Hidulika Kambami, a voz da porta do MPLA

O MPLA, como lhe compete já que está em causa a sua vida (ou morte), disse não haver qualquer investigação nos EUA à volta do Presidente João Lourenço e acusou “sectores portugueses e angolanos” de estarem na origem de uma “campanha para ofuscar a cruzada contra a corrupção e desacreditar as instituições angolanas”. Fica por saber se o previsível Prémio Nobel da Paz, proposto pelos angolanos de… Cafunfo, estará em perigo.

Os portugueses estão em todas. Se calhar até mesmo nos recentes massacres de Cafunfo, tal como estiveram no genocídio de 27 de Maio de 1977. Aliás, são eles os culpados pelo facto de o porta-voz (ou será a voz da porta?) do MPLA se chamar Albino Carlos quando, de facto, ele queria chamar-se Hidulika Kambami. Urge, portanto, pôr na ordem esses tugas, nem que sejam presidentes, da UNITA. Por exemplo.

Em declarações à VOA, o porta-voz do partido no poder há 45 anos, Albino Carlos (Hidulika Kambami, “equus asinus” na definição zoológica) reagia às notícias que davam conta de que o Presidente do MPLA estava a ser investigado há um ano por procuradores americanos que acreditam ter provas de violações da legislação dos Estados Unidos da América por parte de Chefe de Estado, família e parceiros de negócios.

Hidulika Kambami aponta a empresária Isabel dos Santos (que tanto foi idolatrada pelos novos senhores do Poder) e “círculos portugueses indiciados nos crimes de corrupção em Angola” como principais promotores dessa campanha por, alegadamente, “estarem descontentes com as transformações políticas e sociais em curso no país”.

O rapazola tem razão. É que muitos desses portugueses são os mesmos que bajularam João Lourenço quando ele foi, por sinal, vice-presidente do MPLA de José Eduardo dos Santos e seu ministro da Defesa. Aliás, por alguma razão na tomada de posse como Presidente da República, João Lourenço disse: «Pretendo endereçar uma saudação especial ao Presidente José Eduardo dos Santos, que cessa hoje a função de Presidente da República. Esta saudação ficaria incompleta se não mencionasse o longo e vitorioso caminho trilhado por Angola ao longo dos últimos 38 anos. O povo angolano agradece a dedicação e o empenho do Presidente José Eduardo dos Santos».

“Porque muitos dos desvios e roubos da coisa pública tinham como poiso Portugal e beneficiaram mais a economia portuguesa”, acrescentou Hidulika Kambami, que assegura que tal campanha não “não terá sucesso nem irá frenar” o combate à corrupção liderado pelo Presidente angolano.

O mais ilustre filho Albino Figueira Júnior e Luísa Joaquim Ramos, honrando – ao que parece – o legado dos seus progenitores afirma que o seu partido lamenta a falta de solidariedade por parte da oposição e em especial da UNITA que, como diz o Bureau Político do MPLA, é dirigida por um português (ou, pelo menos, por um estrangeiro), sustentando que o combate à corrupção “é um imperativo nacional”.

Como o Folha 8 noticiou no passado dia 16, um relatório da consultora Pangea Risk diz que vários dirigentes do MPLA (coisa estranha, não é?), incluindo o seu Presidente (também Presidente da República), João Lourenço, estão a ser investigados nos Estados Unidos da América, o que pode comprometer o financiamento multilateral e restruturação da dívida do país.

O documento citado pelo jornal português “Expresso”, datado de 15 de Fevereiro, indica que o novo Presidente dos EUA, Joe Biden, vai dar novo fôlego às investigações, que envolvem João Lourenço, a mulher, Ana Dias Lourenço, e vários parceiros de negócios e empresas.

Segundo a Pangea Risk (ex-Exx Africa, consultora especializada em análise de gestão de risco em África e no Médio Oriente), os procuradores norte-americanos têm recolhido ao longo do último ano várias provas de violação das leis e regulamentos dos EUA.

No relatório, a consultora diz que as supostas práticas de fraude, corrupção e peculato “deverão ter impacto nos investidores estrangeiros em Angola e frustrar as relações do país com doadores e credores nos próximos meses”.

Entre as investigações em curso destacam-se alegações de pagamentos de subornos e comissões ilegais pagas pela brasileira Odebrecht a empresas detidas por João Lourenço, à sua mulher e aos seus parceiros de negócios mais próximos, bem como alegadas transacções suspeitas e fraudulentas feitas por outras companhias controladas pelo Presidente, como a Simportex, ligada ao Ministério da Defesa, bancos e empresas de construção.

A Pangea Risk aponta também o envolvimento com a empresa de `lobbying` e relações públicas Squire Patton Boggs, a quem terão sido pagos 1.042 milhões de dólares (856 milhões de euros), parte dos quais direccionados para a ERME Capital, sediada em Malta, gerida por Pedro Pinto Ferreira e Maria Mergner, amigos do ex-presidente Manuel Vicente, que a consultora diz ser “um aliado próximo do Presidente Lourenço e rival político e empresarial de Isabel dos Santos”.

Segundo a Pangea, a rede que está alegadamente envolvida na apropriação indevida de fundos do Estado angolano em benefício das suas empresas privadas, bem como financiamento da campanha eleitoral do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, partido do poder há 45 anos e membro da Internacional Socialista) inclui empresas como a Gefi (Gestão e Participação Financeiras), “há muito implicada em contratos opacos com o Estado”.

A rede de João Lourenço inclui um círculo próximo de familiares, incluindo a mulher Ana Dias Lourenço — “que controla a agência de comunicação Orion, que ajuda a financiar o partido e o enriquecimento da família – filhas, sobrinhos e sobrinhas, irmãos e irmãs”, adianta o relatório.

Um segundo círculo inclui empresários proeminentes, ministros e responsáveis públicos, e os “conselheiros de maior confiança como o antigo vice-presidente Manuel Vicente, implicado em vários escândalos em Angola e internacionalmente”.

As investigações incidem também sobre empresas como a construtora Omatapalo, que a Pangea diz estar ligada a João Lourenço e que ganhou em 2019 três contratos com o Estado, superiores a 450 milhões de dólares (370 milhões de euros).

“A investigação norte-americana incide sobre adjudicação e contratos opacos no valor de 500 milhões de dólares (410 milhões de euros) em 2020, e recua aos tempos em que João Lourenço exercia o cargo de ministro da Defesa (2014 -2017), tendo aprovado um contrato no valor de 450 milhões de dólares com a Privinvest, empresa no centro do escândalo das dívidas ocultas revelado em Moçambique, através da Simportex.

Os contratos militares opacos envolvem também a ALL2IT, empresa controlada pelos sobrinhos, num negócio financiando pelo Banco Angolano de Investimentos, que tem entre os seus accionistas João Lourenço e Manuel Vicente.

Em curso nos tribunais norte-americanos está também um processo que envolve a empresa Aenergy e o ministro da Energia, João Batista Borges.

A alegada “fortuna inexplicada” é gerida por bancos controlados pela rede de João Lourenço, como o BAI e o SOL.

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