Há momentos em que a vida leva-nos a proceder à escolhas estratégicas que podem definir o sentido da nossa vida. Esses momentos, na história do indivíduo ou das comunidades, são muitas vezes determinados por concurso de circunstâncias de vária índole.
Por Lukamba Gato
No longínquo 1974, num contexto internacional e geoestratégico dominado pela Guerra-Fria, e a guerra colonial no plano interno, ocorreram três acontecimentos históricos, todos eles com clara relação causa e efeito, a saber:
a) Um golpe de Estado em Portugal, protagonizado por capitães das Forças Armadas aos 25 de Abril, que resultou no que se chamou também “Revolução dos Cravos”
b) Desencadeamento do processo de descolonização do “império português” como consequência directa da alínea anterior.
c) Regresso dos três Movimentos de Liberação aos centros urbanos.
Infelizmente e mais uma vez, por um concurso de circunstâncias endógenas e exógenas, rapidamente o momento propício para uma expectável e desejável reunificação da Nação angolana com vista à sua independência, se transformou neste pesadelo que dura há quase meio século.
Sem medo de errar, podemos afirmar hoje que a descolonização criou as condições objectivas e subjectivas para que a antiga potência colonial tivesse enveredado para o caminho da democracia, do desenvolvimento e do bem-estar, enquanto para o nosso, as mesmas causas produziram a maior fractura política com as consequências morais, sociais, económicas e outras que todos podemos testemunhar hoje.
Mas o tema hoje, tem a ver com as nossas escolhas, eu retomo o assunto.
O meu saudoso pai lutou para que eu pudesse ser médico mas eu sempre pensei ser um “grande estilista”.
O ano de 1974 seria então o ano de todas as decisões.
Para mim, nem médico, nem estilista porque naquele momento histórico, as circunstâncias impuseram à uma parte importante dos angolanos, caminhos nunca antes visualizados.
A longa noite colonial ensinou-nos a perceber situações eminentemente políticas mas foi sem dúvidas depois de cruzarmos o caminho do grande lider Jonas Savimbi que aprimoramos e consolidamos as mais profundas convicções político-ideológicas.
Passaram-se assim 48 anos dos quais 14 como Servidor Público com mandato electivo.
Foram de facto 48 anos no centro do turbilhão de grandes batalhas políticas, militares, económicas e diplomáticas, obviamente com altos e baixos, vitórias e derrotas mas e sobretudo com um balanço, mesmo se ainda incipiente, depois da independência, nomeadamente:
* o Sistema Multipartidário
* o Estado Democrático e de Direito
* uma Economia de Livre Empreendimento.
Este novo contexto político-institucional do país permite-nos apesar de tudo, sonhar com dias melhores.
Queria sublinhar que se são as circunstâncias, muitas vezes alheias à nossa vontade que nos catapultam para a política activa, não é menos verdade que o momento da retirada dependa única e exclusivamente da nossa vontade.
É sozinho que o dirigente tem de tomar essa decisão, mesmo que ela seja difícil.
Muitos dirigentes cometem o erro de “ficar mais um pouco…” e depois vêm as consequências muitas vezes desagradáveis.
Como é de conhecimento público, decidi não concorrer ao cargo electivo de Servidor Público/Deputado mas como homem de Partido, estarei sempre disponível e ao lado do Presidente Adalberto Costa Júnior, para continuar a dar a minha modesta contribuição à causa de Angola, por via do grande projecto concebido e desenvolvido pelo eterno Timoneiro, Jonas Malheiro Savimbi.
Ainda não é uma despedida da vida pública mas apenas uma reflexão “em voz alta” sobre esses dois grandes momentos:
A ENTRADA e a SAÍDA…