para lá do dobrar do horizonte.

Foi, para um intelectual, mesmo partidocrata, uma assertiva deplorável, num momento ímpar para o país, assente desde 1975, em frágeis pilares discriminadores do pensamento diferente dos outros cosmos políticos e civis, cuja maturação e rejeição nunca esteve tão alta, como agora, no escrutínio da má gestão e governação, promotora da fome, miséria, desemprego e que tem sido incapaz de sair da velha lógica das promessas e lei dos canhões.

A desvalorização de um encontro, que afinal ocorreu, no 27 de Maio de 2022 (recorde-se que o 27 de Maio de 1977 é uma data sinistra para o próprio MPLA, por ter sido o início do maior genocídio de que há memória, no pós independência), com a duração de mais de 3h30’ (três horas e meia) entre duas delegações do MPLA e UNITA, presididas de um lado, por Jú Martins, coadjuvado por Virgílio Fontes Pereira e do outro por Adalberto da Costa Júnior, não foi positiva, no actual contexto.

Nem uma criancinha de 10 anos acredita que políticos mais velhos, tenham realizado um encontro, sem uma agenda prévia (verbal ou escrita) por mais de 3h30’, apenas para falar de “jardadas”, barris de fino, ou quem é mais engatatão de garotas e arredores.

Não! Mas como a mentira tem pernas inferiores às do anão, logo tratou de dizer: “durante algum tempo, desde Março desse ano, fui sendo abordado pelo presidente do Grupo Parlamentar do MPLA, no sentido de me disponibilizar para um encontro que o actual Presidente da UNITA queria realizar comigo”.

O facto de Adalberto da Costa Júnior não condicionar (o facto de João Lourenço, não estar presente) a qualidade dos interlocutores demonstra, em política, humildade e higiene intelectual do líder do Galo Negro, quando em causa estão os mais altos interesses do país.

Em exclusivo ao F8, João Cristiano Pekuissole, militante do MPLA, confidenciou os assuntos que estiveram em cima da mesa:

a) forma e processo de transição; b) credibilidade do processo eleitoral; c) manutenção na CNE, de Manuel da Silva “Manico”; d) INDRA; e) mortos na base de dados do ficheiro informático eleitoral da CNE; f) desproporcionalidade no tratamento da comunicação social pública; g) fim da linguagem musculada e bélica de regresso à guerra do presidente do MPLA, do ministro do Interior e principalmente do general Francisco Furtado; h) garantias de não perseguição política, económica, jurídica dos perdedores de 24 de Agosto de 2022; i) partidarização do sistema judicial, principalmente do Tribunal Constitucional, com responsabilidade eleitoral; j) pacto de regime.

Bravo! E qual foi o crime? Simples. Adalberto da Costa Júnior, acreditando na seriedade do diálogo, depois de ouvir o Presidente da República, João Lourenço, indigitado pelo presidente do MPLA, João Lourenço, a falar sobre o Pacto de Regime, numa perspectiva distinta da do proponente, veio a terreiro, também, falar, na generalidade, mas sem entrar em pormenores, da famosa reunião secreta de 27 de Maio de 2022, feita “dessecreta” duplamente (JLo, 1.º e ACJ, 2.º)…

Só isso poderia ter causado a irritação, no dia 01.08.22, daquele(s) que se julga(m) o(s) todo(s) poderoso(s) dono(s) de Angola, numa atabalhoada conferência de imprensa, não para urbanamente explicar algo, mas para “achincalhar” e discriminar o outro (ACJ/UNITA), realizando na sede do MPLA, com cobertura exclusiva dos órgãos de comunicação social pública do MPLA e dos próximos, umbilicalmente: Lusa e RTP (complexo e assimilação, oblige), com expressa exclusão dos demais meios de imprensa independentes.

O trungungu de Jú Martins, em desvalorizar a reunião das duas maiores forças políticas, onde analisaram e discutiram, com profundidade, o contexto de tensão, pré eleitoral, capaz de ditar, positiva ou negativamente, o futuro do país, não é inteligente e descredibiliza, ainda mais o MPLA e João Lourenço.

Isso, principalmente, quando diz: “o MPLA aborda a política com muita seriedade, e que o actual líder da UNITA deveria ter mais responsabilidade na política nacional”.

O grande busílis é o de se saber em que esquina se pode apalpar a “seriedade” do partido governante. Na nomeação da membro do bureau político, detentora de dupla nacionalidade, Laurinda Cardoso, para presidente do Tribunal Constitucional? Ela agiu, partidocratamente, sem fundamentos jurídicos, na anulação do XIII Congresso da UNITA, na vã tentativa do MPLA arredar Adalberto da Costa Júnior da liderança do Galo Negro…

A seriedade está na imposição de um presidente da CNE, Manuel da Silva, sem os requisitos e procedimentos legais, para o exercício do cargo, uma vez ter cometido crimes de corrupção, quando esteve a frente da comissão eleitoral de Luanda, segundo denúncia fundada do Juiz Pereira da Silva Neto, ex-presidente da CNE.

Existe seriedade com a criação de um monopólio na comunicação social (confiscando, nacionalizando, arrestando, a TV Zimbo, TV Palanca, Rádio Mais, O País, Expansão, Vida TV, etc.) cujo objecto é o apoio exclusivo em João Lourenço e MPLA, com a gravidade do fim maior ser a diabolização dos adversários políticos internos e externos?

É seriedade em período eleitoral o MPLA promover corrupção eleitoral, com a criação de passes de transporte, financiamentos bancários, em bancos onde é accionista, etc.?

Portanto, de seriedade estamos conversados, apenas com estes parcos exemplos. Por outro lado, não assumir que quem violou primeiro a reunião foi João Lourenço, no 09.06.22, no mesmo dia que mais uma vez, para mostrar a podridão no interior do MPLA atacou Eduardo dos Santos e as filhas Isabel e Tchizé dos Santos de tentativa de, com o beneplácito do presidente emérito, apropriarem-se, ilicitamente, na sua opinião, de mais de 380 milhões de dólares do Estado, em contratos considerados leoninos da Barra do Dande, Marginal da Corimba, entre outros.

Na ocasião, João Lourenço disse: “recebi em dois momentos diferentes correspondência de um partido da oposição que fez essa proposta por escrito. Considerei desnecessária, porque da análise que fiz dessa proposta, cheirava-me a governo de unidade e reconciliação nacional, algo que aconteceu há décadas. Já tivemos, hoje não temos necessidade disso. Aceitar fazer o pacto com um dos partidos significaria também preterir os restantes com assento parlamentar e desrespeitar a vontade dos eleitores que escolheram uma maioria parlamentar do MPLA”.

Mais adiante deixou uma picardia à UNITA, “é estranho que quem vem fazer essas propostas é quem diz que está em melhores condições de vencer com a maior facilidade as eleições. Então precisa desse pacto para quê? Um pacto de regime não tem mais força do que a Constituição e a lei”. Ora, Adalberto da Costa Júnior apenas veio falar, sem entrar em pormenores, mais de um mês depois, aludindo estar a haver encontros entre as partes, onde se está a discutir aspectos de transição pacífica. Não disse de consagração eleitoral indiscutível.

Jú Martins ao considerar esta declaração “de gratuitas e eivadas de qualquer verdade, proferidas por alguém que, na política nacional, devia ter mais responsabilidade”, não dizendo qual foi a verdade, abre uma forte suspeição sobre a avenida da seriedade, tão eloquentemente evocada. Deveria, ainda que dolorosa, dizer o que se passou, para não ser acusado, voluntária ou involuntariamente de pequenez intelectual ou de estar a defender o indefensável, devido aos alegados negócios da empresa SINFIC (ligada à informática), que se diz ser accionista e com contratos na Comissão Nacional Eleitoral.

Verdade ou mentira tudo incrimina, tanto que foi Jú Martins que, em 2017, antes da CNE, apresentou resultados eleitorais provisórios, dando vitória ao MPLA, sem escrutínio de nenhum comissário ou órgão provincial e nacional eleitoral por uma margem suspeita. Infelizmente, nunca mais se alterou…

A maioria dos comissários eleitorais (UNITA, CASA-CE) denunciou, em conferência de imprensa, no dia 25.08.17, por não se reverem nos dados apresentados pelo político, por não terem sido baseados nos termos legais.

“Nenhuma Comissão Provincial Eleitoral, de Cabinda ao Cunene, reuniu-se para produzir-se os resultados que foram anunciados. Aqui estão membros que fazem parte da coordenação técnica do centro de escrutínio, igualmente eles não participaram na produção daqueles resultados”, disse o comissário da UNITA, Cláudio da Silva.

“A condução de lisura e transparência na produção desses resultados não foi observada. Ou seja, não se respeitou escrupulosamente a lei. Por isso, os comissários não se vinculam ao documento que foi produzido por pessoas que a gente não conhece, apresentando os resultados provisórios tornados públicos hoje. Não nos revemos na forma como foi produzido o documento, porque nós não fomos tidos nem achados e tivemos a oportunidade de reiterá-lo hoje na reunião plenária”, denunciou, Miguel Francisco da CASA-CE.

Esta denúncia embaciou o facto, agravado pelo facto de, nas eleições de 2017, só ter havido contagem de votos, em três das 18 províncias do país, logo os dados eram falsos e a vitória foi fraudulenta, assente na batota.

Daí ser risível a afirmativa de Jú Martins, do seu partido ganhar as eleições por ter aceitação popular e respeitar a transparência. “Não tive mandato nenhum da direcção do partido para tratar de negócios de transição nem de outra coisa qualquer, porque o mandato não se negoceia, mas conquista-se, e o MPLA tem conquistado o exercício do poder político desde 1992, 2008, 2012 e 2017, com o voto soberano do povo angolano”, concluiu, com uma das maiores heresias políticas.

Com políticos desta estirpe, em pleno século XXI, seguramente, o MPLA não vai lá, sem batota. Neste momento, os números ainda não são expressivos, mas podem estar a revelar uma tendência extremamente preocupante, capaz de levar a tomada de medidas extremas de recurso a violência, por parte do partido no poder.

Entre os pobres que representa mais de 52% do eleitorado, os jovens, uma das principais trincheiras do país, o líder da UNITA colhe mais de 65%, significando uma queda abrupta e inquietante, para as hostes do regime, que aumentam todos os dias o plafond, para a corrupção eleitoral.

O posicionamento de Bonga, músico de renome nacional e internacional, a favor da alternância constituiu um forte revés na campanha de Lourenço.

Mas o desastre maior da estratégia de João Lourenço é, no final de mandato, a derrota, na luta contra Isabel dos Santos; o fracasso do combate à corrupção, por selectivo; a perca de património económico nacional, a favor do capital estrangeiro, como a EFACEC e outros; a denuncia de José Eduardo dos Santos, em duas cartas, de lhe ter sido denegado justiça; a perca de apoio em África e no mundo, ante a perseguição escabrosa, ao homem que lhe deu, de bandeja o poder; a prisão do filho varão de José Eduardo dos Santos e a perseguição judicial aos seus próximos; o exílio das filhas. Mas o grande responsável pela baixa de popularidade de João Lourenço foi a morte de JES, no 08 de Julho, em Espanha. As reacções populares foram violentas, com as zungueiras em música acusarem-no de ser responsável da morte do antecessor.

O corpo ainda está em Barcelona e no velório organizado a oposição, respeitando as tradições angolanas, não se fez presente, alterando ainda mais o nervosismo de João Lourenço.

Tudo isso faz robustecer Adalberto onde já era maioritário e crescer nas hostes do MPLA. A nível dos cristãos, a nível da igreja católica, blinda a sua simpatia e cresce, também, entre os evangélicos.

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