Kim Laborinho Jong-un ou Kim Almeida Jong-un?

O grupo parlamentar da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola, denunciou hoje que uma viatura com mantimentos foi impedida de os entregar aos cinco deputados e dois activistas retidos, desde quarta-feira, à entrada da vila de Cafunfo.

Numa denúncia pública, o grupo parlamentar da UNITA referiu que os deputados foram impedidos pela Polícia do MPLA de receber os mantimentos que lhes foi prontamente enviado, a partir do município do Cuango.

De acordo com a nota, os deputados e activistas passaram fome horas a fio, por terem sido retidos a cinco quilómetros da entrada da vila mineira do Cafunfo, para onde se deslocaram (julgando estarem num país civilizado e num Estado de Direito) com o objectivo de constatar o incidente ocorrido em 30 de Janeiro naquela região, que resultou em seis mortes, cinco feridos e 16 detidos, segundo a polícia, na sequência de uma manifestação, que o Governo classificou como rebelião armada, por atacarem uma esquadra policial.

Os polícias no local disseram que por alegadas “ordens superiores” não podem permitir a entrega dos mantimentos, salientou a nota. Ordens superiores que só podem ter partido do Presidente da República em exercício, Eugénio Laborinho, ou do presidente protocolar, João Lourenço.

“O grupo parlamentar vem por este meio denunciar mais esta grosseira violação das autoridades à Constituição numa autêntica revelação de autoritarismo e de falta de humanismo, de quem devia ser o guardião da lei e promotor dos direitos e garantias dos cidadãos”, lê-se no documento.

À comunidade internacional e aos angolanos, o grupo parlamentar da UNITA, instou a indagarem o Presidente da República (que formalmente é João Lourenço), “a que nível de intolerância quer levar o país, violando as suas promessas eleitorais de melhorar a postura do seu antecessor, quando desrespeita e humilha membros de um órgão de soberania, cuja única culpa é constatar as circunstâncias de um acto que dizimou dezenas de cidadãos angolanos”.

O grupo de deputados e activistas encontra-se retido à entrada de Cafunfo por não ter sido autorizada a sua passagem, segundo disse o primeiro secretário do grupo parlamentar, Alberto Ngalanela.

Alberto Nagalanela referiu que no controlo policial alegam que não estão autorizados a entrar porque não receberam nenhuma comunicação da administração municipal e que teriam de ter uma autorização da Assembleia Nacional.

“Disseram que há um aglomerado de pessoas no comité da UNITA, em Cafunfo, e que o momento, como é sensível, não se recomenda a presença dos deputados”, afirmou Alberto Ngalanela, esclarecendo que esta é uma missão do grupo parlamentar e, por isso, não carece de autorização da Assembleia Nacional. Tem razão. Não carece de autorização da Assembleia, mas carece de autorização de quem é dono do país, o MPLA.

O ministro do Interior de Angola, Eugénio Laborinho, nas cada vezes mais visíveis vestes de Presidente da República, criticou a presença de deputados da oposição, sem citar nomes, em Cafunfo, região rica em recursos minerais, concretamente diamantes, questionando a razão da sua presença no local.

Segundo Eugénio Laborinho, um partido político com assento parlamentar para sair tem que ser autorizado pelo presidente da Assembleia Nacional. Tal como acontece na Coreia do Norte, país que é, para o MPLA, o paradigma da mais impoluta democracia do mundo.

“E mencionar o motivo que lhes faz deslocar para esta determinada posição, município, comuna, aldeia, sair ilegalmente à busca de quê? Confusão? Se alguém saiu, saiu ilegalmente”, afirmou.

A polícia do MPLA dá conta que cerca de 300 pessoas ligadas ao Movimento do Protectorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT), que há anos defende a autonomia daquela região, tentaram invadir, no sábado, uma esquadra policial e em defesa as forças de ordem e segurança atingiram mortalmente seis pessoas, provavelmente munidos do mais sofisticado material bélico, incluindo ogivas nucleares.

A versão policial é contrariada pelos dirigentes do MPPLT, partidos políticos na oposição, organizações internacionais, e sociedade civil local (incluindo a Igreja Católica), que falam em mais de uma dezena de mortos.

Registe-se que tanto Eugénio Laborinho, como o seu canino sipaio comandante da Polícia, Paulo de Almeida, têm outros trunfos que, contudo, ainda não revelaram. Mas ainda estão a tempo… “Esqueceram-se” de dizer que foi descoberto em poder dos manifestante diverso material bélico, altamente letal, a saber: 12 esferográficas BIC (azuis), um lápis de carvão (vermelho), três blocos de papel (brancos) e um livro sobre como derrubar de forma pacífica as ditaduras.

Sabe-se, igualmente, que a Polícia Nacional do regime descobriu que os manifestantes tinham mísseis escondidos nas lapiseiras, Kalashnikovs camufladas nos telemóveis e outro armamento pesado e letal disfarçado nos blocos de apontamentos. São, reconheça-se, provas mais do que suficientes para provar que estavam a preparar um golpe de Estado.

Os manifestantes estavam (era isso, não era senhor ministro Eugénio Laborinho?) no seu quartel-general, por sinal uma cubata, numa reunião dos seus estrategas militares que planeavam o golpe a partir da leitura do livro “Da ditadura à democracia — Uma estrutura conceptual para a libertação”, do norte-americano Gene Sharp.

No quintal, debaixo de uma mangueira, o exército mobilizado por esses manifestantes no estrangeiro (talvez uns milhões de guerrilheiros) afinava os códigos para lançamento dos mísseis e, talvez, até de ogivas nucleares contra a residência do Presidente…

Perante este manancial de provas, o Ministério Público do regime não terá dificuldades em provar que os manifestantes estavam envolvidos numa conspiração para a “destituição do Presidente da República e de outros órgãos de soberania”, plano que estava a ser congeminado há muito, muito tempo. Cerca de três meses.

MPLA não aprende. Também não precisa

Em 2015, os activistas detidos em Luanda, acusados de conspiração, queriam provocar uma intervenção da NATO em Angola que conduzisse ao derrube do Presidente José Eduardo dos Santos. Nem mais nem menos. Quem disse tal barbaridade? Ora quem haveria de ser? Nem mais nem menos do que o então embaixador itinerante do regime e hoje embaixador de João Lourenço na Guiné-Equatorial, António Luvualu de Carvalho, uma cópia masculina de Joana Lina.

O rapaz estava desesperado e disparava em todos os sentidos. Na altura, ainda com o fantasma de José Eduardo Agualusa entalado na garganta, que lhe valeu um enorme puxão de orelhas do chefe do posto, descobriu mais essa pérola. Tinha então outras engatilhadas. Seria que os activistas também não quereriam a intervenção do Estado Islâmico?

“São 15 cidadãos que durante vários dias, durante várias etapas foram acompanhados pelos Serviços de Investigação Criminal. Estavam num processo de sensibilização de um grupo (…) para levarem as autoridades até um ponto, um extremo de aconteceram inclusive mortes”, salientou Luvualu de Carvalho na resposta à encomenda de Luanda a que , na altura, a Lusa (obviamente) respondeu afirmativamente.

Luvualu de Carvalho esteve na colónia europeia do MPLA (Portugal) naquela que foi a sua primeira etapa de uma peregrinação para, reconhece o próprio, “dar uma grande dinâmica à imagem de Angola a nível internacional”.

Socorrendo-se das afirmações feitas em Luanda pelo então ministro do Interior, Ângelo Veiga Tavares, o embaixador itinerante repetiu – e repetir é uma das suas mais entusiásticas características – que seria posta em prática uma marcha até ao Palácio Presidencial, “levando com que fossem quebradas as regras de segurança (…) para que a guarda presidencial ou a polícia presente reagisse, matasse crianças, matasse senhoras e matasse idosos para provocar a comoção internacional e justificar então uma intervenção vergonhosa”.

O rapaz, tal como João Pinto, Joana Lina, Luísa Damião, Paulo de Almeida e mais uma catrefa de invertebrados, é tão genial que até parece acreditar no que diz. Tem, reconheça-se, uma vantagem sobre a esmagadora maioria dos seus camaradas. Fala com tal convicção que ninguém reparou que era um dos boneco usados pelo ventríloquo Eduardo dos Santos, tal como é hoje por João Lourenço.

“É isto que se procurava. Que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) ou alguns países que dela fazem parte fizessem um ataque a Angola, para que se verifique o horror que se verificou na Líbia ou se verificou na Tunísia”, acentuou Luvualu de Carvalho.

Na altura, pedagogicamente, Agualusa bem lhe explicou que, por exemplo, o Quarteto de Diálogo para a Tunísia, composto por quatro organizações que negociaram uma forma de garantir que o país se mantivesse uma sociedade pluralista e democrática, em 2013, num momento de crise após a Primavera Árabe, venceu o Prémio Nobel da Paz de 2015. Isto pelo “contributo decisivo para a construção de uma democracia pluralista na Tunísia”.

Luvualu bem gostaria, por alguma razão tem íntimas ligações à ex-URSS, que o Pacto de Varsóvia ainda andasse por aí. Seria uma boa ajuda para manter a NATO quietinha, não seria Luvualu? Também gostaria que a Cuba continuasse a ser o que era nos tempos do Maio de 1977 e anos seguintes.

Mas era tudo uma chatice, um complô, para azucrinar o na altura impoluto e honorável cidadão José Eduardo dos Santos. A URSS já não existe, Cuba até já vai à missa do Tio Sam, e a NATO apoia activistas…

Quanto aos efeitos do caso dos activistas então detidos na imagem do reino do seu patrão, Luvualu de Carvalho reconheceu que é negativa.

“A situação que levou à detenção destes 15 indivíduos e os processos de luta desenvolvidos por estes 15 levaram, claro, o nome de Angola às manchetes pelas piores razões e isso ninguém nega”, disse.

“Piores razões”? Lá teve Luvualu de baixar as calcinhas e levar uns tabefes do chefe.

Na altura das manifestações do dia 24 de Outubro de 2020, a governadora de Luanda, Joana Lina, considerou a manifestação, que foi fortemente reprimida (como todas) pela polícia, como “um acto de vandalismo e desacato às autoridades”, citada no órgão privativo do MPLA, Jornal de Angola.

Joana Lina lamentou as “cenas de violação das medidas contidas no Decreto Presidencial em vigor desde as primeiras horas” do dia 24 e sublinhou que são proibidos os ajuntamentos.

Afirmou ainda que não estava em causa o impedimento ou limitação de direitos fundamentais, declarando que “é a própria Constituição que exige ponderação entre a liberdade de se manifestar e o dever de proteger a vida humana”.

Por outro lado, lamentou os “prejuízos incalculáveis” e apontou fins “inconfessos” de pessoas que tentam manipular os jovens. Joana Lina sabe que tem de dizer isso porque está nos manuais do MPLA, porque integra o ADN do seu partido e, sobretudo, porque sabe que tem do seu lado a razão da força, enquanto os manifestantes só têm a força da razão.

O melhor que João Lourenço conseguiu, em matéria de liberdade de manifestação, foi mantê-la ligada a uma máquina de suporte básico de vida até que seja conveniente desligá-la e declarar o óbito.

Daí ser hora de voltar a perguntar: Que liberdade de expressão quer, afinal, João Lourenço? Aquela que depois de ter chegado ao poder implanta uma política de expressão sem liberdade? Aquela que indicia que activista bom é o que apoia o MPLA? Aquela que impõe que os activistas (como os jornalistas) devem ser amputados de coluna vertebral e fazerem a transferência do cérebro para os intestinos?

A visão absolutista do MPLA (fascismo; ditadura; monarquia absoluta; socialismo barroco), tenta impedir o contraditório social, a diversidade de opiniões, a livre indignação popular.

Daí se ter montada uma campanha de propaganda ruidosa, através de uma máquina de comunicação social pública controlada, capitaneada por agentes obcecados e ideologicamente ligados ao partido e líder dominante, cuja missão é desvirtuar o cenário, “vendendo ilusões e banha de cobra”, branqueando a incompetência ou má-gestão da coisa pública, nos mesmos índices do período anterior.

Por esta razão é necessário que alguém, próximo, diga, hoje e agora, amanhã pode ser tarde, a João Lourenço, para saber ouvir, desistir da bajulação, eleger as liberdades, condenar a repressão policial e informativa, adoptar a democracia como bandeira plural, para não se transformar em aglutinador de contestações e o pai das grandes convulsões sociais, em função do desemprego, fome e miséria, enganado por uma comunicação social controlada, partidocratamente.

Um líder ao preferir ser “assassinado” pelo elogio, ao invés de salvo pela crítica é incompetente. João Lourenço já teve tempo de optar. Infelizmente mostra que é mortalmente alérgico à crítica…

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