Problema não são os “Lussaty”, mas a idolatria da ditadura

O regime já não tem voltas a dar. Corroeu, gangrenou e a sobrevivência só é possível, com o recurso ao bico das baionetas, das balas assassinas e das bombas dos canhões, que também tem os dias contados, pois os “disparadores”, tratados como carne para canhão e muitos pós desmobilização, têm como reforma, vegetar nos contentores de lixo, para sobreviver, começam a ganhar consciência de serem usados como meros assassinos, para defender um regime e casta, que não lhes tem respeito e consideração, pois usam-nos apenas em proveito umbilical, para continuarem refastelados na pirâmide de um poder déspota.

Por William Tonet

1. PARTIDO/ESTADO – O MPLA implantou uma verdadeira desestruturação política do Estado operacionalizada por um regime governamental absolutista que transforma o défice democrático, o “modus operandi” de uma governança acéfala que faz da “violência policial” um mecanismo de contenção das massas sociais, adestrando-as conforme a lógica do medo e da precariedade existencial, tornando-as dóceis e submissas, com o apoio estratégico de um programa ultraliberal, que escancara a economia ao capital estrangeiro, que branqueia a corrupção e a evasão de capitais, numa óptica, completamente avessa ao crivo democrático.

2. É O SISTEMA, NÃO OS LUSSATY – Um cidadão foi exposto, na comunicação social pública, como tendo engendrado de “motu proprium” um desvio monstruoso e bilionário. Mentira! A cadeia de comando militar é rigorosa e vertical no mando e, tratando-se da Casa de Segurança do Presidência da República, onde existe a dualidade funcional: Presidente da República e Comandante-em-Chefe das FAA, nada pode passar despercebido, durante tanto tempo, sem que as assinaturas decisórias tenham sido apostas nas devidas e competentes autorizações de levantamento dos montantes no Banco Nacional de Angola, visando alimentar a selectiva e corrupta distribuição, entre as estrelas bélicas.

A não ser que estejamos diante de uma completa baderna institucional na “manus militar” da Presidência da República, só comparada a um covil de larápios onde impera a lei da ladroagem.

Acreditar que o major Pedro, o Lussaty, chegue, por engenharia mental, a ludibriar mais de 10 generais, incluindo o Comandante- em-Chefe das Forças Armadas, só pode ser uma das mais inverosímeis mentiras e ofensa à maioria dos angolanos de bem.

Lussaty é mais um embuste, construído para ludibriar a não realização, em 2021, das eleições autárquicas, o fracasso do programa económico, a tentativa de adiamento das eleições de 2022, com o adiamento do registo eleitoral e o falhado e selectivo combate à corrupção que gastou mais dinheiro do que recuperou, em quatro anos, com novos milionários, reforçados na classe das magistraturas.

Pedro Lussaty é laranja dos generais, que se fartaram de comer e, como era demais a exposição ao facilitismo, foram completamente incompetentes, porquanto algumas trincheiras indignaram-se e denunciaram o feito, sendo descobertos “infantilmente”, ao ponto de irritarem tanto o chefe máximo, que não teve outra alternativa senão exonerar toda a corte, incluindo o chefe da Casa de Segurança, Pedro Sebastião, excluindo o seu adjunto, o “general-irmão” do Presidente da República que, alegadamente, “assistiu aos roubos, beneficiou com os roubos, mas não é ladrão”, como os demais que foram copiosamente “enxotados” e tratados como tal em hasta pública.

Acreditar ser este acto, uma demonstração da eficácia de João Lourenço no combate aos crimes de corrupção, sai da linha do razoável e, torna o ridículo, uma pérola propulsora da máquina mental dos membros do bureau político do MPLA, que ante o óbvio: ADN da ladroagem do regime, preferem considerar não que JLO pode ser Deus, mas que é o próprio Deus, pois é isento de errar e tem uma inocência e bondade transcendental.

3 – PAÍS COM UM ÓRGÃO DE SOBERANIA – O que intriga e indigna os angolanos de bem é ver desfilar tanta incompetência, ladroagem, corrupção, no seio de um partido político que tem os códigos dos cofres públicos e os seus membros coloquem em primeiro plano o partido ao invés de Angola. Como pode ser considerado pessoa de bem, um militante do MPLA que se orgulha de em 46 anos de poder absoluto e exclusivo, o partido resistir na criação de órgãos de soberania fortes, independentes, optando em colocar no topo da pirâmide o MPLA, não como quarto, mas primeiro órgão de soberania que a todos se sobrepõe?

É preciso uma verdadeira reforma mental da elite dirigente deste partido sob pena de sucumbirem, na esquina da nova aurora, pois não podem continuar a demonstrar amar mais o dinheiro que o cidadão.

Como interpretar o fundamento do Mandado de Buscas e Apreensões da Procuradoria da Região Militar de Luanda que, publicamente, vem demonstrar não conhecer sequer o nome dos seus generais, ao ponto do agente, sobre quem impende o mandado ser identificado com a sua alcunha: Tenente General “Maneco”. Insólito! É a justiça que temos…

4 – INSANIDADE DIRIGENTE – A insanidade da classe dirigente pode levar à instabilidade de um país, principalmente, quando políticos e intelectuais, hipotecam o saber para idolatrar o poder absoluto de um homem que esvazia os órgãos de soberania. A intelectualidade deve indignar-se e dizer que nenhum presidente, por mais competência que tenha, não pode querer monopolizar tudo e todos, mesmo quando a fome e a miséria avançam para o interior dos cidadãos, que morrem face à brutalidade mental dos dirigentes.

5 – SOLDADO CONTENTOR – Na maioria das vezes servem de carne de canhão, depois são tratados pior do que leprosos. Os soldados pobres garantem a sobrevivência de poderes e regimes déspotas que se servem deles e depois, como sempre, tratam-nos como cães mendigos, sem ter, sequer uma reforma digna para sobreviver. Este soldado que não é desconhecido para continuar a viver tem como despensa os contentores espalhados por esta Luanda e Angola fora. Deveriam ter vergonha, senhores governantes, pois não vivem para servir, mas para se servir.

6 – NÃO É FÁCIL SER POBRE – A Polícia Nacional, cada vez mais partidocrata, que acoberta os horrores do regime não se coíbe de continuar a matar, por razões tribais, raciais, regionais, tribais ou ideológicas.

Infelizmente, para desconsolo colectivo, nos últimos tempos é um crime ser Tchokwe com coluna vertebral erecta, o que significa não estar atrelado à boçalidade ideológica, que tenta inculcar na mente do cidadão, no caso, Lunda-Tchokwe, ser uma fatalidade, nascer num chão rico e viver miseravelmente pobre, vendo a riqueza ser extraída, levada para Luanda onde apenas serve uma clique dirigente, confortavelmente instalada, onde até os seus cães fazem três refeições, enquanto o ser humano de Kafunfu, Cuango, Nzaji e arredores vivem abaixo de cão, pois meia-refeição, na maioria das luas é muito…

E, quando uma voz de tanto o estômago macular a mente se solta, as balas, quais coloniais instruídas, saem quentes das armas assassinas, para se alojarem em corpos frágeis e inocentes.

Os polícias, os militares, enviados da Cidade Alta de Luanda, que controlam os “colonizados indignados”, são insensíveis e indiferentes ao real sofrimento das gentes de Kafunfu é como dizia Bauman, 1998: “Cada vez mais, ser pobre é encarado como um crime; empobrecer, como o produto de predisposições ou intenções criminosas – abuso de álcool, jogos de azar, drogas, vadiagem e vagabundagem. Os pobres, longe de fazer jus a cuidado e assistência, merecem ódio e condenação – como a própria encarnação do pecado”.

Artigos Relacionados

Leave a Comment