O líder da UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA (ainda) permite em Angola, Adalberto da Costa Júnior, integrante da Ampla Frente Patriótica Unida, diz que o líder desta iniciativa política tripartida será anunciado ainda no final deste mês.
Adalberto da Costa Júnior falava num acto conjunto em que foi lida uma declaração política, rubricada por si, pelo presidente do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, e pelo líder do projecto político PRA-JA Servir Angola, Abel Chivukuvuku.
“É notório que quem nos governa hoje mostra sinais claros e preocupantes de que não está preparado para abandonar o poder e o homem democrata deve estar preparado sempre para desempenhar o seu papel, se ele está na oposição, é uma posição nobre de participação, porque sem oposição não há os alertas necessários à governação, há distracção”, disse.
Segundo Adalberto da Costa Júnior, quem está no poder “pensa que nasceu para governar os outros, que o poder lhe pertence por herança permanente e definitiva e denota efectivamente dificuldades com alguma tranquilidade de tratar o outro como irmão e não como um inimigo”.
“Um adversário político não é um inimigo, é um concorrente, um competidor e a competição engrandece e melhora os conteúdos”, acrescentou.
Adalberto da Costa Júnior apelou aos angolanos para não se deixarem “transportar pelos radicalismos”, frisando que é já do conhecimento do grupo que “há muitos níveis” em que “já se está a fazer campanha contra a Frente Patriótica”.
“Foi aqui afirmado e volto a fazê-lo, compromisso nosso em formalizar, penso que até final deste mês, o anúncio público definitivo da liderança da frente, da sua composição, mas também o facto de nós estamos num movimento com as portas abertas até às eleições [gerais de 2022]”, adiantou.
De acordo com o líder da UNITA, esta frente “tem a sensibilidade e comprometimento patriótico de fazer diferente, de corrigir quem demonstra estar cansado de uma governação em que já não tem inspiração”.
Na sua intervenção, Abel Chivukuvuku expressou que liderar a frente não é para si o mais importante, mas apenas integrar o novo projecto político, para responder aos anseios e vontade de mudança dos angolanos.
“Existe uma percepção errónea no nosso país, construída ao longo de anos, que o mano Abel só aceita ser o número um onde está. Eu tive um mestre na vida que me ensinou que na vida o mais importante não são os títulos, porque os títulos hoje existem e amanhã não existem. O meu mestre dizia: hoje posso te promover e amanhã despromovo, hoje posso te nomear e manhã exonero, mas ninguém vai conseguir tirar o teu propósito e aquilo que estiver na tua cabeça”, referiu.
Segundo Abel Chivukuvuku, o seu propósito é servir o país, independentemente dos títulos ou das posições, ser protagonista da alteração qualitativa da sociedade.
“A breve trecho o país saberá aquilo que, entre nós os três, concordarmos e aquilo que será a liderança da Frente Patriótica Unida”, frisou, realçando que urge trabalhar, “com flexibilidade e rigor, mas sobretudo com celeridade e prudência” para que brevemente possam anunciar ao país e aos cidadãos o surgimento desse novo fenómeno político, “que deverá transmitir fé e esperança” aos que se sentem “frustrados e desanimados”.
Já o líder do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, considerou que o regime está esgotado, sentimento que é extensivo à oposição.
“O regime tem que mudar, mas não é só o regime que está esgotado, a oposição também está esgotada. Nós andamos há décadas a propor coisas novas, a fazer apelos, no parlamento todos os anos a oposição sugere, vamos chegar aos 20% para a educação, aos 15% para a saúde, aos 10% para a agricultura, pelo menos 1% para a investigação científica, nada disso acontece. A oposição está esgotada, tem um muro à frente, tem uma barreira, não pode desenvolver o seu programa”, criticou.
Filomeno Vieira Lopes disse que também a sociedade civil está esgotada e a juventude já ultrapassou os limites.
“Estamos todos esgotados. Se apreciarmos bem, os grandes fóruns da sociedade civil, que vêm propondo recomendações ao nosso Governo, as próprias igrejas, as epístolas dos bispos e de outros grupos de igreja que emitem sugestões para a reconciliação e a paz, o desenvolvimento deste país, emitem opiniões, todas elas batem na barra”, sublinhou o político, dando o exemplo do debate sobre as eleições autárquicas, anunciadas para 2020, entretanto, não realizadas.
Programa de emergência para Angola
O novo projecto político Frente Patriótica Unida defende a necessidade de adopção de um programa de emergência nacional “para tirar o país da crise em que se encontra”, referindo-se à fome, saúde e desemprego, entre outros
Aposição consta de uma declaração política assinada pelos líderes da Frente Patriótica Unida, os presidentes da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, e do projecto político PRA-JA Servir Angola, Abel Chivukuvuku.
“A fome, a saúde, a educação, o desemprego, a habitação e a criminalidade tornaram-se problemas de segurança nacional e precisam de ser tratados como tal”, refere a declaração.
A frente considera ainda que é chegado o momento de quem tem poder de fazer declarar o estado de calamidade pública no sul de Angola, afectado por uma seca severa, e de usar os mecanismos apropriados para que as agências internacionais vocacionadas intervenham no terreno, poupando a vida de milhares de angolanos, “que fogem para a Namíbia ou morrem desnutridos e exaustos pelas matas e ao longo do trajecto para o país vizinho”.
Para a frente tripartida, a situação geral de calamidade reclama por medidas extraordinárias de controlo do preço da cesta básica, das pandemias “que matam mais angolanos do que a Covid-19 e a pandemia da má governação”, defendendo o levantamento da cerca sanitária a Luanda para ajudar a economia do país.
“Os angolanos querem governantes que sejam patriotas, que amem o povo, respeitem a lei e não sejam corruptos. Não querem governantes que estejam comprometidos em salvar seus partidos, mas governantes comprometidos em salvar Angola e os angolanos”, lê-se no documento, reafirmando a necessidade de uma nova liderança para o país.
“Nós estamos a estruturar esta nova liderança para darmos ao país um novo começo, um novo rumo”, frisa o documento, apelando à unidade de todos para “uma nova forma de fazer política e garantir que a lei proteja de facto o interesse de todos, ricos, pobres, angolanos e estrangeiros e para que ninguém seja excluído nem molestado”, realçou.
O grupo de políticos disse que o futuro preconizado para Angola, após a saída do MPLA do poder, prevê “a dignidade da pessoa humana”, prometendo o virar de página para uma efectiva reconciliação entre os angolanos.
Aos angolanos apelam para não temerem a saída do MPLA do poder, porque pretendem “governar com todos” incluindo os que hoje são Governo, formando um governo de pessoas competentes e não de militantes do partido.
Folha 8 com Lusa