Ponto prévio: A política é suja, mas não navega na pocilga, pese ter nela muitos políticos porcos, intelectualmente, opacos, cujo cérebro está ligado ao intestino grosso.
Por William Tonet
Declaração de intenção. Estimado presidente do MPLA, João Manuel Gonçalves Lourenço, Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, Titular do Poder Executivo, João Manuel Gonçalves Lourenço, Chefe de Estado, João Manuel Gonçalves Lourenço, Comandante em Chefe das FAA, João Manuel Gonçalves Lourenço, Nomeador, discricionário, do Procurador-Geral da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, Nomeador/indicador discricionário e exclusivo dos presidentes e juízes conselheiros dos tribunais superiores: Supremo; Constitucional; Contas, João Manuel Gonçalves Lourenço, Estimado Presidente.
Eu, William Afonso Tonet, ex-criança soldado, cidadão n.º 813, natural da 1.ª Região Político-Militar do MPLA, com o nome de guerra: Kuiba, participante em várias batalhas, antes e pós-independência, como chefe indígena, advogado discriminado pelo regime, ex-militar, sem reforma, por maldade do regime, jornalista e docente universitário, declaro por minha honra, conta e risco, estar disposto a regressar aos écrans das TPA 1; TPA 2; TPA 3; TPA 4 (onde fui um dos quadros fundantes, dela excluído partidocratamente e, também, sem direito a reforma), em conferência de imprensa, para, publicamente, falar sobre democracia, fraude eleitoral, discriminação política, económica e social, durante 10 minutos.
Juro, não defender políticas económicas erradas, que levam milhões à fome e à miséria, nos últimos três anos. Juro apresentar provas, sobre os muitos quadros que, hoje, sobrevivem comendo restos de comida deitados nos contentores de lixo, por uns poucos de nós.
Juro denunciar o descaso do Executivo em relação à Educação e o seu motor fundante: os professores, maculando-se desta forma o futuro.
Dir-me-ão estar no reino do delírio! Certo ou errado, tudo incrimina, mas sonhar não é crime, pelo contrário… Mas se, ainda assim, não for atendido no pedido, por resistências espúrias, recordo-lhe o sentido sublime e solene, em propor um diálogo, que deveria ter sido feito, em 1975, visando não uma revisão pontual da (des)Constituição mas a imprescindível “Revisão Pontual da Imaterialidade dos Povos”, que pacífica e harmoniosamente, convivem o mesmo espaço territorial, consagrado como torrão unificador de sentires e gemeres de vários povos e micro-nações, detentoras, cada um (a) de veia identitária própria.
Isso tendo em conta que em 1482, Diogo Cão desembarcou no Porto de Mbinda, situado na capital do Reino do Kongo e não em Angola, que não existia, logo é uma construção conceitual colonial, porquanto naquele longínquo ano, existiam os Reino do Kongo; Reino do Ndongo; Reino Tchokwe; Reino M’balundu; Reino Nhaneka Wumbi; Reino Ovimbundu, entre outros, de tal monta, que os Reis Ngola Kiluangi, Mandume, a Rainha Njinga Mbandi, Kimpa Vita, nenhum (a) dele(a) s lutou senão para os respectivos reinos, por não haver ainda a unidade territorial Angola.
Ora, havendo várias identidades, no torrão, impunha-se que houvesse higiene intelectual das lideranças a necessidade imperiosa de se reunir todos os povos e micro-nações, para em audição se chegar a um denominador comum: continuar como Angola ou adoptar outra denominação, para alojar, imaterialmente, o sonho de todos serem partícipes, em 1975, de um novo projecto-país.
A coluna vertebral erecta leva-me a desafiar Sua Excelência, presidente do MPLA, com amplos poderes, conferidos por uma Constituição reflectora, apenas da visão de uma das múltiplas identidades, a promover a “1.ª Discussão Inclusiva das Identidades”, que habitam, harmoniosamente, o longo lençol territorial, criado, pelos colonialistas portugueses, como ente jurídico internacional, chamado Angola. Este deve ser, o primeiro ponto de uma agenda séria, credível e profunda, se em causa estiver, a Revisão Constitucional, que se impõe para afastar muitos pruridos, frutos de indefinições e discriminação do MPLA para com outras as identidades, o que leva a que uma e outra tentem, ao abrigo da legitimidade que se lhes assiste, tentarem repristinar, tratados e acordos, celebrados com as autoridades coloniais portuguesas.
Quando se tem medo de discutir um sentimento, um sonho, não se está na presença de um Estado plural e conhecedor das suas gentes, mas de uma monarquia partidocrata, com práticas, amiúde, piores do que as dos colonialistas…
Ciente de evidentes resistências, vindas da aristocracia partidocrata, face à pequenez da massa encefálica, alguém, estendeu a fórmula capaz de me serem concedidos tempos de antena nas TPA’s; I, II, III, IV, todas sob controlo exclusivo do candidato do MPLA (acabou com a pluralidade informativa, podendo este facto, a par da dependência da CNE, órgão eleitoral partidocrata, influenciar a não participação da oposição, nas eleições) seria a predisposição, em falar mal de José Eduardo dos Santos, presidente emérito do MPLA e ex da República.
A missão, seria destratá-lo, ofendê-lo, acusá-lo de marimbondo-mor, maior gatuno, líder das gangues delapidadoras do erário público, violador de criancinhas, denunciá-lo, ainda, como o maior corrupto do mundo e, na esquina, de todo o rosário, de “big-gatuno”, superando Ali Babá, chefe dos 40 ladrões.
Nesta lógica dantesca, falar até do desconhecido, exclui o contraditório, nos órgãos públicos do MPLA, enquanto primeiro órgão (underground) de soberania do Estado, correias de transmissão da política do regime e verdadeiros algozes de políticos, intelectuais independentes e actores da oposição.
Estarei interessado em virar caracol e navegar nas águas putrefactas dos esgotos governamentais, controlados por agentes competentes de extrema incompetência, para ter alguns minutos de fama? NÃO! Não, por duvidar que víbora vira minhoca ou que o lobo, ao não comer, em três dias, nenhuma galinha da capoeira, virou vegetariano…
Desisto, não quero mais, ter tempo de antena, nas televisões, quando os meus compatriotas continuam a ser discriminados, desempregados, a comer nos contentores, como nunca no tempo colonial e, covardemente, assassinados, sempre que gritem: LIBERDADE!
Finalmente, rejeito ser fantoche, traidor e agente duplo, funções perniciosas ao pensamento democrático e de liberdades, isto porque se, até o lixo, que se manifesta, ao abrigo do art.º 47.º da Constituição, por toda a cidade, rejeita, no seu seio, os actuais dirigentes do poder, quem sou eu para acreditar, na boa fé de truculenta incompetência?