O governador da província de Benguela, Luís Nunes, afirma que pretende uma governação participativa com objectivo de encontrar soluções e dirimir os obstáculos. Isto apenas quer dizer que, como na Huíla, quem manda é ele. Que o diga o embaixador francês, Daniel Vosgien…
No dia 28 de Maio de 2018, o Presidente francês, Emmanuel Macron, manifestou, em Paris, “todo o apoio às reformas iniciadas pelo Presidente” João Lourenço, no primeiro dia da visita oficial do chefe de Estado angolano a França. Hoje, o embaixador de França em Angola, Daniel Vosgien, deixou a província de Benguela, sem conseguir avistar-se com o governador, Luís Nunes, algo que causou algum mal-estar entre a delegação francesa.
Segundo a VOA, uma fonte diplomática da delegação do embaixador gaulês disse que não fazia sentido ter a delegação aguardado tanto, para ficar sem efeito uma audiência devidamente programada.
Era intenção, disse a fonte, analisar com Luís Nunes as perspectivas de investimentos, mormente em relação às concessões no Porto do Lobito e no Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB).
Daniel Vosgien acabou por ser recebido pela vice-governadora para a área política e económica, Deolinda Valiangula, que justificou a ausência do governador com questões de agenda, mas nem isso evitou “amargos de boca”.
À VOA, o director do Gabinete do governador provincial, André Adriano, disse ter explicado à Embaixada de França as razões do desencontro, que preferiu não apresentar à imprensa, e que foi percebido.
O embaixador que visitou empresas do corredor económico fez notar que a “para além deste (petróleo) estamos em outros sectores, com cerca de 70 empresas ou filiais em Angola. Temos vários projectos, queremos dar emprego a jovens angolanos’.
“Mas não podemos substituir as empresas privadas, temos apenas de relatar a realidade”, prosseguiu o embaixador.
Luís Nunes esteve esta manhã à conversa com empresários, num encontro em que até defendeu mais investimento externo para Angola. Também presente, o economista e consultor empresarial Janísio Salomão fez saber que as várias promessas da Europa e outros pontos do mundo, esbarram num mau ambiente de negócios.
“Tudo isso é problemático, isto porque os operadores privados têm informações sobre o que se passa, recebem relatórios e por outro, olham para a posição de Angola no raking sobre o ambiente de negócios, que é mau”, aponta o economista, acrescentando que “o investidor prefere ir para uma África do Sul ou Namíbia, aqui próximo”.
Insuficiências no capítulo da energia e água, falta de subvenção nos combustíveis, mau estado das estradas e conflitos de terrenos são alguns dos problemas apresentados a Luís Nunes, os mesmos que, segundo especialistas, afugentam o investimento estrangeiro.
“Dou todo o meu apoio às reformas iniciadas pelo Presidente Lourenço. A luta contra a corrupção, a facilitação de vistos para os empresários, homens de negócios ou assalariados e a reforma do quadro do capital da economia que permite limitar os constrangimentos e abrir a economia angolana a parceiros, investidores e atores económicos estrangeiros, a meu ver vão na boa direcção”, afirmou Emmanuel Macron que, entretanto, já tem na sua secretária um relatório sobre a forma como o embaixador francês foi tratado pelo soba de Benguela.
O Presidente francês destacou que esse é o caminho para “melhorar o crescimento do país, criar mais oportunidades e mais emprego e acelerar a diversificação da economia que é indispensável nos próximos meses e anos”.
As declarações foram feitas após a assinatura de quatro acordos de cooperação no domínio da defesa, da agricultura, da economia e da formação de quadros, acordos que, no entender de Emmanuel Macron, “vão levar a um maior empenho da França” em Angola.
Emmanuel Macron indicou, por exemplo, que na sequência de um acordo assinado em Março de 2018, a Agência Francesa de Desenvolvimento iria investir, numa primeira etapa, 100 milhões de dólares no domínio da agricultura e dar uma subvenção de 500 mil euros para a identificação de novos projectos.
O Presidente francês também disse que foram assinados acordos no sector petrolífero e sublinhou que o encontro do Presidente de Angola com 80 empresários franceses no MEDEF Internacional (Movimento das Empresas de França) vai nesse sentido.
Emmanuel Macron declarou-se “muito sensível” por João Lourenço “ter escolhido França para primeiro destino na Europa desde a sua eleição”, manifestou-se “muito empenhado no reforço das relações entre França e Angola” e disse que se trata de uma “etapa suplementar para reforçar a cooperação em todos os domínios”, incluindo o militar e de segurança marítima.
Em 2018, o então embaixador francês em Angola, Sylvain Itté, garantiu que a companhia petrolífera francesa Total iria continuar em Angola, lembrando que a empresa foi das primeiras a investir no país logo após a independência, em 1975, e que passa, entre outras questões, pela operação na área dos produtos refinados e na abertura de postos de combustíveis.
Segundo o diplomata, a Total estava “muito empenhada” no Projecto Eiffel, que abrange escolas públicas angolanas, que financia há 10 anos e que, reivindicou, estão reconhecidas como “algumas das melhores no país”, havendo também projectos de formação de quadros técnicos em vários sectores.
“É uma presença (da França) que espero que vá continuar a desenvolver-se, não só com a Total, mas também com as outras empresas”, sublinhou, exemplificando com a cervejeira Castel, que detinha a marca Cuca.
“Muitos não sabem que a Castel é a primeira empregadora privada de Angola. Muitas regiões do país têm uma fábrica da Cuca, que, nalguns casos, é também a primeira empregadora nas cidades onde tem uma unidade de produção”, disse.
O diplomata francês lembrou que a Castel investiu num projecto agrícola de mais de 4.000 hectares em Malanje, para a produção do milho, que é, depois, utilizado no fabrico da cerveja.
“As empresas francesas estão presentes e empenhadas no desenvolvimento do país. Essa presença vai crescer, mas depende também dos investimentos públicos angolanos e da vontade das empresas angolanas investirem directamente no país, pois não devem esperar só o investimento estrangeiro, mas também construir verdadeiras parcerias com empresas estrangeiras e, naturalmente, francesas”, afirmou.
Questionado sobre o volume do investimento francês em Angola, Sylvain Itté indicou que três dos maiores bancos franceses disponibilizaram uma linha de crédito no valor de 1.500 milhões de euros (repartidos equitativamente por 500 milhões de euros entre o BNP- Paribas, o Crédit Agricole e a Societé General).
“Três dos principais bancos franceses disponibilizaram uma linha de crédito, o que significa que há dinheiro disponível para financiar projectos concretos e viáveis do ponto de vista económico a empresas francesas e angolanas”, realçou.
Segundo o então embaixador francês em Luanda, em 2018 havia cerca de 300 empresas francesas com ligações directas ou indirectas a Angola, país onde operam 70 outras nos mais variados sectores.
Sylvain Itté realçou ainda a presença, em Angola, da Agência de Cooperação Francesa, que financiou dois projectos no valor de 200 milhões de euros, um de distribuição de água potável e outro na agricultura comercial.
“Não é uma questão de saber quanto dinheiro é investido, trata-se de saber, sim, quais os financiamentos disponíveis para as empresas decidirem investir. A parte do Governo francês está feita e as autoridades de Angola declararam e começaram a concretamente a dar condições para o investimento”, sublinhou.
No entanto, admitiu o diplomata francês, “há ainda muito a fazer” para que as empresas estrangeiras se possam instalar em Angola e “não se podem esconder as dificuldades”.
“Mas acho tudo vai melhorar. Da parte francesa, das empresas francesas, há um interesse fundamental em trabalhar com Angola”, disse.
Folha 8 com VOA