O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), disse hoje que as eleições gerais centralizaram a conversa com o Presidente angolano, ocasião em que foi relançada a cooperação para o combate dos problemas sociais. Assim, José Manuel Imbamba poupou tempo. Falou ao mesmo tempo com o Presidente do MPLA, com o Titular do Poder Executivo e com o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, João Lourenço.
José Manuel Imbamba, que falava no final da audiência concedida pelo Presidente João Lourenço, disse à saída do Palácio Presidencial, à Cidade Alta, que o encontro “se impunha pelo momento que vive o país”.
“É um encontro que se impunha pelo momento que estamos a viver, estamos num ano eleitoral e foi o tema que ocupou a maior parte do tempo, os conselhos devidos que como igreja tivemos que dar”, afirmou o arcebispo aos jornalistas.
Segundo o presidente da CEAST, os conselhos da Igreja Católica surgem para que a hora que se está a viver se “eleve na dignidade de cidadãos, na dignidade de irmãos que sabem conviver na diferença, na dignidade daqueles que querem construir juntos um país inclusivo, um país para todos”.
O encontro com João Lourenço, referiu o líder católico, serviu também para “relançar caminhos de cooperação em relação aos problemas que têm a ver com a pobreza, a miséria, a fome, as vias de comunicação”.
“Portanto, todas estas vias que devem estar ao dispor de todos para diminuir alguns problemas sociais que as nossas comunidades enfrentam”, rematou o também arcebispo de Saurimo, província da Lunda Sul.
José Manuel Imbamba esteve no encontro acompanhado pelo arcebispo de Luanda, Filomeno Vieira Dias.
Ainda não há um mês, a Igreja Católica angolana exortou os partidos políticos do país a “cessarem imediatamente” com as “agressões e ultrajes” entre militantes por não comungarem da mesma ideia, sobretudo com o aproximar das eleições, e se “tornarem instrumentos de paz”. Abençoados sejam os pobres de espírito que deles será o Reino de Deus. Aos outros está reservado o reino da Terra.
Na mensagem alusiva às jornadas da reconciliação (que decorreu de 27 de Março a 4 de Abril), a CEAST reiterou o apelo dos bispos católicos sobre a “crescente tensão social no país, com actos de intolerância política entre as forças políticas com agressões mútuas e um tom verbal cada vez mais violento”.
“Todos estes sinais preocupantes reforçam em nós a necessidade de cada vez mais erguermos a nossa voz e nos colocarmos como instrumentos ao serviço da paz”, referiu aquele órgão da Igreja Católica.
“Apelamos assim a todos quantos têm responsabilidades políticas em instituições partidárias a abraçarem este repto de se tornarem instrumentos da paz e constituírem-se como verdadeiros líderes da harmonia e tolerância tanto dentro das suas formações partidárias como na relação com os seus contendores”, exortou.
De facto a intolerância, que também é social e económica, não é de agora. No entanto, durante as últimas décadas a Igreja Católica nunca se mostrou preocupada porque, na verdade e ao contrário de agora, não havia a menor hipótese de os donos do país, o MPLA, serem derrotados pela via eleitoral. E assim sendo, fez o jogo do Poder, agradando a Deus e ao Diabo, desde que cada um deles (ou os dois juntos) fossem do… MPLA.
A necessidade de as forças políticas angolanas cultivarem a tolerância e o respeito pela diferença é também defendida pela Igreja Católica. Só agora? Onde andava esta Igreja quando os governantes fizeram aumentar exponencialmente o número de pobres (hoje são mais de 20 milhões) e quando nos quiserem ensinar a viver sem… comer?
“As agressões e ultrajes a quem quer que seja, por não comungar das mesmas ideias que as nossas, devem cessar imediatamente e dar lugar à uma cultura de paz e tolerância que nesta jornada nacional da reconciliação queremos juntos proclamar e fazer crescer na nossa sociedade”, referiu.
Angola realiza (provavelmente) as próximas eleições gerais, o quinto simulacro eleitoral na história do país, na segunda quinzena de Agosto próximo.
O ambiente pré-eleitoral no país é marcado por queixas de intolerância política, sobretudo no interior do país, onde se registaram confrontos entre militantes do MPLA e da UNITA (o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista).
MPLA e a UNITA trocam acusações sobre a responsabilidade dos confrontos entre partidários que aconteceu recentemente no município de Sanza Pombo, província do Uíje.
A validação dos congressos do MPLA, da UNITA, realizados em Dezembro de 2021, do Bloco Democrático e da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), por parte do Tribunal Constitucional (conhecida sucursal do MPLA) também cria expectativas sociais com “dúvidas e incertezas” sobre a independência da instância judicial, referiu a CEAST.
“Dúvidas e incertezas” diz a CEAST. O que será preciso acontecer para a Igreja Católica ser – como lhe compete – mais assertiva, verdadeira defensora férrea do seu rebanho?
A Comissão de Justiça e Paz da CEAST salienta que as instâncias judiciais e outras encarregadas da gestão de processos administrativos e judiciais “merecem igualmente particular atenção, pela missão de gerirem todo o processo eleitoral”.
Para estas instâncias, apelou “igualmente que actuem com o máximo sentido de isenção e lisura e que contribuam com as suas decisões para que o clima de paz não se degrade, sob pena de perigar todo o caminho de paz já percorrido em 20 anos”.
“A nossa experiência de guerra com todo o sofrimento e consequências impostas ao nosso povo não nos devem passar despercebidas, e que este seja o indicador que nunca mais se volte à guerra”, lê-se na mensagem.
[…] Source: Folha 8 […]