Angola e Turquia têm um volume de negócios de 250 milhões de dólares (215 milhões de euros) que ambos pretendem alargar para mais de 1.000 milhões de dólares (862 milhões de euros), anunciou hoje fonte empresarial.
A informação foi transmitida hoje pelo presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comércio e Indústria Angola e Turquia (CCIAT), Fernando Filó, enaltecendo a “nova era da parceria estratégica”, entre ambos países, no âmbito da visita do Presidente turco a Angola.
Recep Tayyip Erdogan, que chegou na noite deste domingo a Luanda, inicia, a partir de hoje a sua visita oficial a Angola, devendo manter encontro com o Presidente angolano, João Lourenço (bem como com o Presidente do MPLA e o Titular do Poder Executivo), visitar algumas instituições e participar de um fórum empresarial.
Em declarações à Lusa, Fernando Filó deu conta que a presença do estadista turco em Angola representa que ambos os países “mantêm uma das parcerias mais estratégicas, que se deve consubstanciar no reforço da cooperação bilateral”, após João Lourenço ter visitado a Turquia em menos de dois meses.
“E estamos muitos felizes com esta visita. Temos hoje um volume de negócios de 250 milhões de dólares, mas a nossa pretensão é aumentar nos próximos anos para mais de mil milhões de dólares”, sublinhou o presidente da CCIAT.
Segundo o líder empresarial, Angola exporta para a Turquia derivados de petróleo “e, neste momento, frisou, decorrem esforços para exportarmos para aquele país outras potencialidades como mármore e produtos agrícolas”.
Apesar de Angola “não possuir ainda investimentos de grande dimensão” na Turquia, explicou, Luanda importa daquele país sobretudo produtos têxteis, nomeadamente roupas, tapetes e produtos do sector mobiliário.
Para Fernando Filó, serão “cimentados os acordos recentemente firmados em Ancara” e Angola vai igualmente “mostrar o potencial que tem para atrair mais investimento turco”.
“E implica que, da parte da Turquia, há toda necessidade de eles olharem para o nosso país como um potencial económico, porque Angola precisa de investimento sustentável nos sectores agrícola, pescas, transportes, energia e águas, e outros”, notou.
“Ou seja, precisamos de indústrias transformadoras para empregar número considerável de jovens formados que precisam de emprego e acho que essa cooperação chegou em boa hora”, realçou.
O líder da CCIAT disse igualmente que ambos os países têm relações bilaterais e de cooperação desde 1991, mas, agora, reafirmou, “estamos numa nova era”.
Recorde-se que João Lourenço propôs, no dia 28 de Julho, na Turquia “uma cooperação estratégica” entre os dois países, pedindo mais investimento privado turco em Angola que ajude na diversificação da economia. É de crer, apesar de tudo, que os turcos irão fazer uma forte aposta, que contraria a ancestral tese do MPLA, na agricultura, implementando a regra de plantar as couves com a raiz… para baixo.
“Angola pretende fortalecer as suas relações económicas, financeiras e empresariais com a Turquia e estabelecer as bases de uma cooperação estratégica entre os dois países”, afirmou João Lourenço no Fórum Empresarial Angola-Turquia, que decorreu durante a sua visita a Ancara.
O objectivo é claro: “Pretendemos atrair investidores da Turquia que tragam à nossa economia não só capital financeiro e tecnologia avançada, mas que tragam sobretudo ‘know-how’, que nos permita diversificar e aumentar com rapidez e eficiência a produção interna de bens e de serviços”.
O chefe de Estado angolano salientou que Angola tem vindo a realizar “reformas económicas e financeiras, com vista à estabilização macroeconómica, criando as condições para um crescimento em bases mais sustentadas”.
O líder do MPLA, também Titular do Poder Executivo, salientou as “medidas legais de simplificação e facilitação de processos burocráticos”, a melhoria do “ambiente de negócios”, procurando atrair para Angola “um maior volume de investimento privado estrangeiro”.
A nova legislação sobre o investimento privado, assim como a política cambial, “reduziram drasticamente os entraves ao investimento e garantem maior protecção legal aos investidores estrangeiros, permitindo-lhes transferir para o exterior os seus dividendos e lucros, em tempo oportuno”, recordou o governante.
No encontro, os dois Governos assinaram um Acordo de Promoção e Protecção Recíproca de Investimentos, “um instrumento legal que vai dar maior confiança e segurança jurídica aos investidores” dos dois países.
Além de áreas tão diversas como a agro-pecuária, silvicultura, pescas, recursos minerais ou turismo, João Lourenço admitiu que Angola tem um “particular interesse em acolher investimentos de empresas turcas na área da indústria de produção de materiais de construção, montagem de automóveis e motorizadas, de produtos electrónicos e electrodomésticos”, entre outras prioridades.
Hoje em dia, “já contamos com alguns investimentos turcos de grande dimensão, particularmente na exploração do minério de ferro e produção do aço”, mas “dispomos de outros minérios, como o ouro, o cobre, e metais raros por explorar”, salientou o governante angolano, que falou também no pacote de empresas públicas a privatizar.
Os concursos públicos para construção e gestão de equipamentos foram outros dos destaques de João Lourenço no seu discurso aos empresários turcos. Hoje, Angola tem um “ambiente de estabilidade e segurança prevalecente”, com “elevado potencial de rentabilidade”, resumiu João Lourenço.
Os investimentos turcos em Angola atingem actualmente 200 milhões de dólares (Fernando Filó juntou-lhe já mais 50 milhões), valor que o Presidente angolano espera aumentar a médio prazo.
João Lourenço e Recep Erdogan assinaram dez acordos bilaterais, entre os quais um relativo às ligações aéreas entre os dois países, que permitirá às respectivas companhias aéreas de bandeira, Turkish Airlines e a TAAG, ligarem Luanda e Istambul.
Outros acordos relevantes concluídos em Ancara referem-se à supressão de vistos em passaportes de serviço, diplomáticos e especiais e à protecção recíproca de investimentos.
A presidência angolana dá também conta da abertura de uma linha de crédito turca através do Eximbank “para impulsionar a relação económica bilateral”
O órgão oficial do MPLA, Jornal de Angola, adianta que se trata de uma linha de financiamento para execução de empreitadas públicas de infra-estruturas contratadas pelo Estado angolano.
Entre 2015 e 2020, Angola comprou à Turquia bens no valor de 1,7 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros), enquanto as exportações angolanas para a Turquia não superaram os 42 milhões de dólares (35 milhões de euros).
Nos últimos 18 anos, a Turquia aumentou consideravelmente a sua presença em África, passou de apenas 12 embaixadas e investimentos na ordem de 100 milhões de dólares (85 milhões de euros) em 2003 para 42 embaixadas e cerca de 6,5 mil milhões de dólares (5,5 mil milhões de euros) de investimento directo em 2021.
No período de 2003 a 2019, o comércio com África aumentou cerca de cinco vezes e 51 cidades africanas são agora servidas pela Turkish Airlines, que prevê iniciar ligações directas com Angola.
Num exemplo anterior à visita de João Lourenço, recorde-se que a Raff Military Textile, empresa turca, previa instalar-se em Angola, através de uma parceria com a empresa angolana Alaide Têxtil, para dar resposta às necessidades locais e regionais em matéria de equipamento militar de alto padrão.
De acordo com uma nota do Ministério da Indústria e Comércio, a intenção foi abordada no dia 20 de Janeiro deste ano numa reunião entre os representantes das duas instituições e o titular da pasta da Indústria e Comércio angolano, Victor Fernandes, que manifestou a abertura do país para todo o tipo de investimento, que visa ajudar o Governo angolano no seu objectivo de diversificar a economia.
A Raff Military Textile, empresa especializada na produção de equipamentos para as forças de defesa e segurança, pretende adquirir localmente a matéria-prima, desde que a capacidade instalada responda às suas necessidades de produção.
Além de fornecer vestuário militar e de polícia da Turquia, a empresa atende igualmente a Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) e países como a Geórgia, Albânia e Iraque.
Ao instalar-se em Angola, a empresa poderá igualmente garantir respostas às solicitações que tem recebido de outros países da região, nomeadamente a Zâmbia, África do Sul, Namíbia, Congo, Marrocos, Argélia, Guiné Equatorial, Líbia, Senegal, Chade, Togo, Mauritânia, Mali e Sudão.
No dia 6 de Fevereiro de 2018 o então ministro da Estado e Chefe da (famosa) Casa de Segurança do Presidente da República, general Pedro Sebastião, falou da possibilidade das Forças Armadas serem auto-suficientes no provimento das suas necessidades principais em termos logísticos no que respeita à produção alimentar, mediante projectos agro-pecuários bem concebidos, destinados, numa primeira fase, ao autoconsumo. Por outras palavras, deviam trocar as armas por enxadas, as balas por sementes. Não estava mal, reconheça-se.
Pedro Sebastião, um perito com estágio no exército colonial português, informou na altura que o Comandante-em-Chefe das FAA, João Lourenço, já colocara à disposição meios para as tornar auto-suficientes e, em alguns domínios, contribuir para a poupança de divisas, diversificação da economia e criando empregos.