O vice-presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, encoraja os jornalistas (não confundir com jornaleiros, mesmo que estes tenha Carteira Profissional de Jornalistas ou até pertençam à ERCA) a privilegiarem a defesa da vida, no exercício da profissão, indo ao encontro das pessoas, onde estão e como são.
A CEAST saúda todos aqueles homens e mulheres que se empenham por uma comunicação social humanizada, atenta aos problemas das pessoas e comprometida com a verdade, com a justiça, com a paz e com a dignidade da pessoa humana. Tudo que é raro em Angola e que, quando existe, colide com as directrizes do Departamento de Informação (e Propaganda) do MPLA.
Dom Manuel Imbamba, que falava por ocasião do 55º aniversário do Dia Mundial das Comunicações Sociais, lembrou que a mensagem do Papa Francisco é muita clara, elucidativa e empenhadora, quanto à forma de informar e envolver as comunidades para o bem-comum.
O Dia Mundial das Comunicações Sociais foi a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963, e é assinalado todos os anos no domingo antes do Pentecostes.
“E é com o modelo de Jesus Cristo que todos nós somos chamados a trabalhar, indo ao encontro, interpelando, ouvindo, conversando para relatar os factos, e só os factos que podem ajudar a inverter todos aqueles comportamentos que danificam a convivência humana e social”, disse Dom Imbamba.
O também arcebispo de Saurimo defendeu que é altura de todos os comunicólogos fazerem um exame de consciência, olhando para o esforço que deve ser empreendido para que a forma de comunicar promova o bem-estar entre os angolanos.
Sem valores mas com preço
O Presidente da República, João Lourenço, afirma que o Executivo conta, “verdadeiramente”, com a parceria das igrejas, em todos os domínios, sobretudo no combate à corrupção, para o desenvolvimento económico e social do país.
Louvado seja Deus. Oremos irmãos. Ele (João Lourenço) está no meio de nós.
O Chefe de Estado fez essas declarações no final do encontro que teve em o ano passado, no Palácio da Cidade Alta, com um grupo de líderes religiosos em representação das igrejas reconhecidas (pelo MPLA) em Angola.
Recentemente o arcebispo de Saurimo considerou que o Presidente João Lourenço introduziu um novo paradigma de governação, assente na gestão ética, e abriu espaço ao diálogo com as vozes críticas da sociedade e à liberdade de imprensa. Recorda-se D. José Manuel Imbamba?
De introduzir a praticar vai uma longa distância. Mas… D. José Manuel Imbamba esquece-se que é mais fácil um jacaré passar pelo buraco de uma agulha do que um dirigente do MPLA cumprir com as suas promessas. Mas se esse esquecimento resultar em chorudos apoios financeiros… deles será o reino dos céus.
Em entrevista ao Jornal de Angola, por ocasião dos três anos de governação de João Lourenço, D. José Manuel Imbamba pediu ao Chefe de Estado que “não se deixe intimidar por aqueles que só amam o dinheiro e outras riquezas materiais do país e não os angolanos, nem a sua Pátria”; que mantenha a coragem, a firmeza e a serenidade, para incentivar a cultura da paz, da justiça, da inclusão, da cidadania, da dignidade e do progresso.
“Muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”. Esta foi e é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país. Pena é que a Igreja Católica, por exemplo, tenha medo da verdade. E tem medo porque não tem valor, só tem preço.
Alguém se recorda, por exemplo, o que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das eleições?
O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender.
“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.
”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República, João Maria Moreira de Sousa.
D. José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsistia no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.
O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.
Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (15 anos depois tudo continua na mesma), D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.
Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou então a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.
D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.
Em 2011 o MPLA celebrou um acordo com a Igreja Católica para que esta o apoiasse na campanha eleitoral de 2012. Tudo leva a crer que, em 2017, esse acordo continuou válido e que foi prorrogado automaticamente pelo tempo que os donos do “templo” quiseram…
A Igreja Católica continua a tentar agradar ao “seu” Deus angolano, seja ele quem for.
Recorde-se que da parte do partido no poder agenciou o acordo de 2011 Manuel Vicente, na então condição de PCA da máquina de fazer dinheiro para o MPLA (Sonangol) a mando de Eduardo dos Santos, ao passo que da parte da Igreja estiveram alguns bispos do regime, de D. Damião Franklim e a Filomeno Vieira Dias de Cabinda, com orientações do militante cardeal Alexandre do Nascimento.
Que a hierarquia da Igreja Católica de Angola continua a querer agradar ao Poder, aviltando os seus mais sublimes fundamentos de luta pela verdade e do espírito de missão, que deveria ser o de dar voz a quem a não tem, não é novidade.
Recorde-se também que no final de 2011, D. José Manuel Imbamba disse que os padres que teimavam em defender os interesses dos cabindas não foram afastados por razões políticas, mas por questões disciplinares, nomeadamente por não manterem uma boa relação pastoral com o bispo D. Filomeno Vieira Dias.
D. José Manuel Imbamba sabia que estava a mentir. Foi grave. Ou estava calado ou, se para tanto tivesse coragem, falaria das pressões do regime angolano sobre os prelados que – tal como aprendeu o arcebispo de Saurimo – apenas querem dar voz a quem a não tem.
Aliás, o mesmo se passou com D. Filomeno Vieira Dias que só de vez em quando, raramente, quase nunca, se ia lembrando do “rebanho” que tinha a seu cargo como bispo de Cabinda.
Frei João Domingos, por exemplo, afirmou numa homilia em Setembro de 2009, em Angola, que Jesus viveu ao lado do seu povo, encarnando todo o seu sofrimento e dor. E acrescentou que os nossos políticos e governantes só estão preocupados com os seus interesses, das suas famílias e dos seus mais próximos.
“Não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida”, disse Frei João Domingos, acrescentando “que muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”.