CELSO MALAVOLONEKE “VÍTIMA” DE “BULLYING”

“Bullying” é um conjunto de maus-tratos, ameaças, coacções ou outros actos de intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada fraca ou vulnerável. O “bullying” foi a base da queixa que Celso Malavoloneke (ou alguém em seu nome) apresentou ao Facebook contra um “boneco” publicado (e lá continua) na página do Folha 8 no Facebook e não, como alega, em nenhuma das nossas edições (digital diária e impressa semanal).

Tentemos compreender o que levou Celso Malavoloneke a acusar-nos de “bullying”.

O “bullying” corresponde a um comportamento intencionalmente agressivo, violento e humilhante, que envolve um desequilíbrio de poder: quem faz “bullying” usa o seu poder (a sua força física ou o acesso a alguma informação constrangedora, por exemplo) para controlar e prejudicar as vítimas. É um comportamento repetido ao longo do tempo, que acontece mais do que uma vez.

O “bullying” inclui comportamentos como ameaçar, espalhar boatos, atacar alguém fisicamente (bater, arranhar, cuspir, roubar ou partir objectos) ou verbalmente (chamar nomes, provocar, dizer a alguém para não ser amigo da vítima, gozar) ou excluir alguém do grupo propositadamente.

O “bullying” pode acontecer na internet (por exemplo, no Facebook ou noutras redes sociais).

Dentre os prejuízos e efeitos mais comuns decorrem da exposição de “bullying” na infância ou adolescência que permanecem na vida adulta. São disso exemplos:

Baixa auto-estima: vinculada tanto à sua aparência física quanto à personalidade. A vítima de “bullying” tem extrema dificuldade em se reconhecer como alguém queultrapassou os acontecimentos do passado. A baixa auto-estima dificulta a auto-valorização, estimula dúvidas sobre sua capacidade. É um componente essencial nas suas relações profissionais, sociais ou afectivas.

Insegurança: ligada à baixa auto-estima, a insegurança costuma estar presente em diversos aspectos da vida e das relações, especialmente no que se refere à dificuldade na tomada de decisões e ao alto grau de tensão quando avaliado em grupo.

Agressividade: de maneira inconsciente, o temor por sofrer violência é tão presente que, mesmo na presença de situações consideradas neutras, a pessoa mantém uma postura defendida e agressiva, desejando transparecer uma personalidade imponente como mecanismo de defesa.

Dificuldades nas relações interpessoais e afectivas: carregando o fardo da rejeição, são experimentadas inúmeras dificuldades nas suas relações interpessoais e afectivas. Dois aspectos chaves podem ser a falta de habilidade na comunicação, frequentemente confundida com uma personalidade tímida, e ainda o temor à rejeição, exclusão ou abandono, que faz com que a vítima de “bullying” se posicione de maneira submissa ou inferior nas suas relações, apresentando inúmeras dificuldades de se posicionar com questões pessoais e de limites, ou romper vínculos quando necessário ou desejado.

Além destes aspectos psíquicos e comportamentais, quando tais questões não são trabalhadas, aumentam-se a chances do desenvolvimento de depressão, transtornos de ansiedade e transtornos alimentares.

Também há o risco de dependência por álcool e drogas. As drogas lícitas ou ilícitas se tornam atraentes para desinibição e possuem para muitos o efeito anestésico de memórias dolorosas e insatisfação pessoal.

“Bullying” invertido

O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (SJ) de Portugal emitiu em 2018 uma nota sobre “bullying”, que visa silenciar os jornalistas. Embora se enquadre na situação portuguesa, é bom que os jornalistas angolanos estejam (também estejam) atentos a esta questão. Desde logo porque Celso Malavoloneke esteve ligado ao jornalismo, tendo mesmo sido Secretário de Estado da Comunicação Social.

O Conselho Deontológico do SJ manifestou a sua preocupação com o fenómeno que classifica de “bullying” económico, uma forma de pressão económica, exercida através de instrumentos jurídicos, sobre os jornalistas e os órgãos de comunicação social, a qual condiciona fortemente a investigação jornalística e põe em causa o livre exercício da liberdade de expressão.

O fenómeno em sentido lato é “bullying” económico, jurídico e político e consiste na utilização abusiva de acções judiciais dirigidas à protecção da honra, do bom nome e da reputação com o objectivo primordial de silenciar a crítica pública por parte dos meios de comunicação social e dos cidadãos, como definem no caso português Jónatas Machado e Iolanda Rodrigues de Brito na obra “Difamação de Figuras Públicas”.

O “bullying” na comunicação social consiste na apresentação de acções judiciais em que são pedidas indemnizações avultadas aos órgãos de comunicação social por parte de indivíduos ou entidades que são objecto de notícias, críticas, comentários, em que se consideram postos em causa.

Este tipo de acções judiciais é recorrente e é usado como forma de condicionar e inibir os jornalistas e os órgãos de comunicação social de prosseguir a sua missão de investigar assuntos relevantes para o interesse público.

Esta forma de pressão sobre a liberdade de informar é profundamente condicionante, uma vez que, como referem Jónatas Machado e Iolanda Rodrigues de Brito: “Nestas situações, acaba por ser irrelevante o desfecho judicial, pois, mesmo quando falham quanto ao mérito das mesmas não deixam de cumprir o seu objectivo estratégico de pressionar, intimidar e inibir a comunicação social e os cidadãos.”

Celso, o injustiçado!

Quando era secretário de Estado da Comunicação Social, Celso Malavoloneke, aconselhou as instituições públicas e privadas a criarem gabinete de comunicação de crise para dar resposta a acontecimentos súbitos, imprevisíveis e negativos que as possam atingir (“bullying”?). Se calhar criar também gabinetes de “educação patriótica” não seria má ideia…

Celso Malavoloneke falava num fórum sobre “Harmonização da Comunicação Institucional e do Marketing no Sector dos Transportes”, referindo que as instituições ou empresas devem estar preparadas para comunicar atempadamente sobre eventuais situações que belisquem sua imagem, sob pena de perder credibilidade e dar azo a especulações e falsas informações (“bullying”).

Socorrendo-se de factos ocorridos no sector dos transportes, como foi na altura o apagão no “Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro”, Celso Malavoloneke explicou que tal situação é de crise e exige das empresas melhor preparação para lidar com tais eventos e evitar fugir dos jornalistas, os habituais praticantes de “bullying”.

Para prevenir esse tipo de situações, segundo o então secretário de Estado da Comunicação Social, as empresas deviam criar um plano de comunicação de crise e capacitar os técnicos deste gabinete.

Os gabinetes de comunicação de crise, no entender de Celso Malavoloneke, que falava sobre o tema “comunicação de crise”, devem integrar no mínimo três pessoas, nomeadamente o principal responsável da instituição, o gestor do gabinete jurídico e o de comunicação e imagem.

Durante uma crise, na óptica deste perito, deve-se pôr em acção o comité de gestão de crise, seguir à risca o plano de comunicação de crise, com serenidade, rigor, disciplina e flexibilidade.

Entre as várias ferramentas de comunicação que devem ser utilizadas para comunicar em situações de crise, apontou a figura de um porta-voz (especialista), comunicado de imprensa, conferência de imprensa e encontros específicos com jornalistas para dar informações.

Estas habituais lições pedagógicas, tarefa em que alternavam o então ministro João Melo e o secretário de Estado Celso Malavoloneke, visavam o que o Governo chama de jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional. A tese, embora adaptada do tempo de partido único, aparecia com vestes mais libertárias.

Na altura o Folha 8 irritou (violenta acção de “bullying”, dirá Celso Malavoloneke) o secretário de Estado quando perguntou quem era ele, ou o ministro, ou o próprio Titular do Poder Executivo para nos vir dar lições do que é um “jornalismo mais sério, baseado no patriotismo, na ética e na deontológica profissional”?

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