A UNITA, maior partido da oposição que o MPLA (ainda) permite em Angola, exigiu (isto é como quem diz!) o Presidente João Lourenço (igualmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo) acção sobre os vários e recentes actos de agressão contra a mulher do jornalista da Rádio Despertar, Cláudio Emanuel Pinto, praticados, em Luanda, por homens desconhecidos.
Numa conferência de Imprensa, o líder do grupo parlamentar da UNITA, Liberty Chiaka, questionou o silêncio das autoridades competentes para a investigação deste caso.
Em causa estão ataques, por três vezes, a Ludmila Pinto, mulher do activista e jornalista da rádio afecta à UNITA, desde Setembro passado, num intervalo de cerca de 30 dias.
Segundo Liberty Chiaka, o primeiro ataque teve como actores dois homens armados e mascarados, que invadiram a residência do casal, enquanto o jornalista se encontrava ausente de casa, no dia 20 de Setembro, por volta do início da noite, quando “torturaram, agrediram e cortaram os braços da esposa e ameaçaram matar o filho de apenas um ano e três meses”.
Já o segundo ataque ocorreu num ginásio próximo de casa, quando um homem se aproximou “e rapidamente fez um corte na perna esquerda da esposa com um objecto cortante, bisturi”.
A mulher “levou cinco pontos e o segurança que a acompanhava não conseguiu evitar o ataque, isso foi no dia 18 de Outubro”, disse o deputado, relatando o terceiro ataque, ocorrido esta segunda-feira, quando Ludmila Pinto, acompanhada do segurança, foi ao supermercado e na saída, ao entrar para o táxi, “deu conta que a sua roupa estava ensanguentada, que tinha um corte profundo na coxa esquerda”.
“Ligou para o esposo e foram imediatamente para a clínica Estoril do Patriota. A esposa levou 15 pontos, a Doutora Selma disse que o corte foi efectuado com um bisturi. Diante desses factos queremos saber a quem interessa o clima de terror, a quem interessa o clima de medo, a quem interessa intimidar e condicionar a família de um jornalista e activista cívico”, questionou.
O líder do grupo parlamentar da UNITA interrogou por que razão os órgãos (in)competentes do MPLA-Estado, nomeadamente o Serviço de Investigação Criminal (SIC), a Procuradoria-Geral da República (PGR), os Serviços de informação e Segurança do Estado (Sinse) não agem.
Liberty Chiaka acusou os órgãos (in)competentes do Estado de inércia por terem sido “sequestrados por agentes do regime ou porque são coniventes ou autores”.
“O grupo parlamentar da UNITA vem exigir do Presidente da República uma postura republicana, alinhada à defesa dos interesses das pessoas, das famílias, das empresas. Ninguém investe num país onde a corrupção coabita com o terrorismo de Estado”, afirmou.
De acordo com o deputado, “o Estado é responsável por esta acção de terrorismo”, caso contrário “os autores, tanto morais como os autores materiais estariam presos”.
“O Estado tem condições tecnológicas e humanas para hoje mesmo deter os autores daquele acto. Primeiro, o Kero do Kilamba tem câmaras de vídeo-vigilância, segundo, o autor moral do acto, o mandante deste acto de terrorismo, enviou uma mensagem, a dizer ao jornalista, que ele estaria a ver a sua esposa a morrer aos poucos e dizia textualmente já tinha avisado o chefe, o seu ‘boss’ Adalberto [líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior]”, frisou.
O deputado salientou que está a ser reeditado “o regime de terror dos últimos três anos”. Liberty Chiaka, ao falar de reedição do terror está a reconhecer a existência de um período em que ele não existiu, o que não é verdade. O regime de terror existe há 47 anos e o facto de ter tido períodos de hibernação não significa que tenha deixado de existir.
“Os angolanos são testemunhas, nos últimos três anos, a imprensa pública foi usada para combater a UNITA, para combater o seu líder, os tribunais foram usados para condicionar a competição política, inviabilizaram a constituição de partidos políticos sérios, inviabilizaram o congresso da UNITA, tentaram inviabilizar a candidatura da UNITA por via dos tribunais, muitos membros da UNITA foram comprados e temos provas, por responsáveis dos Serviços da Segurança do Estado”, descreveu.
Para a UNITA, esta é uma mensagem directa para o activista e jornalista Cláudio Emanuel, conhecido por Cláudio In, apresentador de um programa de crítica social, denominado “In”, há cerca de dez anos, que passa entre as 17:00 e 19:00, às segundas, quartas e sextas-feiras.
Certamente por falta de tempo, ou de espaço na árdua agenda de trabalho da UNITA, Liberty Chiaka não falou do facto de o jornalista José Honório, da Delegação da Agência de Notícias (Angop) em Benguela, ter sido vítima de tentativa de homicídio por asfixia por parte de agentes da Polícia Nacional (do MPLA) quando defendia vendedoras ambulantes que poderiam ter visto apreendido todo o seu produto.
O jornalista, que diz ter deixado o hospital com ferimentos resultantes de pontapés e cabeçadas, explicou na altura que as senhoras não vendiam na via pública, como acontece sempre que são autuadas, e revelou que os agentes da ordem invadiram o edifício onde se encontravam.
O caso de José Honório, já condenado pelo Comando Provincial da Polícia, vai ser levado à Procuradoria Militar pelo seu advogado.
Já depois da jornada laboral, sem os aparelhos para reportagem, José Honório evidenciou a sua atitude cidadã ao insistir com apelos ao bom senso quando as vendedoras ambulantes viam fugir o seu sustento.
“Vendo que eu continuava a implorar por um tratamento digno para as senhoras, desviaram todo foco da operação contra a minha pessoa, num momento de terror indescritível. Pegaram-me pelas pernas, os braços, fizeram tudo, substituindo o diálogo pela pancadaria gratuita”, conta o jornalista, acrescentando que “fui levado à força, lutei, mas sozinho nada pude fazer, algemaram-me a mão esquerda, com chapadas na cara”.
O jornalista, que tinha a companhia da filha de três anos e de uma irmã, assume que não se importava de seguir os seis agentes até uma esquadra, se necessário fosse, na sua própria viatura, mas não foi atendido.
Ele diz ainda que ouviu o pior a caminho da unidade, numa operação, como refere, dirigida pelo agente Isaac Jimi.
“E como se não se contivessem, a dado momento do percurso, um dos agentes disse ‘nós vamos te tirar a vida, vamos te matar’, e eu gritava não façam isso, em nome do comandante Ary (comandante provincial) mas eles diziam que ‘se o comandante é teu tio não vai fazer nada’. Eu disse que não, não é meu tio, salientando ainda que eles estavam a pisar na minha camisola da Angop, camisola de reportagem”, denuncia.
“Levaram-me cafricado, foi uma tentativa de homicídio por asfixia, é o que vai dizer o meu advogado, porque não há vida sem respiração”, conclui José Honório.
Em reacção, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia em Benguela, Ernesto Pedro Tchiwale, assegura que a Inspecção iria ouvir os agentes em causa, que podem levar castigos que vão até à expulsão.
“Lamentamos profundamente o sucedido, os agentes já estão a ser interrogados no quadro deste processo. Se forem culpados, vão ter as respectivas sanções, que vão desde a repreensão até à demissão compulsiva. Estamos a ter em consideração o que nos diz o ofendido”, avança o oficial.
José Honório não foi agredido em exercício de funções, mas associações profissionais, como o Sindicato dos Jornalistas Angolanos e o Clube de Imprensa de Benguela, repudiaram o sucedido de forma veemente, manifestando solidariedade para com o funcionário da Angop.
Legenda: José Honório e Cláudio Emanuel Pinto
Folha 8 com VoA