Espanha vai ampliar em 200 milhões de euros a cobertura de risco das exportações para Angola, “um claro compromisso com o desenvolvimento económico e com a recuperação económica deste país”, anunciou hoje, em Luanda, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
O Presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, considerou Angola um mercado “muito importante” para o seu país, com o qual mantém relações “excelentes”, quando intervinha hoje no encerramento do Fórum Empresarial Angola/Espanha, o primeiro ponto da agenda de trabalho.
“Para o Governo de Espanha, Angola é um país amigo, com o qual colaboramos e apoiamos, por isso confiamos que o Governo de Angola pode impulsionar o desenvolvimento económico de que necessita e pode contar no seu desenvolvimento com o apoio de empresas espanholas”, referiu.
O dirigente espanhol, que realiza hoje uma visita de um dia a Luanda, lembrou que as empresas espanholas estão em Angola desde a sua independência, apoiando o seu desenvolvimento com a construção de infra-estruturas.
Segundo o Presidente do Governo espanhol, Angola é um país de “grandes oportunidades”, que podem ser aproveitadas pelas empresas espanholas.
“Os dados das nossas trocas comerciais mostram a importância das relações entre os dois países”, disse, salientando que a média das exportações espanholas, nos últimos 7 anos até 2015 foi de 236 milhões de euros, alcançando em alguns anos os 500 milhões de euros.
A parte angolana nesse período exportou para Espanha uma média de 1.352 milhões de euros anuais, superando o grosso em 2.700 milhões de euros em 2014.
O governante espanhol sublinhou que a actualmente a situação económica de Angola é mais complexa, o que teve um impacto nas trocas económicas entre os dois países, contudo o país africano é o terceiro fornecedor da Espanha na África subsaariana.
O grosso das importações espanholas de Angola, prosseguiu Pedro Sánchez, são produtos energéticos, especialmente o petróleo, saudando a aposta “muito importante” do Governo angolano em diversificar a sua economia e diminuir a dependência do petróleo.
Pedro Sánchez sublinhou a capacidade e a vontade das empresas espanholas de apoiar o esforço do Governo de Angola, manifestando o desejo de Espanha em recuperar o dinamismo do intercâmbio bilateral, para estimular e fortalecer o ritmo dos objectivos económicos.
“O Governo de Espanha apoia Angola em todos os momentos e nesta conjuntura marcada pela pandemia também vamos fazê-lo”, disse o governante espanhol.
De acordo com o Presidente do Governo de Espanha, as empresas espanholas vão ser incentivadas a apostarem a sua internacionalização no mercado angolano.
“Nos quase 35 anos que a Espanha vem apoiando Angola com financiamento bilateral, as empresas espanholas participam no desenvolvimento do país naqueles sectores em que são referência internacional, concretamente na construção, electrificação, saúde, pesca, educação, tecnologias de informação e também no sector financeiro, no sector bancário, contudo, continuam a existir desafios”, referiu.
Espanha reconhece o “enorme esforço” que Angola está a fazer nesta nova etapa dirigida pelo Presidente João Lourenço, que optou por uma política económica orientada para o equilíbrio das contas públicas e a transparência.
“O acordo com o Fundo Monetário Internacional e o restante da comunidade internacional, incluindo a Espanha, não se vão fazer esperar e estou convencido que esse esforço vai redundar num melhor acesso aos financiamentos e a uma maior atracção de investimentos por parte de Angola”, disse.
Espanha vai continuar a apoiar financeiramente, com diferentes instrumentos públicos ao seu alcance, garantiu ainda.
O pedido de João Lourenço
O Presidente angolano manifestou o desejo de Espanha continuar a ser um parceiro fundamental no desenvolvimento de Angola, garantindo que decorrem esforços para liquidar todas as dívidas, “devidamente certificadas”, do país com o Estado espanhol
João Lourenço, que falava no Palácio Presidencial, em Luanda, no âmbito da visita oficial que o chefe do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, “encorajou” os empresários espanhóis a investirem em Angola nos vários sectores.
O chefe de Estado angolano quer o concurso de empresários espanhóis na agro-pecuária, nas pescas, no turismo, em indústrias extractivas e de transformação, nos têxteis, na farmacêutica e em outras áreas do seu interesse.
“Pois poderão obter importantes vantagens competitivas na colocação dos bens produzidos localmente nos mercados externos, designadamente no mercado africano no quadro da Zona Livre de Comércio Continental Africana”, assegurou..
“Apesar de curta, teremos a oportunidade de fazer, ao mais alto nível, uma reflexão sobre as nossas relações bilaterais e projectá-las para o futuro, com a perspectiva de as revitalizar”, referiu.
Angola e Espanha desenvolvem, no quadro do Acordo Geral de Cooperação assinado em 1987, “relações de cooperação intensas e com resultados que, por serem expressivamente satisfatórios”, devem encorajar “a ampliá-las e a diversificá-las”, notou.
Para o Presidente angolano, os “factos têm demonstrado” que Espanha e Angola “têm sabido conduzir o diálogo entre si, na base da convergência dos seus interesses e da complementaridade das capacidades de ambos”.
“Deixando de parte preconceitos e questões de natureza subjectiva, que poderiam ter afectado a regularidade com que as nossas relações se desenrolam”, frisou.
“É dentro deste padrão de relacionamento que pretendemos que a Espanha continue a ser um parceiro fundamental do desenvolvimento de Angola, um país com imensas oportunidades e recursos de vária ordem, que estão disponíveis para os investidores espanhóis”, sustentou.
O chefe de Estado encorajou também o investimento privado directo de empresas espanholas em todos os ramos da economia angolana, assim como a sua participação nas empreitadas de importantes projectos de investimento público.
João Lourenço reconheceu igualmente que a dívida constitui “preocupação dos empresários espanhóis” que fazem negócios em Angola, “que é muitas vezes um factor inibidor para a sua actividade”, garantindo “tranquilidade” na sua liquidação.
“Quero a este respeito transmitir alguma tranquilidade, porque estamos a fazer um esforço para saldar todas as dívidas, devidamente certificadas, pese embora as dificuldades temporárias que o país está a atravessar, agravadas ainda mais pela crise sanitária mundial que estamos todos a enfrentar”, assegurou.
O Presidente assinalou ainda as reformas económicas em curso no país e lamentou a situação de insegurança e de conflito em diversas regiões do mundo, defendendo “diálogo para a resolução pacífica dos conflitos”.
O chefe do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, mostrou-se convencido de que a sua visita a Angola trará “grandes resultados e será frutífera” para Luanda e Madrid, considerando que o momento dará igualmente “um novo impulso nas relações cordiais”.
“Espanha e Angola podem abrir uma etapa onde pode haver grandes oportunidades para as nossas sociedades, oportunidades para fortalecer nossas relações e para construir melhor de maneira mais equitativa, justa, inclusiva e resiliente às nossas economias”, afirmou Sánchez.
O chefe do executivo espanhol reafirmou que Angola é um país prioritário para o país europeu, referindo que está a ser desenhada a “estratégia global” de Espanha para África à luz do programa Foco África 2023, aprovado recentemente em Conselho de Ministros de Espanha.
O objectivo do programa destina-se a estabelecer uma “parceria estratégica com o continente africano visando a paz e estabilidade” das respectivas sociedades, considerando que as prioridades espanholas “são as mesmas de Angola”.
“Contribuir e participar no processo de desenvolvimento desse enorme país, este país tem feito um grande esforço para estabilizar a sua economia e ser mais competitiva e quero reconhecer as enormes potencialidades desse país para a exportação, inovação e realização de projectos”, apontou.
Pedro Sánchez enalteceu as acções das empresas espanholas em Angola no desenvolvimento da economia angolana, garantindo reforçar a cooperação do seu país nos domínios da indústria, água e saneamento, tratamento de resíduos sólidos, saúde, turismo e pesca.
Angola e Espanha “vão seguir apostando e reforçando o multilateralismo”, por ser “o único instrumento” para enfrentar os grandes desafios, apontou. “Estou convencido que esta visita oficial trará grandes resultados e será frutífera para os nossos países”, frisou.
Pedro Sánchez, que espera que João Lourenço visite Espanha para o estreitamento das relações, felicitou também o Governo angolano e o seu Presidente pelas medidas desenvolvidas no país para a prevenção e combate contra a Covid-19.
“Enfrentamos o vírus com muitas consequências para a nossa sociedade, daí que estou convencido que a maneira de abordar a pandemia deve ser com esforços conjuntos de todos os governos e actuação coordenada”, concluiu.
O apelo do ministro da Economia
O ministro de Estado para a Coordenação Económica de Angola, Manuel Nunes Júnior, pediu ajuda a Espanha para edificar uma economia cada vez mais sólida, realçando o interesse de um papel mais activo do sector privado.
Manuel Nunes Júnior, que discursava no Fórum Empresarial Angola/Espanha, organizado no âmbito da visita que realiza hoje ao país o Presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, disse que o país pretende acabar com a grande dependência do petróleo.
“Nós queremos mudar definitivamente a estrutura económica de Angola, de modo a termos uma economia mais diversificada, uma economia em que o sector privado passe a ter um papel mais activo no desempenho da economia angolana e que com a sua acção diminua o peso do sector dos petróleos no Produto Interno Bruto de Angola”, disse.
O governante angolano convidou as empresas espanholas a investirem nos sectores da agricultura, indústria, pescas, turismo, construção e outras áreas que ajudem a diversificar as fontes de rendimento de Angola.
Segundo Manuel Nunes Júnior, a diversificação da economia é o grande desafio que o país está a enfrentar, sendo necessário instaurar “a confiança” na economia angolana, um factor “fundamental”.
“A confiança nas instituições e nos negócios é um elemento fundamental para o funcionamento das economias e das sociedades modernas. Pode-se mesmo dizer que onde não há confiança não há investimentos em níveis adequados”, disse, lembrando que já foram dados passos muito importantes pelo país, no sentido de restaurar a confiança entre os agentes económicos no mercado angolano.
Manuel Nunes Júnior referiu que foram dados passos importantes, em 2020, relativamente à dívida externa do país, com o seu reperfilamento, para torná-la sustentável e criar melhor espaço de tesouraria para fazer face às grandes necessidades do país.
Angola aderiu à iniciativa de suspensão do serviço da dívida, proposta pelo G20, e negociou com os seus principais credores, que no conjunto representam cerca de 55.2% do serviço da dívida externa termos favoráveis para o serviço da dívida remanescente, informou.
“Este reperfilamento da dívida com credores externos vai permitir o adiamento do pagamento de parte do serviço da dívida até 2023, prevendo-se com isso a criação de um espaço fiscal de aproximadamente seis mil milhões de dólares [cinco mil milhões de euros] nos próximos dois anos”, salientou.
O ministro de Estado para a Coordenação Económica frisou que para aproveitar este intervalo, o país deve fazer esforços para sair da situação de recessão económica que se encontra há já cinco anos e entrar para um cenário de retoma do crescimento económico.
Manuel Nunes Júnior destacou que está em curso no país, desde 2019, a implementação do programa de privatizações, que envolve 150 activos, dos quais 39 foram já alienados até à presente data, apresentando os resultados que confirmam que o mesmo deve continuar a ser executado com rigor.
Para este ano, perspectiva-se a privatização de um conjunto variado de activos, que inclui empresas do sector bancário, seguradora, telecomunicações, hotelaria e turismo, indústria, distribuição de combustível e várias participações da Sonangol na prestação de serviços da indústria petrolífera.
“Está aqui uma grande oportunidade para uma cooperação frutífera e de elevada rentabilidade entre empresários angolanos e espanhóis que certamente beneficiarão as economias dos dois países”, referiu.
“Queremos que a Espanha nos ajude a edificar uma economia cada vez menos dependente do petróleo, uma economia que cresça de modo sustentado e sustentável, uma economia que gere cada vez mais empregos e eleve os rendimentos dos cidadãos angolanos, que permita combater a fome e a pobreza em Angola e que consiga elevar cada vez mais os padrões de vida dos angolanos. Nós contamos com a Espanha”, apelou.
Folha 8 com Lusa
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