A cidade de Ondjiva, província do Cunene, acolhe hoje um encontro para debater os conteúdos das mensagens de voz do projecto saúde móvel “Nascer Livre para Brilhar”, um compromisso assinado com o Gabinete da Primeira-Dama da República.
A iniciativa implementada pela Unitel e a Organização Não-Governamental People in Need, pretende contribuir para a diminuição das taxas de transmissão de VIH-Sida de mãe para filho em Angola.
O certame reúne dirigentes, supervisores e técnicos da saúde, além de representantes de organizações da sociedade civil que actuam no sector, indica uma nota que o Jornal de Angola teve acesso.
O projecto prevê o apoio ao Plano Operacional para Prevenção da Transmissão do HIV de mãe para filho 2019-2021, contribuindo para o objectivo específico de reduzir este tipo de transmissão de 26 por cento para 14 por cento até 2021.
“O encontro será uma oportunidade para os especialistas da área de saúde debaterem as informações que serão divulgadas através do envio de mensagens de voz para os números de telemóveis registados no projecto. Os contributos também estão a ser recolhidos nas outras províncias abrangidas: Luanda e Moxico”, lê-se no documento.
A partir das sugestões apresentadas, será desenvolvido um pacote de mensagens de voz com informações direccionadas especificamente para a prevenção da transmissão do HIV da mãe para o filho, abrangendo desde o período da gravidez até aos 24 meses de idade da criança.
O documento esclarece que os conteúdos deverão ajudar a mãe a ter conhecimento e a prevenir situações de risco de transmissão do HIV para o bebé, bem como fazer a correcta manutenção do seu estado de saúde.
“Quando finalizadas, as mensagens serão gravadas em Chokwe, Cuanhama e português, para que possam alcançar um número maior de pessoas”, refere o comunicado.
Filhos da fome algum dia irão ser livres e brilhar?
A primeira-dama de Angola, Ana Dias Lourenço, convidou a duquesa Meghan Markle, mulher do príncipe Harry, a apoiar o projecto “Nascer Livre para Brilhar”, que visa eliminar a transmissão à nascença do vírus do HIV. Será possível que quem é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome algum dia seja livre e possa brilhar?
O convite, recorde-se, foi feito em Setembro de 2019 durante o encontro que Ana Dias Lourenço manteve com o príncipe Harry, no Palácio Presidencial, após ter sido também recebido pelo Presidente João Lourenço, segundo a embaixadora britânica, Jessica Hand.
Em declarações à imprensa, no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, após a partida do príncipe Harry, a diplomata, considerou o encontro “interessante” para abordar o problema do HIV/SIDA em Angola, nomeadamente o projecto levado a cabo pela primeira-dama para benefício das famílias.
“Foi interessante. Foi um encontro de informação durante o qual o príncipe entendeu o trabalho de muitos sectores das organizações angolanas e ele recebeu um convite para a duquesa, para apoiar em conjunto o processo aqui”, disse Jessica Hand.
A campanha nacional “Nascer Livre para Brilhar” foi lançada em Dezembro de 2018 pela primeira-dama angolana, na província do Moxico, e visa reduzir a taxa de contaminação do VIH de mãe para o filho dos actuais 26% para 14%, em três anos.
Ao contrário do que parece ser a filosofia basilar do seu marido, acreditamos que Ana Dias Lourenço prefira ser “salva” pela crítica do que “assassinada” pelos elogios.
“Nascer Livre para Brilhar”? Será possível que quem é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome algum dia seja livre e possa brilhar?
Angola pretendia reduzir, até ao fim deste ano, dos actuais 26% para 14%, a taxa de contaminação do VIH de mãe para o filho, no âmbito da Campanha “Nascer Livre para Brilhar”, anunciou a própria primeira-dama. Vá lá. Desta vez não foi o Presidente. Mas o Governo está imparável. Às segundas, quartas e sextas lança novas iniciativas, às terças, quintas e sábados novos planos. Aos domingos… preparam os anúncios da semana.
A campanha, uma iniciativa da União Africana, liderada por Ana Dias Lourenço, foi lançada no Luena, província do Moxico, em Dezembro de 2018, e a apresentação do Plano Operacional para a Prevenção da Transmissão do VIH de Mãe para Filho 2019-2021 aconteceu no dia 11 de Abril, tal como o Folha 8 noticiou na altura.
Na sua intervenção, Ana Dias Lourenço, citando dados da ONUSIDA de 2017, referiu que Angola regista uma baixa cobertura dos serviços de transmissão do VIH da mãe para o filho, onde apenas 34% das mulheres grávidas, que vivem com o vírus, recebe terapia com anti-retrovirais para não contaminar o bebé.
Ana Dias Lourenço indicou também, segundo dados do Ministério da Saúde, que em Angola existiam 650 unidades sanitárias que oferecem o programa de prevenção da transmissão vertical, contudo, em 2017 apenas 40% das grávidas fez a primeira consulta pré-natal durante o primeiro trimestre de gravidez e 18% não fez qualquer consulta pré-natal, como aponta o Inquérito dos Indicadores Múltiplos de Saúde do Instituto Nacional de Estatística.
Segundo a primeira-dama, 70% das mulheres declarou ter enfrentado problemas de acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente, problemas financeiros (63%), distância do centro de saúde (51,8%) e necessidade de autorização para ir à consulta (30,5%).
Relativamente ao tratamento pediátrico, estima-se que apenas 14% das crianças dos zero aos 14 anos que vivem com o VIH está em tratamento com anti-retrovirais.
O estigma, a discriminação, a não-aceitação e a falta de conhecimento ou de informação sobre a doença, são ainda desafios que se enfrentam no combate a esta endemia.
“As estatísticas e os factos acima mencionados preocupam-nos, assim, a campanha “Nascer Livre para Brilhar” pretende reduzir a taxa de transmissão do VIH de mãe para o filho, de 26%, em 2019, para 14%, em 2021, aumentar a utilização do preservativo pelos jovens dos 15-24 anos e melhorar a qualidade dos cuidados pediátricos até 2021″, disse Ana Dias Lourenço.
De acordo com a primeira-dama, é obrigação das pessoas envolvidas no plano consciencializar a população e as famílias, em particular as mulheres em idade fértil, grávidas, adolescentes e jovens, sobre “o que pode ser feito para prevenir a transmissão do VIH da mãe para o filho”.
“Vamos abordar o estigma e discriminação relacionados ao VIH, nas escolas, igrejas e na comunidade”, disse Ana Dias Lourenço, lembrando que esses males fazem com que muitas grávidas vivendo com o VIH não beneficiem dos serviços de saúde disponíveis.
Ana Dias Lourenço pediu a colaboração das organizações da sociedade civil, dos líderes religiosos, das autoridades tradicionais, entre ouros, na execução do Plano Operacional de Prevenção da Transmissão do VIH de Mãe para o Filho 2019-2021.
Na apresentação do referido plano, a directora do Instituto Nacional de Luta contra a Sida, Lúcia Furtado, recordou que a prevalência nacional de VIH é de 2%, contudo, as províncias de fronteira apresentam uma prevalência até três vezes mais do que a média nacional, como é o caso do Cunene (6%). Segundo Lúcia furtado, as mulheres têm uma prevalência de 2,1% e os homens uma prevalência de 1,2%.
“Em Angola estima-se que 300 mil pessoas vivam com o VIH, destas 190 mil são mulheres e destas 21 mil estima-se que sejam gestantes seropositivas e 120 mil são crianças dos zero aos 14 anos”, disse a responsável. Sobre novas infecções em crianças, a directora indicou que as estimativas apontam para 5.500 que nascem já contaminadas.
Lúcia Furtado referiu que apenas 54% das pessoas que iniciam o tratamento com anti-retrovirais dão continuidade até um ano, enquanto os restantes abandonam o tratamento por vários motivos.
Folha 8 com Jornal de Angola