MPLA DEVE APRENDER A SER HUMILDE

Se o partido que governa (mal) o país por quase meio século de independência pudesse ter um pouco de modéstia, deveria começar aprendendo as lições de sua própria torpeza e parar de tentar fazer o mundo inteiro acreditar que está sendo submetido a uma campanha de intoxicação e difamação nas redes sociais.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Hoje e mais do que nunca, o MPLA está apenas a colher os frutos do que semeou no país e, sobretudo, das consequências desastrosas da notória incompetência do seu actual Presidente.

Sem querer dramatizar, a vergonhosa imagem do país que o seu presidente deixou durante a sua passagem por Glasgow, em tão importante cimeira para a protecção do clima, nunca foi dada por José Eduardo dos Santos durante os seus longos e miseráveis anos de governação no cenário político internacional.

Desde a preparação da sua viagem, da sua própria imagem e do seu discurso perante uma sala tão vazia, tudo foi feito num flagrante amadorismo que ninguém se orgulha de ser angolano, como se o país ou o MPLA não tivessem mais dirigentes capazes de preparar, aconselhar e orientar o presidente a comparecer a uma cimeira tão importante.

Como é que um presidente de um país tão pobre e corrupto como Angola pode usar sapatos de pele de crocodilo, na frente de presidentes dos países mais ricos do mundo mas vestido com humildade?

Como é que um presidente pode fazer um discurso baseado na mentira com dados falsos sobre a ecologia do país, já que não existem estatísticas fiáveis, nem um verdadeiro plano nacional de protecção do meio ambiente e do sistema ecológico no país?

Como é que um partido que governa o país desde a independência não pode esperar uma leitura mais crítica do povo, quando os sucessivos governos nunca prestaram contas, nem apresentaram os seus resultados ao parlamento de que são maioritários?

Como é que um partido que governa o país desde a independência pode mobilizar todos os recursos humanos, materiais, de mídia e de segurança do país para lutar contra um único homem e um único adversário político cuja popularidade continua a crescer no meio da população que já decidiu votar pela alternância pacífica de poder?

É uma vergonha para o MPLA, que está totalmente dividido dentro dele, fazer acreditar o seu presidente e o resto do país que o seu simulacro de congresso constitui uma plataforma política para reforçar a união e a coesão dos militantes, quando o partido impede o seu próprio militante de se-candidatar ao referido congressos?

Uma coisa é verdade, onde o Partido Comunista fez a China evoluir em cinquenta anos de reformas, Deng Xiao Ping, de quem João Lourenço diz ser o modelo, não precisava de calçado de crocodilo, apesar da indústria de luxo que consegui implementar com sucesso no seu Pais.

Os sinais do povo na vontade de dotar o país de uma nova governação estão aí, e o MPLA, com toda a humildade, deve começar a aprender a fazer a oposição como aconteceu na RDC, na Zâmbia e inevitavelmente na África do Sul, o mundo está em uma nova dinâmica que não deixa os africanos indiferentes, na corrida pela boa governação.

João Lourenço, no rescaldo das eleições de 2022, apesar da aprovação da sua lei fraudulenta e acelerada, deve evitar no país, cenários de caos pós-eleitoral, pensar em promover a prática da tolerância e do bom senso e aceitar a sua derrota programada e previsível porque há uma vida após a presidência.

(*) Activista e refugiado político na França

Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.

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