Quando o Messias em vez de ser a solução é o problema

A campanha nacional e internacional (pelo menos) de divulgação dos feitos do Executivo angolano, liderado pelo Presidente do MPLA, da República e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, vai de queda em queda até à queda final. As mais recentes maçãs podres descobertas estão nas próprias Forças Armadas, cujos mais altas patentes estavam afectas à Casa de Segurança da actual Presidência da República de João Lourenço.

Em Angola, o MPLA é governo há 45 anos e João Lourenço, há quase quatro anos no Poder, afirmou logo ao fim de 13 meses de governo, que conseguiu o milagre de ter feito muito. É verdade. Em tão curto espaço de tempo já conseguiu pôr os rios a correr para o… mar. Pena foi que, certamente por distracção ou pressões dos marimbondos, o Comité Nobel não tenha considerado relevante esse feito. E agora o contributo de várias altas patentes das Forças Armadas de Angola pertencentes à Casa de Segurança de João Lourenço, que pretendiam pôr num paraíso seguro vários milhões de dólares, euros e kwanzas, só veio ajudar a compreender que João Lourenço (que os escolheu) não é uma solução para o problema mas, antes, um problema para a solução.

Não adiante remar contra a maré quando se está no meio do deserto. É mesmo verdade que um fraco rei faz fraca a forte gente!

“Eu exerço este cargo há exactamente 13 meses, portanto, exigir do meu Executivo muito mais do que temos vindo a fazer, não parece justo nem realista sequer”, disse João Lourenço, acrescentando que “não há milagres, mas mesmo assim já conseguimos o ‘milagre’ de termos feito muito em pouco tempo”.

De facto, o conceito de milagre não é recente no MPLA: “Não há milagres para inverter o actual quadro económico e social de Angola. Há trabalho reservado para todos angolanos e para os estrangeiros que escolheram o nosso país para viver ou para investir e trabalhar”.

Quem disse isto? Nada mais, nada menos, do que Luísa Damião, hoje vice-presidente do MPLA, no Congresso do Partido Comunista Português, a 4 de Dezembro de… 2016, em Almada, e que então representava o MPLA, na versão (hoje ostracizada) José Eduardo dos Santos.

Seja como for, mantendo a mesma linha do seu antecessor, desde logo porque como José Eduardo dos Santos não foi nominalmente eleito, João Lourenço bate aos pontos a anterior santa milagreira do MPLA, Isabel dos Santos, que transformava ovos comuns em ovos de ouro. Está a revelar-se um verdadeiro messias, um autêntico D. Sebastião africano e negro e potencial vencedor do próximo Nobel da Economia (por não conseguir diversificar a economia) ou da Paz (por continuar a enaltecer o papel de um genocida – Agostinho Neto – na história mundial).

De facto, ao fim desses 13 meses era já possível afirmar com toda a certeza e segurança, que João Lourenço “soube liderar com bastante perspicácia” a luta pela libertação, registando já como legado a independência do país do jugo colonial português. Isto para já não falar da libertação de África, do fim da escravatura no mundo e da democratização da Coreia do Norte.

Nesses 13 meses o mundo já reconhecia o papel único de João Lourenço, tanto em Angola como em África e até nos restantes continentes. Por isso todos esperamos que, tão rapidamente quanto possível, a Academia Nobel não se esqueça de lhe atribuir um Prémio Nobel. Qual? Tanto faz. Modesto como é, aceitará com certeza qualquer um.

Acresce que excluindo-o, ou esquecendo-o, a revolta vai instalar-se no regime e as repercussões mundiais serão graves. Todos sabemos que quando João Lourenço espirra, o mundo apanha uma grave pneumonia… e os militares da sua Casa de Segurança roubam milhões.

Todos sabemos que um Prémio Nobel para o presidente seria o mais elementar reconhecimento de que João Lourenço é “o líder de um ambicioso programa de Reconstrução Nacional”, que a “sua acção conduziu à destruição do regime de “apartheid”, que tem “um papel de primeiro plano na SADC e na CDEAO”, que “a sua influência na região do Golfo da Guiné permite equilíbrios políticos”.

A Academia Nobel esquece-se de pontos fundamentais: O Presidente João Lourenço não governa. Ele é o líder de um povo que teve de enfrentar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeiros e os seus aliados internos; ele foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionado e só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democráticos; foi graças a João Lourenço que Portugal adoptou a democracia, que a escravatura foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar.

E, é claro, João Lourenço nada tem a ver com o facto de Angola ser – entre muitas outras realidades – um dos países mais corruptos do mundo, de ser um dos países com piores práticas democráticas, por ser um país com enormes assimetrias sociais, por ser um dos países com um dos maiores índices de mortalidade infantil do mundo.

Tal como Folha 8 tem escrito (o que levou os acéfalos acólitos do Poder a catalogar-nos de marimbondos), o resultado das políticas de moralização, integridade, ética e transparência, supostamente sustentadas pela via reformista do Presidente João Lourenço, mais não são do que um vasto caderno de boas intenções. É assim há 45 anos para o Povo.

“Desde que João Lourenço assumiu a presidência, o Governo tem feito esforços significativos para reformar o país”, escreveram muitos analistas após a leitura desse manancial de boas intenções. Agora, quando analisam o país real e os resultados, começam a falar de ilusão de óptica, de miragens, de muita parra e pouca uva.

Assim, continuamos todos (e agora o F8 já tem bastante companhia) à espera dos resultados dessas reformas e das anunciadas como grandiosas promessas de atacar a corrupção, o peculato (roubo), a impunidade e restantes “virtudes” de quem não é Presidente para servir os angolanos, mas apenas para deles se servir.

É verdade que o Governo fez um bom diagnóstico sobre a enfermidade do doente (cronicamente acamado desde 1975), faltando apenas saber (e já passou tempo mais do que suficiente) se a terapia algum dia terá resultados práticos. Nestes 45 anos de independência, o resultado foi – em síntese – 20 milhões de pobres. É claro que, como nos ensinou ao longo de 38 anos o anterior Presidente, José Eduardo dos Santos, há sempre a possibilidade de o doente não morrer da doença mas sim da cura. Sendo ainda certo que os governantes, seja qual for o resultado, nunca estarão… doentes.

Com um cenário em que as contas do Governo estão sempre a sair furadas e continua a ser feita uma a navegação à vista, João Lourenço continua a apostar nas desculpas (muitas delas esfarrapadas) e no valioso contributo (que ele próprio inventou) dos tais marimbondos, traidores e “esvaziadores” de cofres (terão sido eles que nomearam os oficiais das FAA para a Casa de Segurança de João Lourenço?).

Apesar de os anúncios de reformas serem positivos, tal com o (suposto) empenho em combater a corrupção, o peculato, a impunidade, continua por se ver quão séria, verdadeira e sólida é a agenda de reformas. João Lourenço prometeu ser um corredor de fundo. Todos, ou quase, acreditaram. No entanto, até agora só se consegue ver que o Presidente está no fundo do corredor.

Por outras palavras a ementa do Governo tem produtos variados, pratos de alta qualidade, cozinheiros mundialmente afamados. No entanto, na cozinha só existe um prato para servir aos angolanos: peixe podre, fuba podre. Quem refilar… porrada neles.

As iniciativas prometidas por João Lourenço vão provavelmente ajudar Angola a diversificar a sua economia, aumentando a produção interna, incluindo a manufactura e a agricultura, e reduzir a dependência do país das importações. Todos queremos acreditar que vão ajudar. Mas o que se está a verificar é que a comida só chega ao esfomeado quando a família deste celebra a missa de sétimo dia do falecimento.

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