O Bureau Político do MPLA, no poder em Angola há 45 anos e liderado por João Lourenço, critica o posicionamento de líderes políticos e personalidades da sociedade civil (incluindo altos dignitários da Igreja Católica) que condenaram o que muitos chamaram de “massacre” na aldeia de Cafunfo, na província da Lunda Norte, quando confrontos entre as forças de segurança e manifestantes convocados pelo Movimento do Protectorado Lunda Tchowe deixaram um número ainda indeterminado de mortes no dia 30 de Janeiro.
Em comunicado divulgado no fim-de-semana, aquele órgão de apologia bajuladora ao seu líder, assesta as suas baterias para “líderes políticos sem escrúpulos, que afinal são cidadãos estrangeiros e por isso executam uma agenda política contrária aos interesses de Angola e dos angolanos”.
Marcolino Moco reagiu imediatamente num protesto, na sua conta do Facebook, “contra o regresso da política de desqualificação gratuita de ‘outras’ figuras e ou organizações políticas, pela via mais baixa possível”.
Para o ex-secretário-geral do MPLA e antigo primeiro-ministro, ouvir ou insinuar-se que o líder da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite em Angola, não é angolano é motivo de preocupação.
“O que quer que seja, insinuar, sequer, que Adalberto da Costa Júnior não é angolano, ouvi-lo de várias bocas, e agora pressenti-lo num comunicado do Bureau Político do MPLA, é algo que me deixa muito preocupado”, referiu.
“Angola, como fenómeno político-administrativo e sociológico moderno é uma realidade muito recente. Por isso, todos nós, a maioria da elite angolana actual, nascemos como portugueses. Os angolanos são pretos, brancos e mestiços. A maioria nasceu em Angola, mas nem todos poderiam ter nascido aqui”, recordou Marcolino Moco.
Segundo o ex-primeiro-ministro angolano, Adalberto da Costa Júnior “por acaso nasceu em Angola, na actual província do Huambo”.
“A nacionalidade (formal) portuguesa, eu, por acaso, hoje não tenho. Mas quantos a têm, por diversas razões, em todos os quadrantes sociais angolanos? Já temos problemas de ‘marimbondos’ que elegem ‘marimbondos’. Não tenhamos agora “portugueses” a elegerem “portugueses”, frisou.
Ao terminar a sua reflexão, Marcolino Moco discordou que seja Portugal e os portugueses os culpados dos problemas actuais de Angola, porque “isto é um axioma”.
“Os que querem a instabilidade de Angola deviam saber que quando um grupo de cidadãos nacionais e estrangeiros munidos com armas de fogo, armas brancas e objectos contundentes ataca à madrugada uma esquadra policial, um quartel militar ou algum órgão da Administração do Estado ou algum órgão de soberania, não está a fazer uma manifestação, mas sim uma rebelião armada que merece da parte de qualquer Estado uma vigorosa reacção”, afirma aquele órgão do MPLA num comunicado que acrescenta estar a assistir-se a ”uma tentativa de divisão dos angolanos, de incitação ao tribalismo, ao regionalismo, para quebrar a unidade nacional tão bem preservada até aqui”.
Como consequência, “qualquer movimento ou organização dita independentista em Angola, é ilegal e atenta contra a Constituição e a Lei”, continua o comunicado que refere que “falar de Protectorado Português Lunda/Tchokwe só pode estar na mente delirante de saudosistas, porque em respeito ao Direito Internacional e às boas relações que mantém com Angola, nem mesmo Portugal pode hoje reivindicar, perante as autoridades angolanas, a existência de um protectorado seu, algures em Angola”.
Aquele órgão directivo do MPLA reconhece a existência das assimetrias, que “remontam ao período da colonização portuguesa” mas diz não ser “realista e justo pensar-se que, em apenas 45 anos, os sucessivos governos de Angola independente já deveriam ter feito a correcção dessas assimetrias, o que os portugueses foram incapazes de corrigir durante mais de cinco séculos”.
Acredita-se, por isso e de acordo com o cérebro intestinal dos dirigentes do MPLA, que o partido precise de mais 55 anos de governação ininterrupta para aprender que as couves não devem ser plantadas com a raiz para cima. A bem da acefalia do MPLA joga, contudo, que em breve conseguirão provar que os massacres de milhares de angolanos no 27 de Maio de 1977 foram da responsabilidade de um português chamado António Agostinho Neto.
Para além de que, “quando se fala de assimetrias regionais, não devemos falar apenas do leste do país e por ser uma zona de produção de diamantes, até porque a principal fonte de receitas em divisas do país é o petróleo” lembra o MPLA que cita províncias ricas em petróleo e que são pouco desenvolvidas.
Apesar de reconhecer que a abertura democrática (imposta, segundo o “escolhido de Deus”, José Eduardo dos Santos) “deve ser aprofundada e aperfeiçoada no interesse do país e dos angolanos”, o Bureau Político considera que “esta maior liberdade de imprensa, de expressão, de reunião e de manifestação, está a servir para promover o desrespeito à Constituição e à Lei, aos símbolos nacionais, o desrespeito à autoridade instituída, o desrespeito ao património público e à propriedade privada, o que é perigoso para a estabilidade político-social e contrária ao bom ambiente de negócios atractivo do investimento privado, que se vem criando ultimamente”. Os sipaios do MPLA não explicam, contudo, como é possível aperfeiçoar e aprofundar algo que não existe.
O MPLA reitera defender que o MPLA é Angola e que Angola é (d)o MPLA, sendo essa a estratégia para que os eleitores não sejam surpreendidos com líderes políticos corruptos, sem escrúpulos, criminosos e ladrões como os que estão no Poder desde 1975.
O Bureau Político “apela aos jovens a abraçar as causas nobres que têm a ver com a sua superação cultural, formação académica e profissional e a sua inserção na sociedade e que não façam da arruaça o seu modo de vida” e sublinha que “da arruaça não virá nunca o pão, o emprego, a habitação, o bem-estar das vossas famílias”.
Para isso os jovens devem aceitar ser amputados da coluna vertebral, bem como permitir a mutação do cérebro para os intestinos, podendo assim ser militantes de alto gabarito do MPLA. Militantes que tenham de se descalçar para contar até 12, que conheçam bem o que é a electricidade… potável, que estabeleçam “compromíssios” com os dirigentes… se “haver” necessidade.
Folha 8 com VoA