PRESIDENTE, O “FILHO” NÃO É SEU!

O embaixador de Angola junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) reiterou hoje a intenção da presidência angolana de criar um banco de investimento da organização, afirmando que “o trabalho de casa” está a ser feito. E que tal dizer que João Lourenço não é o “pai” desse criança? A ideia do banco, apresentada por João Lourenço, é um plágio porque já fora apresentada, em 2015, pelo então secretário Executivo da CPLP, embaixador Murade Isaac Murargy.

“O banco está na mesa, o banco está na agenda. O banco é, dentro da componente do programa de presidência de Angola, um item importante”, afirmou em declarações à Lusa o embaixador Francisco Oliveira Encoge.

Segundo o diplomata, que representa a Presidência angolana da CPLP em Lisboa, o seu país está a fazer o trabalho de casa necessário para depois levá-lo aos restantes Estados-membros.

“Estamos a trabalhar (…) com os técnicos. Ainda não chegámos aos Estados-membros. Angola está a fazer o trabalho de casa, porque é parte do seu programa de Presidência, e os Estados-membros já conhecem esse propósito”, frisou.

“Acredito que também eles se estão a preparar e vai chegar o momento em que nos vamos juntar todos para falar sobre o nosso futuro banco”, acrescentou.

A criação de um quarto pilar, ou objectivo da organização, o da cooperação económica, foi aprovada na XIII Cimeira de Chefe de Estado e de Governo da CPLP, que decorreu a 17 de Julho em Luanda e na qual o Presidente angolano, João Lourenço assumiu o cargo de presidente da organização, para os próximos dois anos.

Salientando que não existe, neste momento, qualquer negociação com instituições financeiras, admitiu, porém, como possível uma ligação ao projecto de uma entidade como o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). “Sim, sim, admito que sim”, afirmou, quando questionado sobre esta possibilidade.

“Não lhe posso dizer que já existam negociações, mas o BAD é um parceiro, e um parceiro, se não de todos, pelo menos da grande maioria dos Estados-membros da organização. O BAD tem representações, escritórios em grande parte dos Estados-membros”, concluiu.

O Presidente João Lourenço, sugeriu (plagiou é o termo mais correcto) na cimeira de Luanda a criação de um banco de investimento para a CPLP para desenvolver o potencial económico dos países que integram a organização.

“Podemos ser uma força económica relevante se trabalharmos para isso. Deixamos o desafio de se começar a pensar na pertinência e viabilidade de criação de um banco de investimentos da CPLP”, disse João Lourenço, no discurso de encerramento da XIII Conferencia de Chefes de Estado e de Governo da CPLP.

João Lourenço sublinhou que durante a cimeira, os governantes tiveram oportunidade de discutir questões relevantes para os respectivos países e fixar um quadro de cooperação mais consentâneo com a actual conjuntura internacional.

“Podemos ser uma força económica relevante se trabalharmos para isso”, exortou o chefe do executivo angolano.

Retrocedamos a 25 de Julho de 2015. A CPLP deve criar um banco ou agência multilateral de investimento para dar maior apoio às empresas dos Estados-membros, consolidando assim o papel de “intervenção económica” da organização, defendeu nesse dia o seu secretário Executivo.

“A CPLP deve ser não um bloco económico mas um bloco com intervenção económica. É um bloco essencialmente político e diplomático mas com intervenção económica”, disse em Díli, Timor-Leste, o embaixador Murade Isaac Murargy.

“O papel da CPLP, do secretariado, dos Estados-membros, é apoiar o empresariado, criar condições, criar um ambiente de negócios propício para que eles livremente possam actuar, fomentando e promovendo os investimentos”, afirmou.

Murade Isaac Murargy falava depois da XX reunião do Conselho de Ministros que analisou estes e outros temas no âmbito do debate sobre a nova visão estratégica da CPLP, com muitos sectores a defenderem que a organização deve procurar ser mais prática e eficaz, com acções que beneficiem os seus cidadãos.

Os responsáveis destacaram o desenvolvimento de maiores laços económicos, capitalizando na marca CPLP e na sua posição geográfica em quatro continentes.

Como exemplo das medidas que podiam ser postas em prática, e já apresentada a Timor-Leste, Murade Isaac Murargy referiu a “criação de um banco de investimento, uma agência multilateral de investimentos, que possa permitir um apoio as empresas”.

“Criar uma instituição dessa natureza ao nível da CPLP em que todos os Estados-membros, os países, os bancos, sejam accionistas desse banco, e onde podem entrar o Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) ou outros. Algo que permita colaborar com as empresas que queiram intervir nas nossas áreas”, destacou.

O objectivo principal da presença da CPLP na Ásia, por exemplo, é exactamente, destacou, “atrair os empresários da ASEAN para que colaborem também com as empresas” lusófonas.

No que toca à visão estratégica, Murade Isaac Murargy disse que deve ter “uma componente mais política, mais económica e empresarial”, procurando ouvir não apenas as opiniões dos Estados-membros mas também a sociedade civil, o mundo empresarial e os académicos.

“Uma visão abrangente em que o cidadão da CPLP se sinta também envolvido no futuro da CPLP”, disse.

Igualmente importante, destacou, é fomentar a aproximação com o crescente número de Estados que querem ser observadores associados. Já na mesa estão propostas do Uruguai, Peru e Israel, juntando-se à mais antiga de Marrocos.

A criação de um potencial banco estava já então alinhada com a intenção de inclusão de um novo pilar económico e empresarial, uma das prioridades da presidência angolana da CPLP, que começou nessa altura.

Folha 8 com Lusa

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