Tudo menos tentativa de Golpe de Estado

O que ocorreu em 27 de Maio de 1977, se fosse Golpe de Estado, não acredito que Iko Teles Carreira, ex-ministro da Defesa de Agostinho Neto e Ambrósio de Lemos Pereira da Gama, mais conhecido por Alpega, antigo instrutor militar das FAPLA, braço armado do MPLA, nos tempos de partido único e um dos primeiros empresários angolanos e outros escapariam aos homens da secreta militar e da polícia política – DISA, uma vez terem sido, admiradores de Nito Alves, tal como eu.

Por Fernando Vumby (*)

Os que acompanham as minhas crónicas, desde 1989, já devem ter lido a primeira parte onde falo destes dois nomes, por esta razão, os histéricos masturbados, os xinguiladores da praxe, os mesmos de sempre de plantão, pouco valerá, dizer que estou a falar de falecidos, que não se podem defender. Porquanto, quando, pela primeira vez falei de Alpega foi muito antes de 30.09.2019, data da sua morte e o mesmo, não se predispôs a defender-se, tão pouco os que se seguiram.

Importa dizer que a secreta militar e a polícia política, DISA, na era de Agostinho Neto & C.ª, em que no calor revolucionário anti-colonialismo, fiz parte como operativo, tinha práticas, actuações, uso excessivo de força, tortura indescritível, muitas práticas piores que as da PIDE-DGS (polícia política de Salazar, líder do Estado fascista português), que nada tinham a ver com as normas elementares de um Estado de Direito, mesmo que de opção socialista, proclamado, como República Popular de Angola, causas que me levaram a abandonar.

Estas forças, albergavam muitos mafiosos, delinquentes, que não respeitavam os direitos humanos e, uma maioria funcionava, no mesmo edifício onde o Iko Carreira tinha o gabinete como ministro da Defesa, sendo uma presa fácil para qualquer um, já que muitos jovens do Sambizanga (bairro suburbano de Luanda), admiravam o comandante Nito Alves, então ministro da Administração Interna (uma espécie de ministério da Administração do Território), eram operativos e caso houvesse, um plano contrário este seria canja, pela facilidade de acesso a ele, por todos, além de que tínhamos o Xadú, um grandalhão, dos nossos, que “tramancaria” em fracção de segundos, qualquer ousadia, até por ter, como infiltrados, também, na secreta, um dos seus motoristas e guarda-costas, este puro do Sambizanga.

Por isso continuo a não acreditar na alegada tentativa de Golpe de Estado, pois um Golpe de Estado obedece a planos mais amplos, bem pensados e estruturados para dar certo, tendo de levar em consideração a presença cubana, até mesmo no seio da secreta militar.

Aquilo foi um plano diabólico, engendrado por Neto e a sua maquiavélica “entourage”, um pouco parecido com os mais hediondos massacres, assassinatos e genocídios, que se seguiram, fabricados para eliminar a intelectualidade urbana e da guerrilha, no 27 de Maio de 1977.

Os mentores deste genocídio; falecidos e vivos, não são desconhecidos e, num país governado por gente séria, sem mãos sujas de sangue, estes já seriam responsabilizados, para se lançarem as sementes da reconciliação e não se estaria com tanta lengalenga e blá blá blá, ao ponto de se estar a forçar abraços e perdão para se polir a imagem de covardes, que não assumindo, um período tenebroso, e todos quantos hoje pretendam encobrir a barbárie, transformam-se em cúmplices dos assassinos materiais por falta de remorso.

O regime, actualmente, está a transformar a verdade sobre o 27 de Maio de 1977, num negócio, para enriquecer mais uns poucos do MPLA, que desta forma vão buscar recursos financeiros aos cofres públicos, para uma empreitada fadada ao fracasso, por eleger apenas interlocutores, fantoches, bajuladores e mercenários, que nada vão emprestar de verdade, para se chegar a um denominador republicano.

Seria difícil acreditar, que para se analisar um dossier tão sensível, o actual presidente do MPLA, não fizesse entrar dinheiro, para se comprar e corromper mentes, num país onde tudo se comercializa e parece ter preço.

E esta é a prova mais acabada que havia um plano bem estruturado e Iko Carreira o todo poderoso ministro e Alpega, homem que geria um pacotão logístico, sabiam que a única forma de eliminar a intelectualidade e não só, seria a fabricação de um plano macabro, para prender, torturar e assassinar gente, muita gente de um lado. Basta verificar quem foram as verdadeiras vítimas e quem tem as marcas no corpo e na alma do genocídio.

As pessoas sabem, nós sabemos, o regime sabe, Iko Carreira, Alpega, Onambwe, Ludy, sabiam quem encurralou e executou, na casa da mãe do Kiferro, os comandantes do outro lado, para justificar o plano, pois ele existe e é o mesmo que estava treinado para actuar dos dois lados, o que conseguiu, até ser descoberto.

Continuarei a denunciar e a falar sobre estes dois nomes atrás citados, de quem fui operativo, assessorado por Montané (cubano) perito em matéria de Inteligência e Contra -Inteligência, que foi um dos professores do primeiro curso, no Morro da Luz (Luanda) em 1976.

Importa esclarecer, que quando cito alguém, tenho provas, logo, não precisando de os desenterrar para interrogatório, uma vez, não terem sido poucos os dossiers que passaram pelas minhas mãos e missões em que participei, onde constatei, também, que tudo não passava de uma máfia, cujos métodos já vinham de longe.

Para mim, “segredos de Estado”, não se confundem, com “segredos de governo”, porque, este último, só existem quando limpos e lícitos, por nunca ter jurado que viveria com a boca fechada, até a morte, em que a sua abertura, nesse estado, pouco valerá para denunciar ilícitos praticados e vivenciados.

Defender a causa nacional e o povo angolano não era, não é, fechar os olhos, a boca ou deixar que a mosca seja aplaudida a dançar por cima do nariz.

(*) Fórum Livre Opinião & Justiça

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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