A ministra de Estado para todas as áreas (pequenas e grandes), Carolina Cerqueira, destacou hoje a necessidade de uma maior representatividade africana na Bienal de Luanda-Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz, a ter lugar, na capital angolana, em Outubro.
A ministra, que falava na primeira reunião da Comissão Multisectorial da Bienal de Luanda, para constituir um espaço de reafirmação do compromisso para com a conquista e manutenção da paz e dos seus ideais, é necessária uma advocacia forte para trazer ao país o maior número de personalidades africanas.
Carolina Cerqueira fez menção ao facto de o certame servir como oportunidade para se reforçar os laços de amizade, irmandade entre os povos e alicerçar o diálogo pela paz, bem como a convivência sã.
A Bienal de Luanda, na óptica de Carolina Cerqueira, deve tornar-se na bandeira de Angola para mostrar e reafirmar o seu forte engajamento na conquista e manutenção da paz ao nível dos países africanos.
Para o ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Jomo Fortunato, trata-se de uma oportunidade para se promover uma reflexão sobre a prevenção de conflitos, a educação da juventude, a empregabilidade.
Jomo Fortunato considera essencial reflectir-se sobre o passado histórico africano e a historial geral de África, razão pela qual olha para o evento em si como uma “soberana” oportunidade para se promover o património e as artes africanas, em geral, e particularmente a angolana.
Já o coordenador nacional, Sita José, informou que a comissão organizadora tudo está a fazer chegar até ao mês de Outubro com o programa fechado e as condições necessárias para juntar as diversas personalidades para uma abordagem sobre o continente africano.
Por seu turno, o coordenador internacional, Enzo Fazzino, manifestou total disponibilidade da UNESCO para o alcance dos objectivos preconizados com a realização do evento.
Enzo Fazzino avançou que a UNESCO está a desenvolver acções para a participação da União Africana ao mais alto nível no evento, como forma de realçar o compromisso para com a promoção da paz, da unidade e da coesão social.
Numa co-organização do Governo angolano, Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (UNESCO) e a União Africana (UA), o evento pretende envolver os países africanos numa corrente destinada à promoção de uma cultura de paz.
Com a Bienal de Luanda, pretende-se promover também a harmonia e irmandade entre os povos através de actividades e manifestações culturais e cívicas, com a integração das elites africanas e representantes da sociedade civil, autoridades tradicionais e religiosas, assim como intelectuais, artistas e desportistas.
Em cinco dias de actividades, Luanda será transformada num espaço de intercâmbio e de promoção da cultura africana, envolvendo individualidades ligadas às artes, política, sociedade, entre outros.
A bienal visa ainda a criação de um movimento africano que, possa disseminar a importância da cultura de paz, tendo em conta o desenvolvimento e afirmação dos países africanos em vários domínios, particularmente na defesa dos direitos humanos e das minorias, assim como (não podia faltar no cardápio da propaganda do MPLA) o combate à corrupção.
A resolução de conflitos (em África) é um problema de todos os africanos e Angola quer partilhar experiências e trazer contributos para este debate na Bienal de Luanda, disse em Setembro de 2019 o secretário de Estado da Cultura angolano, Aguinaldo Cristóvão, a propósito da edição desse ano da Bienal de Luanda.
Em África “temos alguns problemas relacionados com conflitos, temos violência, mas estes problemas não podem ser vistos de modo estanque”, disse Aguinaldo Cristóvão, sublinhando que a resolução dos conflitos deve ser partilhada por todos os africanos.
“A resolução da violência na África do Sul não pode ser vista apenas como um problema da África do Sul; é um problema nosso, enquanto africanos. É um problema da região”, reforçou.
Aguinaldo Cristóvão indicou que o Estado angolano “tem uma experiência em matéria de resolução de conflitos muito importante”, que quer partilhar, e uma filosofia de apoio aos outros países, tentando “encontrar mecanismos de desenvolvimento conjunto”, tendo sido esta uma das razões por que decidiu acolher a Bienal de Luanda.
A fazer fé na “partilha” de resolução de conflitos que o Governo do MPLA (o único que o país teve desde 1975) praticou internamente, de que são exemplos os massacres de 27 de Maio de 1977 e a Batalha do Cuito Cuanavale, todo o cuidado é pouco.
A Bienal teve vários fóruns de reflexão onde foram discutidos vários temas, como “os desafios” que se colocam à juventude, propondo soluções relacionadas com criatividade, inovação e empreendedorismo, bem como “boas práticas” trazidas por outros países, revelou o mesmo responsável. Ficou por saber que novidades o Governo tencionava tirar da cartola sobre, por exemplo, a promessa da criação de 500.000 novos empregos.
Os fóruns incidiram também sobre a resolução de conflitos, “que é o principal objectivo”, reforçou Aguinaldo Cristóvão, focando ainda o Fórum da Mulher, abordando o papel da mulher na implementação de soluções, sendo necessário “criar condições para que as mulheres tenham melhores ferramentas para educar os seus filhos e famílias”.
Se calhar a criação basilar seria que as nossas crianças não fossem geradas com fome, nascessem com fome e morressem pouco depois com… fome. Talvez os nossos 20 milhões de pobres possam dar uma ajuda.
O secretário de Estado sublinhou ainda que vários dos conflitos que ocorrem no continente africano “radicam num problema de identidade cultural” e relacionam-se com o facto de “não olhar o outro encarando a diferença neste mesmo olhar”. É verdade. Veja-se o caso de Angola onde coabitam pacificamente os verdadeiramente angolanos (os que são do MPLA) e os outros…
“A Bienal assume que os desafios para o desenvolvimento dos países exigem que, cada vez mais, haja uma parceria sólida entre os próprios países. Estamos a falar da necessidade de haver um maior conhecimento entre os próprios países africanos, entre os próprios cidadãos e isso pode ser facilitado com eventos como a Bienal” que visa facilitar o relacionamento entre países e regiões, reforçou o responsável angolano.
“Nós não temos um corredor cultural que permita ligar o continente africano e neste momento, a Bienal de Luanda é o primeiro evento que está a criar esta parceria. É feita para os países e com os países”, prosseguiu Aguinaldo Cristóvão.
A Bienal de Luanda – Fórum Pan-Africano resulta de uma decisão dos chefes de Estado da União Africana “que acharam que havia necessidade de promover um mecanismo, a nível do continente africano” que se centrasse numa abordagem sobre a não-violência e a resolução de conflitos com base no diálogo, recordou.
O desafio “foi assumido pela UNESCO”, que formalizou em Dezembro de 2018 um acordo com o executivo angolano para a realização da Bienal em 2019 e 2021.
Aguinaldo Cristóvão admite que venha a realizar-se uma terceira edição, “dependendo da avaliação dos resultados” dos eventos anteriores.
O Governo angolano investiu 512 mil dólares (cerca de 463 mil euros) no projecto e Aguinaldo Cristóvão estava confiante no retorno da iniciativa, enfatizando a promoção da cultura angolana (a do MPLA, como é timbre) e do próprio turismo, “elementos muito fortes” e “com uma grande margem de sustentabilidade”.
Na altura da edição de 2019 a oferta hoteleira na baixa de Luanda estava praticamente ocupada a 100%, salientou. Se a essa percentagem se adicionar o número de semi-angolanos que, com raro sentido de oportunidade e já tarimbados no assunto, vão passar a pente fino os caixotes do lixo das principais unidades hoteleiras…
Eram esperados no evento 800 delegados provenientes de todo o mundo que se juntariam outros mil participantes nacionais, directamente envolvidos na Bienal de Luanda, que decorreu no Memorial Agostinho Neto (aí está o reconhecimento da resolução de conflitos versus 27 de Maio), na Fortaleza de São Miguel (Museu Nacional de História Militar) e no Centro de Convenções de Talatona.
Foram convidados 14 países e Portugal teve um pavilhão próprio, contando com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, na cerimónia de abertura oficial.
“A relação histórico-cultural que existe entre Angola e Portugal torna indispensável a presença de um e de outro nos eventos que cada um realiza”, afirmou Aguinaldo Cristóvão.
Além do pavilhão no Fórum das Culturas, Portugal teve uma exposição, promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian, sobre o património histórico de origem portuguesa no mundo, que ficou patente no Museu Nacional de História Natural de Angola.
“Todos os dias, os diferentes países terão a possibilidade de apresentar as suas manifestações culturais”, adiantou o secretário de Estado da Cultura.
A Bienal teve como focos temáticos a juventude, paz e segurança, a criatividade, empreendedorismo e inovação, num festival de culturas, que inclui cinema, música, artes plásticas e visuais, teatro, dança, moda, design, banda desenhada, jogos vídeo, poesia, literatura, tradição oral e artesanato.
As presenças confirmadas para o evento foram do presidente da União Africana, Abdel-fatah Al-Sisi; da directora geral da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Audrey Azoulay; do Prémio Nobel da Paz 2018, o médico congolês Denis Mukwege, e do ex-jogador de futebol Didier Drogba.
Folha 8 com Angop