“Mais um fiado, patrão!”

A consultora Fitch Solutions considera que Angola deverá crescer 1,7% este ano e 3,3% em 2022, antecipando um abrandamento da inflação para 19,7% este ano e 14,2% no próximo ano. Embalado e de olho no fiado, João Lourenço assinou mais um vale, desta vez ao Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) no valor global de 700 milhões de dólares.

“Antevemos que a economia de Angola vá regressar a um crescimento moderado de 1,7% este ano e de 3,3% em 2022, com a redução dos cortes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo a contribuírem para uma subida da produção e das exportações, apoiando a recuperação económica geral”, escreveram os analistas da Fitch Solutions num comentário à evolução do país.

No comentário, enviado aos investidores, os analistas desta consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings apontaram que a inflação deverá abrandar de 22,2% no ano passado para 19,7% este ano e 14,2% no próximo, antevendo uma estabilização do kwanza.

“Acreditamos que isto vai permitir que o Banco Nacional de Angola corte a taxa de juro de referência em 50 pontos base para 15% este ano, e novamente para 14% em 2022”, escreveram os analistas.

Sobre a agenda de reformas que tem vindo a ser implementada nos últimos anos, a Fitch Solutions estimou que o ímpeto prossiga, “mantendo-se a continuidade política”, mas ainda assim alertaram para vários riscos.

“Dito isto, os riscos de instabilidade social vão continuar elevados a curto prazo, reflectindo o crescente descontentamento público com as más condições económicas”, frisaram.

Entre os principais riscos identificados pela consultora estão uma eventual queda dos preços do petróleo para além das previsões, “o que colocaria uma pressão maior na taxa de câmbio oficial, aumentando a inflação” e, por outro lado, “uma depreciação excessiva do kwanza, que aumenta o custo da dívida externa e põe em risco a sustentabilidade da dívida”.

Enquanto isso, Presidente angolano aprovou um Acordo de Financiamento à Tesouraria com o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) no valor global de 700 milhões de dólares (582 milhões de euros), segundo um decreto presidencial.

Em despacho presidencial nº59/21 de 3 de Maio, João Lourenço refere que o acordo foi aprovado ao abrigo do Projecto de Estabilização Macroeconómica e Financiamento da Política de Desenvolvimento Inclusivo e Diversificação Económica de Angola.

Denominado Development Policy Financing Operation (DPF2), o acordo, assinala o documento, surge igualmente da necessidade de se “estabelecer as bases para o crescimento sustentável, promover a inclusão social e financeira e a efectiva prestação dos serviços públicos” com o apoio do Banco Mundial (BM).

A ministra das Finanças, Vera Daves, “é autorizada, com a faculdade de subdelegar”, a assinar o referido acordo de financiamento e toda a documentação relacionada com o mesmo, em nome e representação da República de Angola.

Pedir fiado e esperar um… perdão

João Lourenço defende a continuidade das negociações ao nível bilateral e multilateral para o reescalonamento das dívidas, em função da situação específica de cada país africano, que enfrentam dificuldades na reactivação das suas economias.

Segundo João Lourenço, os baixos preços das matérias-primas nos mercados internacionais e o grande peso da dívida externa são factores que dificultam a reactivação das economias dos países africanos, além da fraca industrialização para o processamento dos produtos do campo, o que faz com que grande parte dos produtos alimentares processados sejam importados de outros continentes para África.

O chefe de Estado angolano sublinhou que a população rural africana está sobretudo ligada à agricultura familiar, que contribui com cerca de 70% para o abastecimento dos mercados, mas apesar disso continua a ser o mais pobre e com maiores problemas alimentares.

A par das condicionantes, João Lourenço frisa igualmente preocupação com os efeitos das alterações climáticas, que provocam com mais frequência a seca severa e inundações, assim como o surgimento de pragas, com impacto negativo na produção de alimentos, sublinhando a ajuda técnica da FAO no combate à praga de gafanhotos, que enfrentam algumas províncias do sul de Angola.

“Uma preocupação complementar prende-se com os aspectos nutricionais, já que continuam a estar entre as causas principais das elevadas taxas de mortalidade infantil e do aumento de casos de diabetes e da tuberculose em África”, frisou.

João Lourenço realçou que os jovens africanos têm um papel fundamental na transformação e desenvolvimento da agricultura e pescas, nesse sentido, “é importante motivar os jovens para o empreendedorismo e o agro-negócio, facilitando-lhes o acesso às terras, aos insumos, à formação, aos financiamentos, às novas tecnologias e aos mercados”.

“Permitam-me realçar a grande contribuição e atenção reservadas ao meu país pelo FIDA e pelo BAD [Banco Africano de Desenvolvimento], pela aprovação e implementação de um conjunto de projectos de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar e à comercialização, à recuperação da agricultura e ao reforço da resiliência dos pequenos agricultores à escala familiar”, disse.

Recorde-se que a produção agrícola em Angola cresceu mais de 5 por cento em 2020, face ao ano de 2019, segundo afirmou no início de Abril o ministro da Agricultura e Pescas, António Francisco de Assis. “Este crescimento ainda é pouco para aquilo que o país precisa, apesar dos resultados positivos assinaláveis”, admitiu o ministro.

Entre múltiplos exemplos, que ainda recentemente (11 de Fevereiro de 2021) o Banco Alimentar Mundial (BAM) anunciou que ia disponibilizar a Angola 60 milhões de dólares (49,4 milhões de euros), com o objectivo de financiar o aumento da produção agrícola e a estabilidade em alimentos no país.

O anúncio foi, aliás, feito pelo presidente da instituição, Richard Lackey, à saída de uma audiência com o Presidente João Lourenço. O responsável disse que a instituição vai continuar a ajudar Angola no aumento da produção de alimentos e crescimento dos pequenos agricultores, por via de financiamentos.

“O Presidente angolano está a ser bem referenciado a nível do mundo”, referiu Richard Lackey, citado pela agência noticiosa angolana, Angop, destacando o desenvolvimento registado por Angola nos últimos anos no domínio agro-industrial.

Segundo o presidente do BAM, os investimentos da instituição bancária em Angola poderão atingir nos próximos anos até dois mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros), nos domínios do aumento da produção de alimentos e apoio aos pequenos agricultores, com vista a garantir a segurança alimentar no país.

Folha 8 com Lusa

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