BRANCOS DE SEGUNDA? MPLA COPIOU SALAZAR

O último artigo do Orlando Castro, publicado hoje no Folha 8, e intitulado APÁTRIDAS POR ORDEM DO MPLA merece-me algumas achegas e comentários. Sejamos objectivos, mesmo para o poder colonial os brancos nascidos em Angola eram um problema candente, ou não fossem os brancos nascidos no Brasil que encabeçaram o respectivo movimento independentista.

Por Carlos Pinho (*)

Sim, não esqueçamos que apesar de esclavagistas e opressores dos negros e índios, foi a elite brasileira, que era branca, que levou a cabo a independência do país. Não terá sido pelas melhores intenções, mas sim para manter o seu status quo económico e social. Ora, para o regime português, durante muitas décadas, os brancos nascidos nas suas colónias em África eram a principal ameaça, por poderem possivelmente encabeçar movimentos independentistas nas mesmas, à semelhança daquilo que tinha ocorrido no Brasil. A aplicação da classificação de brancos de segunda aos descendentes de portugueses nascidos nas colónias visava pois criar entraves a tais veleidades. Por exemplo, os brancos de segunda não poderiam ser funcionários públicos, o que na altura era uma grave limitação à respectiva actividade laboral e consequente independência financeira. Ironicamente este conceito de branco de segunda e todos os aspectos legais que a ele estavam relacionados, foi abolido pelo regime salazarista, por ser politicamente incómodo para este.

Ora o que o MPLA faz e tem feito desde que o poder em Angola lhe foi entregue pelo MFA português, foi ressuscitar o conceito de branco de segunda ou quiçá de terceira ou quarta categoria. A menos, é claro que o branco em causa fosse mais MPLA fanático que todo e qualquer negro simpatizante do mesmo movimento ou partido. Ou seja, todos os que não foram na conversa do MPLA foram tratados abaixo de lixo, salvaguardando-se os brancos fanáticos do partido e mesmo assim, alguns destes sofreram a bom sofrer. O exemplo da médica da maternidade de Luanda, Maria Fernanda de Sá, que por desmentir que a FNLA comia pessoas, teve um tratamento exemplar em finais de Julho de 1975, mostra à sociedade e à saciedade o modus operandi do MPLA.

E agora o partido no poder em Angola há mais de 46 anos, prepara-se para encetar uma nova caça às bruxas. Senão atente-se no que o governo pretende fazer passar pelo seu crivo, os resultados de quaisquer sondagens. Está bem de ver o que o MPLA pretende mais uma palhaçada à moda do terceiro mundo. Uma completa mascarada, impondo resultados fictícios às sondagens para esconder de todos, o descontentamento da população. Temos aqui um exemplo claro de uma nova variante ideológica, uma variante do século XXI, do social-fascismo, típico dos partidos políticos e regimes políticos que tinham um discurso social, mas eram fascistas nos seus actos. Esta versão actual de tal ideologia poderá ser classificada como social-putinismo. Social nas palavras, putinista nos actos. Ou seja, o partido pretende, tal como o seu mentor ideológico, e líder do imperialismo russo, o tal sem vergonha do Putin, levar a cabo uma desnazificação do povo angolano, reorientando as suas escolhas políticas e ideológicas, sendo que para tal não se coibirá de peneirar devidamente o que deve vir a público. Isto é, os angolanos, não só os brancos que são uma raça quase em extinção graças aos bons ofícios do MPLA, mas todos, independentemente da sua cor da pele, são cada vez mais apátridas na sua própria terra, pois que a menos que digam cegamente ámen ao partido, não podem ter quaisquer outras opiniões. E quer para os apoiantes cegos do partido, quer para os que não vão na conversa do MPLA, lá estará o governo benfazejo sempre predisposto a orientar, de boa-fé, é claro, as suas opiniões e votos. Para isso a crivagem que o governo pretende fazer aos resultados das sondagens. Os crentes e clientes do MPLA certamente que ficarão agradecidos ao partido pela sua bondade. Terão quem pense e vote por eles. Os outros, que não vão na conversa do MPLA, essa massa ignara e mal-agradecida, terá, vindo de cima, qual espírito santo de trazer por casa, uma orientação superior que certamente os levará a bom caminho. A menos que sejam muito teimosos e então poderá acontecer-lhes, por exemplo, o que aconteceu em 1975 à médica da maternidade de Luanda, Maria Fernanda de Sá, ou o que aconteceu àqueles desafectos mal-agradecidos de Maio de 1977.

(*) Docente da FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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