Mais de uma centena de apoiantes do líder destituído da UNITA por ordem do MPLA concentraram-se em frente ao local onde decorreu a reunião da Comissão Política da UNITA, para declarar apoio a Adalberto da Costa Júnior. Em exclusivo, o F8 adianta um dos mais importantes pontos, aprovado pelos 233 membros presentes, dos 250 que fazem parte da Comissão Política, ou seja 94%, quanto à realização do XIII Congresso, que deverá realizar-se até 04 de Dezembro. Assim, 221 votaram a favor 11 abstenções e um voto contra.
Descontentes com o tratamento noticioso dos órgãos públicos do MPLA (ditos angolanos), que consideram ser “manipulador”, alguns apoiantes exaltaram-se e tentaram impedir a entrada dos jornalistas, enquanto os dirigentes da UNITA tentavam controlar estes excessos e convencer os mais exaltados a deixar os profissionais da impressa cumprirem o seu dever de informar, mantendo-se no exterior sob vigilância policial.
Joaquim Adão Gonçalves, membro da JURA, organização juvenil da UNITA, foi um dos que se encontrava no local e disse que o objectivo é “fazer pressão” para que se “reponha a verdade e que Adalberto da Costa Júnior volte ao lugar onde estava pois foi o presidente eleito da UNITA”.
Adalberto da Costa Júnior foi afastado na sequência de uma decisão do MPLA que instruiu o Tribunal Constitucional para anular o XIII Congresso da UNITA, tendo sido reconduzido o anterior presidente, Isaías Samakuva, até à marcação de um novo congresso.
Joaquim Adão Gonçalves estacou que “a vontade do povo” é ver Adalberto da Costa Júnior reocupar o seu lugar. Mas como isso depende de quem tem a razão da força (o MPLA) e não de que tem a força da razão (a UNITA) tudo é possível, até mesmo a extinção da UNITA.
“O povo e a juventude angolana estão com o engenheiro Adalberto. Acredito que a direcção tem pessoas capacitadas, que o mais velho Samakuva não é uma pessoa de má-fé e tem o nosso respeito”, sublinhou.
Wilson Gonga veio também manifestar o seu apoio a Adalberto da Costa Júnior, apesar de não ser militante da UNITA, por considerar que é “um líder que mostrou que vai atrás do cidadão”.
Gonga disse à Lusa que o ambiente tenso se deveu “à vontade de ver Adalberto da Costa Júnior de volta ao seu lugar” e que “o que a população quer é a direcção da UNITA não meter mais candidatos”.
“O MPLA é diabo e vão usar as eleições, vão financiar o camarada que perdeu, e o povo quer que o engenheiro seja o único candidato”, indignou-se.
Questionado sobre a intimidação a que foram sujeitos os jornalistas, disse que a população angolana “não gosta da TPA (Televisão Pública do MPLA) porque mostram uma realidade que não é e manipulam a informação”, salientando que “o jornalismo angolano tem de mudar”.
Também no local da reunião encontrava-se o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas, Teixeira Cândido, que interveio pedindo para que “compreendessem o papel dos jornalistas” que é “fundamental” e frisou que os colegas que trabalham para a imprensa pública não controlam a linha editorial dos órgãos para que trabalham.
“Muitos dos jornalistas gostariam de fazer correctamente o seu papel, mas não tem poder para alterar a linha editorial”, disse à Lusa Teixeira Cândido, acrescentando que pediu aos apoiantes que cessassem as intimidações e ameaças contra jornalistas, o que foi acolhido “positivamente”.
A UNITA tem-se queixado do tratamento discriminatório dos órgãos controlados pelo Estado, como a Televisão Pública de Angola, TV Zimbo ou Rádio Nacional de Angola, na cobertura das suas actividades e os dois canais de televisão chegaram a anunciar que iriam suspender a cobertura do partido depois de os seus profissionais terem sido ameaçados durante uma manifestação.
Habituados a viver na selva supostamente civilizada onde, com o patrocínio e cobertura dos poderes instituídos, vale tudo, os chefes de posto dessas linhas de propaganda do regime entendem que a razão da força, dada por alguns milhares de kwanzas, dólares ou euros de avenças ou similares, é a única lei. Dos Jornalistas esperar-se-ia que lutassem pela força da razão. Não acontece. Não é de agora, mas agora tem mais força e seguidores.
Força da razão? Claro que não. Até porque em Angola, por exemplo, não existem Jornalistas a tempo inteiro. Na maior parte do tempo útil são cidadãos como quaisquer outros e que, por isso, não precisam de ser sérios nem de o parecer. Nas horas de expediente, sete ou oito por dia, exercem o comércio jornalístico, tal como poderiam exercer o enchimento de latas de salsichas.
Mas como existe uma substancial diferença entre exercer jornalismo e ser Jornalista, entre ser operário de um órgão de comunicação social (sobretudo estatal) e ser Jornalista, tal como exercer medicina e ser médico, continuamos a dizer que nesta profissão quem não vive para servir não serve para viver.
E é por isso que uma bitacaia no presidente do MPLA terá com certeza muito maior cobertura (ou até mesmo um livro sobre as Notícias do Palácio) do que o facto de Angola ter 20 milhões de pobres, ou de os angolanos serem gerados com fome, nasceram com fome e morrem pouco depois com… fome.
É por isso que os operários dos órgãos de comunicação, tal como quer quem manda na ERCA, lá estão para se servir, para servir os seus capatazes, e não para servir o público, para dar voz a quem a não tem.
Infelizmente os media estão cada vez mais superlotados de gente que apenas vive para se servir, utilizando para isso todos os estratagemas possíveis: jornalista/assessor, assessor/jornalista, jornalista/cidadão, cidadão/jornalista, jornalista/político, político/jornalista, jornalista/lacaio, lacaio/jornalista e por aí fora.
Como disse Gay Talese, cabe ao jornalista procurar incessantemente a verdade e não se deixar pressionar pelo poder público ou por quem quer que seja. Não interessa se as opiniões são do Secretário-Geral da ONU, da Rainha de Inglaterra ou do “dono” de Angola, de seu nome João Lourenço.
Falar hoje da regra basilar do regime angolano (até prova em contrário todos somos… culpados) é algo que desagrada aos poderes políticos de Angola, os mesmos desde 11 de Novembro de 1975.
Em Angola, 46 anos depois, uma muito grande parte da comunicação social amplia a voz dos donos do poder, na circunstância o MPLA, esquecendo que a sua função básica é dar voz a quem a não tem, neste caso aos milhões que – pior do que no tempo colonial, continuam a receber “desdém, fuba podre, peixe podre, panos ruins, cinquenta angolares e porrada se refilarem”».
Folha 8 com Lusa