GUERRA NA UCRÂNIA “CHEGA” A ÁFRICA

O conselheiro do Departamento Africano do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alex Segura, disse hoje em declarações à Lusa que o impacto da guerra na Ucrânia é “muito negativo e muito grave em África”, devido às vulnerabilidades já existentes.

No dia do lançamento do relatório sobre as Perspectivas, Alex Segura afirmou que “o impacto em África da guerra na Ucrânia é muito negativo, é muito grave, porque os países de baixo rendimento já tinham mecanismos mais limitados para lutar contra a pandemia de Covid-19, e tiveram um choque importante, com mecanismos muito menos desenvolvidos do que os países avançados para gerir a pandemia”.

Agora, continuou o conselheiro do departamento africano, “chegam numa situação de grande vulnerabilidade, e a preocupação principal do FMI é o aumento dos preços dos combustíveis e dos produtos alimentares”.

A Ucrânia e a Rússia são dois dos principais produtores de cereais, nomeadamente trigo, que é a base da alimentação em vários países africanos, nomeadamente do norte do continente.

“O impacto sobre os produtos alimentares é particularmente grave nos países de baixo rendimento, porque são muito importantes nas camadas mais vulneráveis da população”, acrescentou o conselheiro espanhol, que é também o representante do FMI em Cabo Verde.

Questionado sobre como pode o FMI ajudar os países africanos, já confrontados não só com os efeitos da pandemia, mas também com a escassa margem de manobra orçamental, Alex Segura disse que o apoio assenta em três pilares.

“Primeiro, o financiamento, através de programas de emergência e aumento dos recursos em novos programas, depois, conselhos, um diálogo profundo para discutir com as autoridades as medidas de política económica necessárias, e por último a assistência técnica, que serve para fortalecer as instituições e ajudar a definir políticas mais robustas nesta situação tão complicada”, disse o economista espanhol.

Uma das medidas fortemente recomendadas pelo FMI é a introdução de “medidas directas de apoio às camadas vulneráveis da população, com programas sociais específicos, em vez de um apoio generalizado ao controlo dos preços, que tem um impacto muito forte no Orçamento e não beneficia as camadas mais baixas da população”, explicou.

Questionado sobre como o apoio às camadas mais baixas da população pode ser feito num contexto de grande escassez de recursos e de alto endividamento, Alex Segura disse que o curso adequado de acção depende e varia de país para país.

“Angola, por exemplo, beneficiou muito do aumento dos preços dos combustíveis, porque é um país exportador de petróleo, a taxa de câmbio apreciou-se e a vulnerabilidade da dívida desceu muito, por isso o panorama é variável, em Cabo Verde, por outro lado, a taxa de crescimento baixou e a vulnerabilidade da dívida pode aumentar, por isso o cenário depende de país para país”, argumentou o conselheiro do departamento africano.

Ainda assim, explicou, há dois princípios que todos os países têm de gerir: preservar a sustentabilidade da dívida e apoiar os mais vulneráveis.

“Cada país tem de preservar a sustentabilidade da dívida, que se não for sustentável tem de ser reestruturada, que é um processo que demora tempo e precisa de um diálogo profundo com os credores, mas se for sustentável, é preciso preservá-la, e esse é um dos pilares da estabilidade”, afirmou.

O outro pilar é o da introdução de medidas de apoio às camadas mais vulneráveis da população, salientou, admitindo que preservar as finanças públicas “pode implicar um país ter de imprimir medidas de consolidação orçamental” e vincando que “é normal utilizar dívida como mecanismo de financiamento, mas de uma forma moderada porque o espaço orçamental é reduzido”.

O importante, concluiu, “é encontrar o equilíbrio entre preservar a sustentabilidade da dívida e introduzir medidas de apoio para protecção das camadas mais vulneráveis da população”.

Folha 8 com Lusa

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