A UNITA, que integra a oposição política que o MPLA ainda permite, criticou hoje o que considera de partidarização do ensino em Angola, “com o cunho evidenciado de partido único e comunista”, referindo que as “debilidades” no sistema “colocam em risco a soberania do país”. A malta do “Galo Negro” está a esticar a corda. Se calhar querem que Agostinho Neto (o assassino responsável pelos massacres de 27 de Maio de 1977) deixe de ser o único herói nacional…
Para a UNITA, a história de Angola é escrita “numa perspectiva partidária cujo conteúdo relata factos baseados em princípios não nacionais, mas estrangeiros e partidários”. É mesmo assim, o que aliás se compreende. Se o MPLA é Angola e Angola é (d)o MPLA, não pode ser de outra forma.
“Hoje, os nossos alunos conhecem mais Fidel de Castro de Cuba a Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi. São muito poucos os alunos que conhecem as grandes figuras históricas e heróicas do nacionalismo angolano”, afirmou o “ministro” da Educação do “Governo Sombra” do maior partido da oposição, Manuel Correia.
As “debilidades que se verificam actualmente” no sistema de ensino primário, secundário e universitário, “colocam em risco inclusive a soberania do país”, disse.
O responsável, que falava em conferência de imprensa sobre o (mau) estado da educação e ensino em Angola, considerou que o sector da educação “enfrenta problemas estruturantes, desde a falta de qualidade aceitável nas classes iniciais à venda de vagas para o acesso” ao sistema de ensino.
“O problema não se esgota no ensino primário, mas eleva-se até ao ensino médio, sem poupar o superior. A situação, realmente, coloca em causa o futuro do país e dos cidadãos no seu todo, porque os alunos que estão a ser malformados hoje serão professores amanhã”, apontou. Mais do que isso. Se forem do MPLA até podem ser ministros e falar de “compromíssios” ou até Presidentes da República e dizer: “Se haver necessidade”…
Cursos de matemática, biologia, física e química terão sido encerrados no ensino técnico profissional em Angola por “falta de laboratórios” nas escolas de formação de professores, segundo Manuel Correia, que citou o secretário de Estado da Educação, Gildo Matias.
O Ministério da Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação angolano anunciou, na terça-feira, a “descontinuação” dos cursos de pedagogia, psicologia e filosofia, para a formação de professores, por “deixarem de responder às necessidades” do sistema educativo.
Segundo o secretário de Estado para o Ensino Superior, Eugénio Alves da Silva, os cursos “já não respondem do ponto de vista de perfil e do ponto de vista empregabilidade às necessidades do sistema educativo”.
O executivo angolano ao tomar esta decisão, observou o “ministro” do “Governo Sombra” da UNITA, “revela desconhecimento total da importância e a finalidade da educação e ensino na vida do homem e da sociedade em geral”.
“Daí a razão de desvirtuar os currículos do ensino com o fito de manter a ignorância do povo, para melhor dominá-lo e, concomitantemente, conservar o poder”, referiu Manuel Correia.
É mesmo isso. O grau de submissão do povo é directamente proporcional à ignorância e também, o que não é despiciendo, à barriga… vazia.
“Politicamente falando, o MPLA (no poder desde 1975) não acrescentou nada à educação dos angolanos, pelo contrário, subtraiu nela todos os valores agregadores”, frisou.
O político da UNITA considerou também que “nada justifica, absolutamente nada, a retirada destes cursos sob pretexto da não existência de laboratórios”, pois “os laboratórios constroem-se, os técnicos para os laboratórios formam-se”.
Manuel Correia criticou ainda os recentes decretos presidenciais que autorizavam a canalização de “milhões de kwanzas” para a construção de estradas, questionando “se é tão difícil alocar dinheiros para a aquisição de laboratórios”.
“A UNITA pensa ser extremamente necessário que se criem políticas e métodos que visem melhorar a qualidade de ensino, quer no casco urbano como também no meio rural, melhorar o investimento na educação, o que passa pela valorização dos quadros, incentivos salariais”, concluiu o político da UNITA.
Recorde-se que o Presidente da República, João Lourenço, exigiu (voltou a exigir, continuará exigir, dirá sempre que exige) mais qualidade no ensino e considerou a formação do homem como uma aposta para “corrigir muitas deficiências” que o sector enfrenta.
Tem razão. E, reconheça-se, não é por culpa do MPLA que só está no Poder há… 45 anos. Se “haver” necessidade, repita-se, os angolanos aceitam um “compromíssio” para assim continuar por mais 55 anos.
Ao falar na cerimónia de posse do secretário de Estado para o Ensino Secundário, Gildo Matias José, o Chefe de Estado defendeu um grande investimento nos ensinos primário e secundário, na perspectiva do país ter quadros bem formados.
Provavelmente Angola pode contar (como aconteceu com os médicos) com a ajuda de professores cubanos, velhos amigos do MPLA a quem, recorde-se, ajudaram a matar angolanos, tenha sido no 27 de Maio de 1977 ou durante a guerra civil.
O também Titular do Poder Executivo disse que o homem tem que ser formado e que o país tem que ter a coragem de vencer o populismo e as correntes que defendem que todo o cidadão angolano pode ser doutor. Certo. Também podem ser generais ou, provando ter o cérebro no intestino, ser militantes do MPLA e assim serem ministros.
“Todo o cidadão angolano tem esse direito, mas não basta ter esse direito, é preciso que trabalhe no sentido de se qualificar para poder atingir o nível superior”, sustentou, alertando que para o país se destacar no “ranking” das universidades africanas e mundiais, a aposta tem que começar nos níveis mais abaixo, sob pena de se comprometer o futuro. Deveria também institucionalizar o primado da competência e não apenas, como nas últimas décadas, o da subserviência canina ao MPLA.
Estávamos em Julho de 2019. Representantes de associações cubanas, em Angola, defenderam, em Luanda, a necessidade dos governos dos dois países reforçarem a cooperação no domínio da educação, por ser a chave para o desenvolvimento económico e social. Repetimos. Ninguém melhor do que os cubanos para, por exemplo, ensinar os angolanos e falar e a escrever em… português. Veja-se o exemplo do Presidente do MPLA ou da ex-ministra da Educação, Ana Paula Elias.
Em declarações à Angop, o presidente da Associação da Comunidade Cubana Residente em Angola (ACRA), Carlos Moncada Valdez, sugeriu que as autoridades angolanas explorem mais o potencial cubano nesse sector (educação).
O presidente da ACRA referiu que o fortalecimento dos laços na educação, entre os dois países, devia priorizar o ensino especial, de modo a permitir maior inclusão de crianças com deficiências funcionais.
Esperanza Silva, representante da associação das famílias cubano-angolanas residentes em Angola, sublinhou que a ajuda cubana deve incidir na escolaridade básica e, desta forma, evitar que crianças fiquem fora do sistema de ensino.
Para aumentar a sua capacidade de resposta, Angola contratou expatriados cubanos para instituições de ensino superior públicas, de forma a “suprir a falta de especialistas com conhecimento e experiência necessária”, indicava um despacho presidencial.
O despacho assinado pelo Presidente da República, João Lourenço, autorizou o lançamento do procedimento de contratação simplificada para a assinatura “de dois contratos de aquisição de serviço docente de especialistas de nacionalidade cubana”, para ministrarem aulas em universidades públicas.
Em Outubro de 2017 foi noticiado que Angola previa gastar quase 55 milhões de euros com a contratação de professores cubanos para leccionarem no ensino superior público do país no ano académico de 2017.
A informação resultava de dois despachos de então, do Ministério do Ensino Superior, homologando contratos com a empresa Antex, que assegura o recrutamento de especialistas cubanos para leccionarem nas universidades do país, ao abrigo do acordo de cooperação entre os dois governos na área de formação de quadros.
De acordo com o primeiro destes despachos, a Antex foi contratada para recrutar professores do ensino superior, por 37,2 milhões de dólares (31,5 milhões de euros), e especificamente, com o segundo, para docentes para os cursos afectos à área da Saúde, neste caso por 27,4 milhões de dólares (23,2 milhões de euros). Tratava-se de praticamente a mesma verba que o Estado angolano desembolsou, para o mesmo efeito, no ano académico de 2016.
Com a psicose oficial pelo sistema de ensino de Cuba, Angola optava mais uma vez por ter clones cubanos e fazer de professores. E como Cuba é uma potência mundial em matéria de ensino a coisa promete…
No dia 1 de Fevereiro de 2018, o Presidente João Lourenço disse, em Moçâmedes, província do Namibe, que os desafios da educação e do ensino aumentaram, sendo uma prioridade para o sector social, pelo que deve ser maior a aposta na formação de recursos humanos.
Para além de ser uma verdade de La Palice foi, fazendo fé no Orçamento Geral do Estado, uma séria candidata ao pódio do anedotário nacional.
João Lourenço, que discursava então no acto de abertura oficial do ano lectivo de 2018, referiu que um maior investimento nos recursos humanos é a única via se se pretende “realmente tirar o país do lugar em que se encontra em relação aos indicadores do desenvolvimento humano e económico”.
Que o MPLA (partido no poder desde 1975) não quer tirar o país do péssimo lugar em que, neste como noutros sectores, se encontra já todos sabemos. E como o governo é filho do MPLA… o melhor é esperar sentado.
“O Governo vai continuar a incluir na sua agenda a protecção e valorização das crianças e da juventude, promovendo a oportunidade de acesso à escolaridade e à formação profissional ao longo da vida. Vamos encarar a educação como um direito constitucional e trabalhar para garantir o pleno funcionamento das instituições escolares, contando para tal com a contribuição de todas as forças vivas do nosso país”, disse João Lourenço.
Fica então certo, e não há razões para duvidar da palavra do Presidente, que o Governo “vai encarar a educação como um direito constitucional”. Vai. Isto porque, até gora, não conseguiu ir… E quando João Lourenço nos fala de “protecção e valorização das crianças”, refere-se às que escaparam ao índice que nos coloca no topo dos países com mais mortalidade infantil.
De uma coisa o MPLA/Estado/Governo está certo. A Síndrome do MPLA (versão angolana da Síndrome de Estocolmo) funciona e mais uma vez dará resultados. Ou seja, o estado psicológico dos angolanos, depois de tantos anos submetidos a um prolongado estado de escravidão, começa a mostrar simpatia, ou até mesmo amor, pelos carrascos.
Folha 8 com Lusa