80% DOS DOENTES NO EXTERIOR VÃO PARA PORTUGAL

Portugal continua a ser o país de maior recepção de doentes angolanos no exterior, apesar da diminuição nos últimos quatro anos de 500 para 129 pacientes, dos quais 80% em território português, informou hoje o Governo de Angola.

Segundo a ministra da Saúde angolana, Sílvia Lutucuta, que falava à margem da I Conferência sobre as Juntas de Saúde, a situação foi revertida, a partir de 2017, fruto da situação de dificuldades de gestão dos sectores de Portugal e África do Sul, com um “investimento muito grande que foi feito no país”.

“Nós partimos de quase 500 doentes entre o sector da saúde de Portugal e África do Sul, em 2017, por esta altura os dois sectores têm apenas cerca de 129 pacientes, com 80% deles em Portugal”, disse.

No discurso de abertura, a ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, realçou que o executivo tem realizado um grande investimento em infra-estruturas, munidas de serviços especializados para o tratamento de doentes do fórum renal, cardíaco, oncológico, ortopédico e oftalmológico.

Segundo Carolina Cerqueira, os doentes com necessidades nestas especialidades beneficiam já de cuidados e serviços em Angola, com bons exemplos dos quais os angolanos se podem orgulhar, nomeadamente no que se refere à cirurgia cardíaca, que é realizada no Complexo de Doenças Cardiopulmonar Cardeal D. Alexandre do Nascimento.

“Os doentes que necessitavam de cirurgia da anca e do joelho beneficiaram já desses cuidados no Hospital Américo Boavida e verificou-se também uma melhoria muito sensível do potencial interventivo assistencial do Instituto Oftalmológico de Angola”, indicou.

A governante destacou ainda que, entre 2018 e 2019, foram realizados os dois maiores concursos públicos da história do sector da saúde em Angola, com a admissão de 33.093 novos profissionais na carreira especial e no regime geral, bem como o enquadramento de 100% dos médicos formados no país e no exterior.

“Para garantir a prestação de serviços nestas novas unidades iniciou-se a especialização de médicos, tendo sido definido um plano de formação emergencial, internato médico, orientando o ingresso directo ao internato a todos os médicos”, salientou.

SAÚDE (PARA O POVO) ESTÁ EM COMA

Angola vai continuar longe de alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, em relação à saúde universal e sustentada, enquanto estiver com uma fasquia exígua no Orçamento Geral do Estado (OGE).

“Lá está o Folha 8 a dizer mal do MPLA”, pensarão os autómatos do regime. Enganam-se. Quem o disse (desta vez) foi o ex-director-geral da Pediatria de Luanda, Luís Bernardino.

O médico avançou que, além da verba, que corresponde a cerca de 9,4 por cento do OGE para 2022, ser exígua, o sector não tem criado outras fontes para garantir uma saúde de qualidade para todos.

Luís Bernardino, segundo o Jornal de Angola, falava à margem da Conferência sobre Gestão Hospitalar e Liderança, que decorreu em Luanda, em Novembro do ano passado, disse que a fasquia do OGE para a Saúde em 2021 foi de 5,6%, o que considera uma verba incapaz de ajudar o país a atingir as metas traçadas pela Organização Mundial da Saúde até 2030.

O pediatra apelou ao Executivo para ter maior sensibilidade para com o sector da Saúde, aumentando a fasquia nos próximos OGE e, além disso, a criar outras fontes de seguros que possam garantir a qualquer pessoa pobre beneficiar de cuidados primários de saúde e de qualidade.

Luís Bernardino exemplificou que países como Gana e Nigéria, onde a verba para a Saúde é baixa, estão a criar programas de financiamento, o que permite que, pelo menos, dois terços da população carenciada tenha seguro de saúde.

“Mas, Angola, apesar das riquezas naturais que possui, ainda não vejo nada a ser feito em relação a isso. Infelizmente, o Estado está a fazer uma aplicação do dinheiro da Saúde no topo do sistema, ao invés de fazê-lo nos cuidados primários, que é a base fundamental”, disse Luís Bernardino.

Essa estratégia, explicou o médico pediatra, limita a actuação do sector da Saúde, uma vez que “não basta só dar dinheiro, mas é preciso gerir o dinheiro de forma a que beneficiei as populações mais carenciadas”.

Luís Bernardino realçou que, recentemente, a imprensa passou a informação, segundo a qual, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, disse que foram disponibilizados mais de mil milhões de dólares para a construção de grandes hospitais.

“Na verdade, não é isso que se precisa. Temos é de ter um Sistema de Saúde Municipal com qualidade, para se evitar enchentes e mortes nas unidades terciárias”, rematou o médico.

Recorde-se que profissionais de saúde pediram no dia 8 de Junho de 2021 a intervenção do Presidente da República, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, para “travar” a escassez de materiais descartáveis, medicamentos e de recursos humanos nas unidades sanitárias, sobretudo em Luanda.

Segundo alguns profissionais, o sistema de saúde primário, sobretudo na capital, tinha colapsado e as unidades hospitalares estavam a registar em “média entre seis e dez mortes” associadas à malária e anemia. É claro que a culpa não é, nunca é, do MPLA, porque o partido liderado por João Lourenço só está no Governo há… 46 anos.

“Com todas as observações que temos feito não observamos melhorias nem de medicamentos, nem de recursos humanos e meios e o que me admira é o silêncio do Presidente da República, João Lourenço, em relação a isso”, afirmou o presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (Sinmea), Adriano Manuel.

Para o médico Adriano Manuel, “é necessário que os altos dirigentes do país, sobretudo o Presidente da República, façam visitas surpresa aos hospitais públicos para observarem o que se passa verdadeiramente e quais as repercussões”. Sim. Terá de ser o Presidente porque, de facto, Angola não tem ministra da Saúde e Sílvia Lutucuta mais não é do que uma figura decorativa, cujo prestígio que tinha quando foi escolhida se esfuma a cada dia que passa.

Lixeiras, as (novas) lojas do Povo, não é Presidente?

Se os angolanos não morrem em maior quantidade, a culpa não é de um Governo que está no poder há 46 anos e que está a fornecer-lhes todos os dias, a todas as horas, instrumentos para terem sucesso… Ao que parece o Covid-19 não teve êxito neste aspecto, ficando a longa distância da estratégia do MPLA que ensina os angolanos a viver… sem comer!

Há quem afirme que são cada vez mais as vozes que dentro do MPLA – fora já sabemos que é verdade – estão a mostrar o seu descontentamento com as políticas do “querido líder”. Será? É que a resposta aos contestatários (serão fraccionistas?) passa por acusações de corrupção, confisco de bens etc. e, também no MPLA, quem tem mataco tem medo.

Talvez estejam, aos poucos, a ver que sua majestade o novo rei, João Lourenço, não tardará (mais pela razão da força do que pela força da razão) a recorrer aos ensinamentos do seu guru e único herói nacional, António Agostinho Neto, não perdendo tempo com julgamentos.

E para que um cidadão não ande, apesar da barriga cada vez mais vazia, de mão estendida, o melhor que tem a fazer é – segundo as teses oficiais – aprender a viver em silêncio, sem comer ou, em alternativa, estender a mão mas tendo entre os dedos o salvo-conduto emitido pelo MPLA e com acesso às modernas lojas do Povo: os caixotes do lixo.

Certamente que João Lourenço nos dirá, tal como nos disse José Eduardo dos Santos durante 38 anos, que o seu governo está a fazer o que pode para minorar o sofrimento dos angolanos, nomeadamente dos mais de 20 milhões de pobres.

Se os angolanos cumprirem o que quer o regime não voltarão a erguer-se, mas permitirão que o dono do país continue bem direito e a viver à grande, seja onde for.

João Lourenço, directamente ou através dos seus sipaios, diz que a oposição começa a faltar imaginação para mostrar que o país ficará melhor com ela.

De facto a oposição não está a trabalhar para os milhões que têm pouco ou nada. Está, isso sim, a trabalhar para os poucos que têm milhões na esperança de também serem bafejados com a entrada nesse rol de angolanos de primeira.

Folha 8 com Lusa

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