ADALBERTO, SIM. LOURENÇO, NÃO.

Como jornalistas do Folha 8, jornal que assume – como sempre – de corpo e alma a sua função histórica (desde 1995 dá voz a quem a não tem – os Angolanos), tenho a liberdade de pessoalmente escolher as duas figuras que, em Angola, se destacaram em 2022 pela positiva e pela negativa. É, reitero, uma escolha pessoal. Adalberto da Costa Júnior é, para mim, a figura do ano pela positiva e João Lourenço pela negativa.

Por Orlando Castro

Neste balanço, ao contrário de outros que nunca erram, o Folha 8 sabe que (ainda) não conseguiu levar a Carta a Garcia. Mas, na certeza de que não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, continuará a tentar. Custe o que custar, cá estamos na frente de combate.

Esta tese não se aplica, reconhecemos, ao regime de sua majestade o novo rei, general João Lourenço, que, como se sabe, não comete erros e não ajuda a cometer erros. Daí a justa designação de ele ser a nova versão, melhorada segundo o MPLA, do anterior “escolhido de Deus” (José Eduardo dos Santos).

Como nós somos apenas simples mortais, resta-nos a missão de lutar para que Angola seja um dia destes aquilo que ainda não conseguiu ser há 47 anos: uma democracia e um Estado de Direito. Não será fácil, mas continua a ser possível.

Até lá, porque a luta continua, não daremos tréguas aos que não conseguem esquecer o passado – mesmo que recente – e fazem dele um fardo tão pesado que muitas vezes os impede de caminhar para a frente, de forma erecta. Os angolanos (os únicos a quem devemos explicações) merecem o nosso esforço e dedicação. São um nobre Povo que, apesar de 20 milhões sobreviverem na miséria, continua erecto e disposto a ir de derrota em derrota até à vitória final.

Para 2023, ano de grandes desafios que exigem de todos nós tudo o que de melhor possamos dar, os desejos são muitos e muitos deles, sabemos bem, não serão satisfeitos, por uma ou por outra razão, mas sobretudo porque somos (des)governados há 47 anos pelo MPLA. Ou seja, porque a razão da força do regime impede o triunfo da força da razão do Povo.

Um desses desejos, talvez o que mais impacto poderá ter no futuro imediato de Angola, é o de que o percurso que há 47 anos falta cumprir (Estado de Direito democrático) tenha em 2023 os primeiros indícios.

Um outro desejo tem a ver com a necessidade das diferentes instituições agirem de acordo com a lei (algo que nunca aconteceu), respeitando-a plenamente para que a palavra “cidadania” tenha o devido valor civilizacional.

A justiça angolana ainda não deu (pelo contrário) suficientes provas de maturidade, de competência e de independência política, o que nos leva a acreditar, sem qualquer hesitação, que continuará a desempenhar o seu papel de modo domesticado e canino, mesmo sabendo que isso contraria os princípios da verdade e da legalidade.

Também gostaríamos que, em 2023, o discurso político do regime/MPLA fosse finalmente inclusivo, sobretudo porque é uma organização (na prática é mais uma seita) que domina o país há 47 anos. Não vai acontecer, é certo. O seu principal argumentário baseia-se na imposição da única lei que conhecem: quero, posso e mando.

Gostaríamos, também, que o ano de 2023 desse frutos (mesmo que ainda embrionários) no sentido de se apostar na diversificação da economia nacional, uma vez que essa é uma condição incontornável para combater a crise que nos entrou pelo país dentro. É, aliás, uma estratégia defendida há décadas por quem usa a cabeça para… pensar (não é caso dos dirigentes do MPLA que usam a cabeça apenas para enriquecer).

É tempo daqueles que trabalham para sua majestade o rei/general João Lourenço, e que são pagos com o dinheiro roubado aos angolanos, perceberem que, por muito que tentem e se esforcem, Angola deixará um dia de ser um reino esclavagista.

É evidente que o Povo angolano não têm nada a ver com aquilo que é o sonho, a vontade e a prática neocolonialista que o MPLA leva a cabo, há 47 anos, sobre Angola.

É neste contexto que Adalberto da Costa Júnior sobressai pela positiva e João Lourenço pela negativa.

Em síntese, continuarei em 2023 a ser ingénuo a manter viva a tese de Jonas Savimbi: “Angola não se define – sente-se”.

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