A chanceler alemã Ângela Merkel visitou o campo de extermínio Auschwitz no dia 6 de Dezembro de 2019. Foi a primeira vez que ela visitou o campo de extermínio, símbolo do Holocausto. Merkel disse que a lembrança dos crimes nazis é “inseparável” da identidade alemã e que o país não pode esquecer as atrocidades cometidas pelo regime de Hitler.
Desde 1995, nenhum chanceler alemão tinha ido a Auschwitz. A visita de Merkel coincidiu com a ascensão do anti-semitismo e da extrema-direita na Alemanha que prega teses negacionistas. O desaparecimento das últimas testemunhas dos horrores de Auschwitz também dificulta a transmissão da memória.
Ela fez um pronunciamento veemente, lembrando que a consciência da responsabilidade dos crimes nazis “faz parte da identidade nacional” e que a manutenção da memória dessas atrocidades do passado não é negociável.
“Tenho vergonha profunda dos crimes bárbaros cometidos aqui pelos alemães. Não tenho palavras para descrever o horror do que foi feito a mulheres, homens e crianças neste lugar”, salientou a chanceler. “Que palavras poderiam fazer justiça à tristeza que este lugar causou? Luto pelos que foram humilhados, torturados e assassinados”, garantiu.
“Este é o lugar onde os crimes mais horríveis contra a humanidade foram cometidos. Não podemos permanecer calados. O próprio lugar obriga a manter viva a memória. Devemos lembrar claramente todos os crimes que foram cometidos aqui e chamá-los pelo nome”, concluiu.
Ao chegar ao local, Merkel atravessou o portão do campo de concentração, localizado na Polónia, onde ainda há o sinistro slogan nazi: “Arbeit macht frei” (“O trabalho liberta”). A chanceler estava acompanhada do primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki, um sobrevivente de Auschwitz, Stanislaw Bartnikowski, de 87 anos, e de representantes da comunidade judaica.
A chanceler anunciou a concessão de 60 milhões de euros à Fundação Auschwitz-Birkenau para a manutenção do local, onde mais de 1,1 milhões de pessoas foram mortas entre 1940 e 1945. A visita de Merkel, nascida nove anos após a Segunda Guerra Mundial, ocorreu pouco antes da comemoração do 75º aniversário da libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho russo, em 27 de Janeiro de 1945.
Merkel observou um minuto de silêncio em frente ao Muro da Morte, onde dezenas de milhares de detidos foram fuzilados. Em seguida, foi até o Birkenau, a três quilómetros do campo principal, e conheceu a rampa onde os deportados eram “seleccionados” quando desciam dos comboios de transporte de animais: os mais jovens, os mais velhos e os mais frágeis eram enviados directamente para a morte nas câmaras de gás.
Na Alemanha, a memória do Holocausto está no centro da reconstrução da identidade do país no pós-guerra e as autoridades estão preocupadas com o aumento de actos anti-semitas.
O partido de extrema-direita AfD, que entrou no Bundestag (Parlamento) há pouco tempo, defende o fim da política de manter viva a memória desse passado recente para garantir que as novas gerações não permitam que esses erros históricos se repitam.
O nome de Auschwitz tornou-se um símbolo do mal absoluto. Judeus de toda a Europa, da Hungria à Grécia, foram exterminados no local. Muitos detidos, incluindo crianças, foram submetidos a experiências hediondas por Josef Mengele, o “anjo da morte”. Também neste campo, que continha três câmaras de gás e quatro crematórios, que o gás Zyklon B (um pesticida à base de ácido cianídrico, cloro e nitrogénio, escolhido por provocar uma morte rápida) foi usado pela primeira vez em 1941.
Para o presidente do Conselho Judaico Central da Alemanha, Josef Schuster, “não há outro lugar de memória que mostre tão nitidamente o que aconteceu no Holocausto”. Antes de Merkel, os seus antecessores Helmut Schmidt, em 1977, e Helmut Kohl, em 1989 e 1995, visitaram Auschwitz.
Folha 8 com RFI