O MPLA, partido no poder apenas desde 1975, advertiu (entenda-se “ameaçou”) hoje os seus “adversários” (que na intimidade das suas orgias canibalescas, como aprenderam com Agostinho Neto, significa “inimigos”) que o poder “não se conquista com inverdades e manchando o nome do país além-fronteiras” (fronteiras de Cabinda? De Cafunfo? Dos massacres de 27 de Maio de 1977), exortando-os à “responsabilidade, respeito e patriotismo” no exercício da liberdade de expressão.
Não fosse uma verdadeira declaração de guerra, até poderia ser uma candidatura à já exaustiva enciclopédia do nosso anedotário nacional. “Não precisamos de optar por inverdades eivadas de falácias e auto-vitimização, proferindo afirmações que demonstram ignorância e desrespeito pelas instituições”, afirmou a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, na província do Cunene, quando reproduziu as ordens superiores.
Para a líder partidária dos “camaradas”, num “claro desespero ou ânsia desmedida” pelo poder, “certos adversários esquecem-se que este deve ser legitimado por vontade soberana do povo”. É ocaso do MPLA. Naquilo a que chama de eleições, até foi, é e quer continuar a ser, legitimado pelos votos dos angolanos que já morreram, bem como pelos “eleitores desconhecidos” que fazem com que em muitas mesas de voto aparecem mais boletins do que eleitores inscritos.
“Não é com inverdades que se conquista o poder e, muito menos, manchando o país além-fronteiras. O povo angolano está atento, acompanha e aplaude as reformas políticas, económicas e sociais lideradas pelo camarada presidente João Lourenço e saberá fazer a sua escolha”, disse Luísa Damião, coerente com os seus discursos anteriores, apenas substituindo o nome de José Eduardo dos Santos.
Luísa Damião falava na abertura do encontro interprovincial dos secretários executivos dos organismos intermédios do MPLA no Sul, que decorre na província do Cunene, sul de Angola, afectada pela seca que, como se sabe, é um problema originado pelos adversários que teimam em não respeitar o patriotismo, nem como a macular o nome do reino além fronteiras.
O encontro congrega os governadores das províncias do Cunene, Cuando-Cubango, Huíla e Namibe, igualmente secretários províncias deste partido.
Segundo a vice-presidente do partido no poder em Angola, no actual contexto de pandemia, dentro e fora do país, são raros os exemplos de economias que alcançaram marcos satisfatórios em termos de crescimento. “E, não ter em conta este facto é sinónimo de ignorância pura dos mais elementares princípios de mercado”, referiu Luísa Damião, mostrando que sabe muito bem a macro diferença entre seis e meia dúzia.
O presidente da UNITA, maior partido na oposição que o MPLA ainda permite, Adalberto da Costa Júnior, deu, esta semana uma entrevista à televisão portuguesa RTP em que teceu “críticas ao Governo angolano e deplorou a condição social das famílias angolanas”. E, é claro, isso é – sobretudo porque é verdade – um crime de lesa Pátria, de lesa Estado, de lesa Reino. E, é claro, os prevaricadores sujeitam-se a chocar com alguma bala perdida. A isso acresce que, citando o seu único herói nacional (Agostinho Neto), o MPLA não está disposto a perder tempo com julgamentos.
Na sua intervenção, Luísa Damião considerou que a democratização da sociedade angolana “tem passado, nos últimos tempos, pela ampliação do espaço de intervenção, expressão e manifestação de opiniões”.
“Sendo inegável que é hoje um dos principais ganhos, reconhecidos reiteradas vezes por organismos internacionais, contudo, a ampliação das liberdades implica maior responsabilidade e responsabilização”, defendeu. Certo, se for de uma regra de sentido único. O MPLA, e bem, exige que a liberdade dos outros termine onde começa a sua. No entanto, não aceita que a sua termine onde começa a dos outros.
Este vértice, realçou, “é, por conveniência, ignorado em profunda manipulação da opinião pública nacional e internacional”. Luísa Damião seba do que fala.
O MPLA, assegurou, “vai continuar a primar pelo diálogo franco e aberto e a consolidar os ganhos da democracia. Enquanto os nossos adversários estão apenas focados no alcance do poder a qualquer preço, nós devemos fazer bem o nosso trabalho (…)”, notou.
Assim, relembre-se o diálogo do MPLA com os angolanos para iniciar a guerra civil; o diálogo com as muitas dezenas de milhar de angolanos que fuzilou no 27 de Maio de 1977; o diálogo com Cassule e Kamulingue; o diálogo que levou ao fuzilamento do miúdo Rufino António e o jovem adulto Ganga; o diálogo com zungueiras….
Luísa Damião, a mais célebre vice-presidente do MPLA a dar carinho e solidariedade aos familiares das zungueiras que a polícia do MPLA mata, disse que o MPLA vai continuar a primar pelo diálogo franco e aberto e a consolidar os ganhos da democracia. Alguém ouviu a Luísa Damião falar em democracia e diálogo quando o MPLA espancou, prendeu e condenou os Revus a pesadas penas de cadeia por se manifestarem contra a corrupção e defenderem a democracia?
Em relação ao contexto socioeconómico das províncias do sul de Angola afectadas pela seca, Luísa Damião referiu que o seu partido “se congratula com a contínua implementação de medidas estruturantes do executivo angolano” no sentido de resolver o problema da água e da situação da escassez de alimentos, derivados da seca, e enalteceu “a onda de solidariedade, humanismo e espírito de altruísmo que caracterizam os cidadãos angolanos”.
“Estamos cientes dos desafios que temos pela frente e da necessidade de continuarmos a trabalhar para realizar os anseios e aspirações dos angolanos”, rematou a também deputada à Assembleia Nacional.
Folha 8 com Lusa