ENFERMEIROS EM GREVE COM IMPACTO

A greve de enfermeiros de Luanda arrancou hoje, com 95% de adesão, segundo dados do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem, que denunciou casos de coacção de profissionais em alguns hospitais e centros de saúde.

Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral daquela organização sindical, António Afonso Kileba, adiantou que a greve está marcada até sexta-feira, realçando que não é desejo dos enfermeiros continuar com o protesto.

“O nosso objectivo é resolver os problemas e não fazer a greve, que surgiu em função da insatisfação de não resolverem os problemas, mas se a entidade empregadora hoje disser que as coisas estão resolvidas para melhores condições de trabalho, a greve termina em três minutos, não tem problema nenhum”, referiu.

Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem, está agendada para terça-feira uma assembleia de trabalhadores, para a entidade empregadora apresentar aquilo que é o seu ponto de partida para resolver os problemas na prática.

O sindicalista referiu que o caderno reivindicativo foi apresentado no dia 17 de Fevereiro de… 2020 e esta é a primeira greve que realizam, depois de várias moratórias solicitadas, mas sem cumprimento dos prazos.

Num caderno de 14 pontos de reivindicativos, destacam-se os aumentos salariais, a revisão dos índices salariais, a aprovação do subsídio de horas acrescidas extraordinárias, alimentação, transporte e segurança nas unidades sanitárias e concurso público na ascensão de categorias.

“No total são 14 pontos que o caderno tem e nenhum deles satisfeito desde a apresentação do caderno até à sua negociação”, salientou, garantindo que a adesão à greve ronda os 95%.

António Afonso Kileba denunciou, por outro lado, “atitudes musculadas” por parte da entidade empregadora, que está alegadamente a obrigar os profissionais a trabalhar.

Como exemplos, apontou casos em Viana, no Cazenga e nos centros de Saúde de Mbondo Chapé, aconselhando os colegas que estão “de banco”, “caso continuem a coagir os trabalhadores”, a suspenderem os serviços mínimos.

A greve afecta todos os hospitais provinciais, municipais, centros e postos de saúde dependentes da província de Luanda.

Recorde-se que em Março de 2018, o Ministério da Saúde de aprovou a admissão de 5.085 novos profissionais, entre os quais 2.475 médicos, 1.310 enfermeiros, 800 técnicos de diagnóstico e terapeutas e 500 profissionais de apoio hospitalar.

De acordo com uma nota de imprensa, a proposta de distribuição de profissionais a serem admitidos no âmbito do reforço do Orçamento Geral do Estado de 2018, foi discutida numa recente reunião orientada pela ministra da Saúde, Sílvia Lutukuta.

Segundo o documento do Ministério da Saúde, a província de Luanda iria absorver o maior número de profissionais a serem admitidos, um total de 1.047, entre médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e de apoio hospitalar, seguido da província da Huíla, com 489 profissionais.

A admissão de novos médicos, afirmava o Ministério da Saúde, “irá contribuir para regularização dos problemas da carreira e a elevação do rácio angolano de um médico para 4.000 habitantes”.

“A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um médico para cada 1.000 habitantes o que obrigará a formação contínua de novos médicos”, acrescentava o departamento ministerial.

Em Janeiro desse ano, a ministra de Saúde, Sílvia Lutucuta, revelou que Angola contava com 6.400 médicos para uma população na altura de cerca de 28 milhões de habitantes, número considerado insuficiente pela governante defendendo na ocasião, “maior aposta na formação de quadros”.

“A quota de distribuição por província, que teve como parâmetros de atribuição o rácio populacional, a realidade social, bem como a rede sanitária de cada uma”, esclarecia a nota.

Deste modo, a província de Cabinda deveria contar com 82 médicos, 36 enfermeiros, 22 técnicos de diagnósticos e terapeutas e 14 novos técnicos para o apoio hospitalar, Zaire com 52 médicos, 30 enfermeiros, 19 técnicos de diagnóstico e terapeuta e 12 outros para apoio hospitalar.

Já a província do Bengo deveria contar com 33 novos médicos, 19 enfermeiros, 12 técnicos de diagnóstico e terapeuta e 7 técnicos para apoio hospitalar, Benguela com 221 médicos, 111 enfermeiros, 68 técnicos de diagnóstico e terapeuta e 42 outros para apoio hospitalar.

Do total de 2.475 novos médicos, entre internos complementares e especialistas, a serem admitidos pelo país “ainda na primeira quinzena de Março de 2018”, a província do Bié deveria contar com 149 médicos, a do Cunene com 87 médicos, o Huambo com 208, Cuando-Cubango com 106, o Cuanza Norte com 58, o Cuanza Sul com 173 e a Lunda Norte com 95 novos médicos.

Para a província da Lunda Sul deveriam ser admitidos 67 médicos, em Malanje 86, no Moxico 86 médicos, Namibe 44 e no Uíge um total de 148.

Os 1.310 enfermeiros, 800 técnicos de diagnósticos e terapeutas e 500 profissionais de apoio hospitalar a serem admitidos neste processo, referia o documento, seriam distribuídos nas 18 províncias de Angola.

Folha 8 com Lusa

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