(Pre)visões à medida de quem… paga

Há consultoras que dizem tudo e o seu contrário. De acordo com os seus próprios interesses, às segundas, quartas e sextas dizem que economia de Angola vai bater no fundo, às terças, quintas e sábados afirmam que que vai recuperar como nunca e, ao domingo, negoceiam o que vão divulgar nessa semana.

Agora, a consultora NKC African Economics considerou que a economia de Angola deverá crescer 1,3% este ano, apesar das limitações impostas pela pandemia, da baixa produção de petróleo e da falta de água para a agricultura. Ou seja, a culpa nunca é da manifesta, ancestral e genética incompetência de um governo que não sabe distinguir o fundo do corredor do corredor de fundo.

“No seguimento das reformas lançadas nos últimos anos, que estão a encorajar o investimento, a recuperação no preço do petróleo e uma previsível recuperação da procura global, prevemos que o crescimento económico chegue quase a 1,3% este ano”, escrevem os analistas num comentário aos últimos números do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola, que apontam para uma recessão de 5,2% no ano passado.

“A recuperação económica este ano será, ainda assim, limitada pelas restrições que continuam em vigor relativamente à pandemia de Covid-19, um modesto declínio previsto para a produção de petróleo este ano devido ao esgotamento dos poços, e à produção agrícola mais baixa por causa da falta de chuva entre Dezembro e Março nas regiões mais a sul”, afirmam os analistas.

Na nota enviada aos clientes, os analistas desta filial africana da Oxford Economics lembram que “a recessão económica de 5,2% em 2020 foi a pior desde 1993, e representa um agravamento face à queda de 0,6% registada em 2019”, atribuindo estes resultados “em parte à excessiva dependência de Angola face ao sector petrolífero, que se afundou no seguimento da queda dos preços de 2014 e à estável redução da produção dos poços devido à falta de investimento”.

A economia de Angola registou um crescimento negativo de 5,2% no ano passado, de acordo com os dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística (INE), confirmando a maior queda da economia nos últimos cinco anos.

“O Produto Interno Bruto (PIB) em volume encadeado do quarto trimestre de 2020, em comparação com o trimestre anterior, ajustado sazonalmente, registou um crescimento de 0,6%, e em comparação com o quarto trimestre do ano anterior registou uma queda de 5,4%; o PIB anual preliminar, resultante dos quatros trimestres de 2020, recuou 5,2% em relação ao ano de 2019”, lê-se na nota disponível no site do INE.

O ano passado, confirma-se assim, foi o quinto ano consecutivo em que a economia angolana perdeu terreno, depois das quebras de 2,6% em 2016, de 0,2% em 2017, de 2,1% em 2018 e de 0,6% em 2019, segundo os dados apresentados pelo INE angolano.

No ano passado, a economia do segundo maior produtor de petróleo esteve sempre em território negativo, começando no primeiro trimestre com uma queda de 0,8%, que se aprofundou para 8,5% de Abril a Junho, e abrandou depois para 6,2% nos três meses seguintes e para 5,4% no último trimestre do ano passado.

Segundo o INE, “o desempenho das actividades económicas no quarto trimestre de 2020 em relação ao quarto trimestre de 2019, em termos de variação negativa, é atribuído fundamentalmente às actividades de Construção (-41,5%), Transporte e Armazenagem (-13,2%), Correios e Telecomunicações (-16,9%), Extracção e Refino de Petróleo (-10,8%), Administração Pública (-6,8%), Outros Serviços (-2,8%), Electricidade e Água (-2,9%)”, lê-se na apresentação das Contas Nacionais do quarto trimestre.

Para este ano, o Governo estima um crescimento “positivo” muito próximo de 0%, enquanto o Fundo Monetário Internacional reviu na semana passada em baixa a previsão de crescimento para 2021, de 3,2% para 0,4%.

Mudam os “financiadores”, mudam as previsões

No dia 2 de Fevereiro, a mesma consultora, NKC African Economics, considerou que as recentes manifestações e os confrontos mortais em Angola mostravam que o descontentamento popular deverá continuar, oferecendo um terreno fértil para a oposição capitalizar a insatisfação dos eleitores.

“Não é claro se os eventos em Cafunfo vão levar a mais instabilidade na região ou noutros sítios em Angola, mas o que é claro é que a insatisfação com o Governo de João Lourenço não mostra sinais de desvanecer, o que oferece aos partidos de oposição e aos movimentos independentistas a oportunidade para mobilizarem os apoiantes e aproveitarem o descontentamento geral”, disse o analista Louw Nel.

Pelos vistos não adiantou a ordem dada ao pasquim oficial (Jornal de Angola) para divulgar a tese de que havia estrangeiros envolvidos na rebelião…

O analista da NKC African Economics escreveu que “o aumento das acções de protesto do Movimento do Protectorado Português da Lunda Tchokwe (MPPLT) coincidiu com uma subida generalizada das manifestações anti-Governo em Angola no ano passado, que estavam relacionadas com a deterioração das condições socioeconómicas agravadas pela pandemia e pela quebra dos preços do petróleo”.

As autoridades, lembrou Louw Nel, “responderam de forma pesada, com a brutalidade policial a aumentar ainda mais o vigor dos protestos”, a que se juntou o adiamento das eleições municipais, um revés para estes movimentos, que “são os que mais têm a ganhar com a participação popular na escolha dos seus representantes municipais e distritais”.

Recorde-se que, segundo os génios do partido que está no Poder há 45 anos (o MPLA), o verdadeiro e mais antigo acordo de protectorado, sobre Angola e terras adjacentes, que os dirigentes do MPLA assinaram data de 1485 e foi assinado pelo próprio Diogo Cão…

Portugal, como faz parte do seu ADN, ignorou a condição do reino quando (tal como fez em relação a Cabinda) negociou a entrega (chamou-lhe eufemisticamente independência) de Angola entre 1974/1975 apenas ao MPLA, simulando que o fazia também com a UNITA e a FNLA.

Folha 8 com Lusa

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